45 --- Kíria

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Eu olho para o ecrã do computador, depois de várias tentativas para dormir, então deslizo o dedo pelo mouse e entro no site de notícias vendo um monte de imagens minhas e de Andrew, assim como a expansão do fogo sobre o primeiro carro que dirigi. Baixo mais um pouco no feed de notícias e encontro fotos de Éric sendo algemado e entrando no carro da polícia. Meu corpo todo arrepia e eu penso que não perdi apenas a sra. Ivy, mas Éric também.

--- Eu já falei com a polícia --- Andrew disse adentrando o espaço e segurando o celular no ouvido. --- Não irei a delegacia, eles devem vir para cá --- disse e ergueu a cabeça para mim. --- Você viu o carregador do meu computador?

--- Naquela gaveta --- apontei para a gaveta ao seu lado.

Andrew abre a gaveta e puxa o cabo preto de dentro. Volto minha atenção no ecrã do computador e as notícias apenas aumentam, algumas não são tão verídicas, então eu passo e pouso uma das pernas na cadeira e apoio o queixo sobre o joelho.

--- Você gostaria de mudar de casa? --- Andrew perguntou.

Me virei para ele.

--- Eu gosto dessa casa --- falei. --- É uma casa que você arquitetou, eu gosto disso.

--- Como você sabe que eu a desenhei? --- arregala os olhos.

Eu desvio o olhar para seus tênis preto e vejo o cachorrinho passeando aí como se fosse invisível, eu me esqueci dele por algumas horas.

--- Eu vi os seu desenhos --- respondi.

--- Todos? --- cerrou os olhos.

Ele não estava feliz, porém não está chateado. Eu levanto da cadeira e vou para o seu lado. Coloco meu cabelo para trás.

--- Sim --- eu disse. --- Eu costumo vê-los quando estou triste. É como uma válvula de escape.

--- É uma válvula de escape para mim desenhar --- ele disse me encarando. --- E nunca mostrei nenhum deles para ninguém.

--- Eu os amei a todos --- falei. --- Conheci boa parte de você neles. Eu pude entender você.

Andrew me abraçou e eu, simplesmente, amo quando ele me abraça, repentinamente. Ele afaga minhas costas e eu beijo a lateral do seu braço.

--- Você é que nem o sol para mim, Kíria --- ele disse para mim. --- Você iluminou toda a minha vida e ainda trouxe vitamina. Eu sinto muito por tudo o que você passou até aqui por minha culpa.

--- Eu acho que a gente pode ficar bem agora --- eu disse, meio convicta. --- Estou tentado lidar com os últimos acontecimentos e só tem sido possível por você estar aqui. Eu te amo, Andrew.

Nós continuamos abraçados, até o cachorro começar a chorar. Andrew se afasta e me olha com os olhos arregalados. Eu mordo o interior da bochecha.

--- O que foi isso?

--- Eh... --- sorrio travessa.

--- Kíria --- chama em tom de repreensão.

--- Bom --- pigarreio e ouço o cachorro chorar, novamente, então Andrew o vê e o bicho se esfrega na perna dele. --- Eu não pude deixá-lo, Andrew. Ele estava abandonado e sofrendo com a neve.

--- Kíria, você trouxe um cachorro para casa? --- ele parecia chateado, agora.

--- Ele não tem onde ficar --- falei, diminuindo minha voz e pousando meus braços em seus ombros. --- Por favor, amor.

A expressão no rosto de Andrew mudou para inexpressiva, e só então eu percebi do que eu o chamei. Ele soltou o ar pela boca.

--- Você está se tornando uma garota irritante --- ele disse. --- Primeiro rouba meu carro e agora traz um bicho para casa.

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