CAPÍTULO QUATRO

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          Como em um coro, escuto meu nome ser dito junto a todo tipo de reação. Gritos. Risadas. Choros. O que quer que esteja acontecendo, de alguma maneira, sou a responsável.
          —Desculpe o nosso entusiasmo, Dolores. Há anos esperamos o seu retorno. — diz uma voz que se destaca das demais.
          —Esperamos?
          — Sim, os objetos desta casa.
          Há algo muito errado comigo.  
          —Mais alguém escuta vocês? — decido encorajar à loucura.
          — Não. Só Sankh são capazes de ouvir.
          Sorrio um sorriso murcho em resignação e a tidade deve ter percebido minha expressão, já que continuou a explicar.
           — Sankh. É o povo originário de Qwifir. Abigail deve ter mencionado algo.
            — Você conhece minha mãe?
            — Sua mãe se chama Lavihna. Abigail é a responsável por sua segurança aqui.
          Até aquele momento nem liguei por estar escutando vozes, mas não admito que qualquer pessoa, animada ou não, fale mal de minha mãe. Só eu sei detodo o sacrifício que ela fez para me criar. Não! Eu não deixarei que maculem sua imagem.
          Saio batendo os pés, como sempre faço se fico frustrada com algo,  mas a porta está emperrada. É só o que me falta ter que ficar ouvindo todos os objetos de uma casa.
          Estudo o ambiente e desanimo. Não há outra forma de sair, exceto caso eu quebre alguma das janelas, eu estou com raiva, mas não quero correr o risco de ser expulsa desse paraíso logo no primeiro ia.
          A porta se abre de repente e no limiar surge uma mulher que parece emergir de um jardim encantado, envolta em flores e cercada por uma bruma misteriosa. A desconhecida possui cabelos avermelhados de um tom profundo e radiante que captura a luz de maneira hipnotizante. Os cachos são espirais perfeitas, caindo em cascata sobre seus ombros de forma tão natural que parece que a própria natureza moldou seu penteado.
           Nunca! Nunca mesmo eu consegui resultado igual. Meu cabelo sempre se comportou como se cada fio odiasse seu vizinho. Que inveja.
          O bosque ao seu redor é um espetáculo da natureza. As rvores se erguem majestosas, seus troncos grossos e retorcidos como pilares de um antigo templo. Folhas de tons vibrantes pendem das copas, criando um mosaico de cores que parece ter saído de um sonho. O perfume das flores no ar é doce e envolvente, e o som de um riacho próximo completa a sinfonia da natureza.
          A mulher me chama de filha, com uma voz gentil, e suas palavras provocam um redemoinho de pensamentos contraditórios em minha mente. Quero gritar, exigir respostas, mas há algo naquels olhos cinzas, uma familiaridade que me intriga.
          — Filha! — ela sussurra uma vez mais, e agora posso ver uma tristeza profunda em seus olhos cinzentos. Minha raiva diminui um pouco, substituída por uma ponta de compaixão, afinal, quem quer que ela seja, parece carregar uma carga emocional pesada. Ainda assim, a confusão persiste, e não sei o que pensar ou como reagir.
            — Quem é você? —Minha voz sai trêmula. — O que você quer?
Ela sorri, um sorriso que parece carregar séculos de sabedoria.
            — Alguém que estava esperando por você, Dolores Esperando há muito tempo.  — Minha mente gira em busca de respostas, mas tudo o que tenho são perguntas.  — O que você quer? — Minha curiosidade começa a superar o medo enquanto me aproximo dela, ainda mantendo uma distância segura.
          Ela estende a mão de maneira suave e toca meu rosto, e uma sensação estranha e reconfortante percorre meu corpo.
          — Você é especial, Dolores. Especial de uma maneira que nem imagina. Eu estava esperandoo momento certo para nos encontrarmos.
         — O que você quer de mim? - Minha voz está mais firme agora, mas ainda carrega uma nota de desconfiança.
         Ela me olha nos olhos e diz:
         — Quero ajudá-la a descobrir quem você é. E quero que entenda seu verdadeiro destino.
          Suas palavras ressoam dentro de mim, e por um momento, me pergunto se deveria confiar nla ou fugir, mas não tenho a chance de agir, pois algo gosmento atinge meu rosto e só depois de passar as mãos pela testa é que percebo estar coberta de sangue.
          Tentando limpar a textura recém-chegada, vejo quando uma mulher de cabelos cor-de-chocolate emerge das sombras, como uma chama viva em meio à escuridão.        Sua espada, manchada de vermelho, reluz à luz fraca do ambiente.
           Com olhos cinzentos que emitem um brilho sobrenatural, ela celebra com uma expressão de êxtase, degustando o sangue que escorre de sua lâmina com uma satisfação doentia. Cada gota caindo ao chão parece uma batida de tambor sinistra, criando uma trilha sonora macabra para o cenário sombrio.
          Me encolho por reflexo com a respiração entrecortada pelo medo que me assombra. Contudo, antes que eu possa processar o que está acontecendo, a desconhecida se vira na minha direção, seus olhos se fixando nos meus com uma intensidade que faz meu coração disparar. Um sorriso cruel curva seus lábios, e suas palavras ecoam no silêncio.
           —Você é a próxima, Dolores.

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