9 - Andrew Washington

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Sim, ninguém consegue vencer uma batalha contra Scotty Washington, mas isso não se aplica a mim. Eu vou vencer meu pai.

--- Se continuar se comportando como um bebê mimado, eu vou tirar tudo de você --- disse, do outro lado da linha.

Levei o carro até outra via, pois a primeira está engarrafada e preciso ir a uma reunião. Acredito que talvez tenha havido um acidente. Piso no acelerador, mas não vou muito longe, por que um idiota se colocou na minha frente. Caralho!

--- Você está me ouvindo? --- meu pai vociferou. --- Vou dar tudo o que é seu para o seu primo. Tem ideia do quanto você humilhou a sua família, Andrew?

--- Eu casei com a garota, o que mais você quer? --- eu nunca perco o controle.

--- O que eu quero? --- ele deve ter rido. --- Você devia estar colocando um bebê na barriga dela.

A menção de um bebê me faz arrepiar. Não quero porra nenhuma de bebê. Sim, eu disse que faria isso, mas eu estava mentindo.

--- Se você não voltar para a sua casa, para a sua esposa, ainda hoje, Andrew, a sua mãe vai pagar --- ameaçou.

--- Pai! Pai! --- ele desligou. --- Droga!

Bato no volante com toda força, depois dou meia volta no carro, estou pouco me importando com a multa. Piso no acelerador e vou para o aeroporto. Não preciso pegar nada além do meu passaporte, mas não quero voltar para o apartamento, então mando uma mensagem para Ana, minha secretária, pegá-lo para mim.

Meu coração está batendo tão rápido que consigo ouvi-lo atrás do meu ouvido. Não, ele não pode tocar na minha mãe. De novo não, por minha causa não. Acelero o carro e não demora para eu chegar no aeroporto. Não dá tempo de avisar ao meu piloto, então vou com o avião comunitário.

O vento está fazendo uma bagunça no meu cabelo, então, eu o afasto com os dedos e fico esperando Ana do lado de fora, também já está tarde e frio, porém, é tudo pela minha mãe. A vejo descendo de um Lexus e corre na minha direção.

--- O senhor está viajando? --- pergunta o óbvio. --- Sim, claro. Quando o senhor volta?

--- Talvez em uma semana --- digo. --- Cancele todos os meus compromissos até lá. --- Ela assente. --- Tome. Leve o meu carro para o meu apartamento.

Ela recebe as chaves e eu vou para a zona de embarque. Acabei de comprar a passagem do vôo que vai agora mesmo para os Estados Unidos.

°°°°

Acabei de desembarcar e mandei uma mensagem para Enzo vir me buscar. Aparentemente, ele acabou tirando umas férias e ficará por aqui por mais algum tempo. Foram longas 08 horas e 22 minutos de viagem e dizer que estou cansado é um eufemismo.

São, aproximada, 16 horas. O sol está meio fraco e o vento é seco e quente, mas os Estados Unidos ainda é minha casa e só de estar aqui já me sinto melhor, como se eu pudesse, de facto, respirar.

--- Ei, cuzão! --- ouço.

Enzo sabe que não gosto de palhaçadas, mas ele insiste nessa merda. Vou em direção a sua Ferrari e abro a porta do passageiro. Deixo o vidro aberto e encaro o cabeção de olhos azuis.

--- Senti sua falta, mano --- disse.

--- Nem faz três dias desde a última vez que nos vimos --- digo.

--- Sempre amoroso --- debocha.

Enzo pisa no acelerador. Acho que a pessoa que conduz pior do que eu: é ele. Eu só vim pela minha mãe, estou me fodendo para o neto e para a garota.

--- Então, tomou juízo? --- pergunta.

--- Não fode --- ele ri. --- Me leva para a minha casa.

Estou casando demais para conversar. Eu não consigo entender por que minha mãe continua com meu pai. É pelo dinheiro? Eu tenho dinheiro. Ela o ama? Talvez, mas eu duvido.

--- Cara --- Enzo me chama, eu o olho com preguiça. --- Você precisa ver sua esposa.

Bufo.

--- Minha esposa --- essa expressão é pesada demais para mim. --- Como vai a sua esposa?

--- Bem. Sempre linda, receptiva, aperta...

--- Ok. O "bem" já está óptimo.

Enzo entra na minha rua. Na rua onde eu não fico há dois.

--- Eu queria tanto fazer uma despedida de solteiro para você --- conta.

--- Cara, eu sou solteiro --- digo e Enzo ri. --- Obrigado, pela carona.

--- Boa sorte com a esposa.

Estou sem as chaves, então toco a campainha e demora uns três minutos antes que Lucy abra a porta para mim. Seus olhos brilham e ela parece um pouco mais velha desde a última vez que a vi.

--- Bem vindo, senhor --- ela diz toda feliz. É uma mulher que esteve presente na minha infância, então eu a respeito muito.

--- Obrigado, Lucy. Como vão as coisas?

--- Acho que o senhor imagina.

Eu já lhe pedi para me chamar de Andrew e me tratar por você, mas ela é teimosa. Dou um beijo em sua testa e decido que vou tomar um banho, comer, e só depois conversar com meu pai. Ele já me fez casar, não pode ficar controlando minha vida como se fosse um maníaco.

Pulo alguns degraus da escada, mas paro no meio ao perceber que no fundo sempre senti falta da minha casa. Está tudo conforme deixei. Giro a maçaneta da porta do meu quarto e ela se move. Assim que abro a porta, a luz acende com o sensor de temperatura, corro o quarto com os meus olhos, encontrando um tufo de cabelos castanhos bagunçados, amontoados no topo da cabeça. Deve ser a minha esposa, esse pensamento me faz rir de amargura. Ela faz um som... Fofinho, ao se virar, mas não acorda.

A ignoro e vou para o banheiro. Não vou demorar, só alguns minutos. Deixo o óculos na pia e tiro toda minha roupa, vou para debaixo do chuveiro, coloco o sabonete no cabelo e o esfrego. O cheiro é tão reconfortante a massagem é revigorante.

Quando termino, pego duas toalhas pretas, uma que amarro na cintura e a outra para enxugar o cabelo. Assim que saio do banheiro, um par de olhos castanhos está me encarando como um bebê vendo uma coisa nova. O cabelo dela está uma confusão que me faz querer rir, mas meus olhos são atraídos para o seu ombro, uma das alças está fora do lugar e não sei por quê, mas fico com vontade de tirá-la completamente.

Ela parece perceber que a estou encarando, então puxa o lençol até o pescoço. Ela é muito fofa. Desvio o olhar e continuo enxugando o cabelo. Entro no closet, as coisas dela estão ocupando uma pequena porção, praticamente insignificante, do meu espaço. Visto uma cueca preta, uma calça jeans escura e camiseta Lacoste azul, depois pego um par de meias e minha Air Jordan preta para calçar, mas assim que chego ao quarto não encontro a fofinha. Mas, estou ouvindo o chuveiro.

Termino de calçar e quando ia sair, lembro que meu celular está na calça e a calça está no banheiro, então vou pegá-lo.

AGAINOnde histórias criam vida. Descubra agora