18 --- Andrew

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Assim que Kíria saiu do meu escritório, joguei o copo de whisky contra a parede, sentindo o sangue circular na veia como se fosse raiva. Eu precisava dar um basta nisso, até quando seria escravo das chantagens de Scotty Washington?

"Vi a colectiva de imprensa. Filho, você é, exactamente, igual a mim."

Não. Definitivamente, eu não sou igual a ele e é isso o que me corrói por dentro, tender a ser parecido com aquele que, maioritariamente, corrompeu minha infância e adolescência.

Me sentei na cadeira e apoiei o cotovelo sobre a mesa, massageando as têmporas. Acho que no final, uma dívida nunca é paga; se você tem uma dívida com um bandido, então, ou você se tornará como ele ou se tornará escravo dele, afinal, seres humanos nunca estão satisfeitos. Abaixei a mão e observei o círculo dourado em meu dedo, parecia que minha mão estava pensando toneladas.

Peguei meu celular e disquei o número da minha mãe, porém, meu pai estava ligando, quis ignorar, mas...

--- Você é inteligente, Andrew --- ele disse e posso jurar que está segurando um charuto.

--- Até quando você vai continuar fazendo isso? --- perguntei, irritado.

--- Bom... Até que você aprenda o que é ser um Washington de verdade --- falou.

Eu odiei meu sobrenome por muito tempo, por culpa do meu pai, mas eu amava meu avô, então, eu aceitei a única coisa dele que está, intimamente, ligada a mim.

--- Eu sou seu filho, não seu inimigo --- falei, sentindo a amargura no meu peito.

Ele ficou um tempo em silêncio, antes de dizer:

--- Então, lute do meu lado, filho.

Arregalei os olhos, não entendo o que ele estava dizendo. Se lutar ao lado dele significa machucar minha mãe e pisar na cabeça dos outros pelo poder, então não. Apertei o celular em minhas mãos, mas precisava me acalmar, então, abri o computador e liguei para Peter, meu advogado, no Skype. Minutos depois, seu rosto apareceu no ecrã e um sorriso escapou de seus lábios.

--- Andrew --- cumprimentou.

--- Como vai, Peter?

--- Bem, na medida do possível --- ele disse. --- Acabei de ver sua colectiva. Não sabia que era tão apaixonado pela sua esposa.

Revirei os olhos. Peter sabe quem eu sou.

--- Aliás, ela é linda --- elogiou.

Isso era um facto que eu estava descobrindo a cada dia. Ela é linda, delicada, cheirosa e me leva a loucura que, felizmente, tenho sido capaz de controlar. Abanei a cabeça, não querendo que minha mente vague em direção a Kíria.

--- Não vamos falar sobre minha vida conjugal --- Peter assentiu. --- Amanhã estarei em Londres.

--- Ótimo --- concordou. --- Nós, descobrimos que Marco estava transferindo a quantia para uma conta no Dubai.

--- Por quê Dubai?

Estou começando a me pergunta por que não matei aquele desgraçado.

---  É o que estamos tentando descobrir --- disse. --- Mas, amanhã você terá mais informações.

Suspirei, me recostando na cadeira de couro.

--- Obrigado, Peter.

Ele assentiu e a gente continuou falando mais algumas coisas, não mais tão profissionais, apenas como bons amigos, até que encerrei a chamada e subi para o meu quarto, precisando de um banho. Kíria não está aqui. Fui para o banheiro, jogando minhas roupas no chão, e deixei que a água fria molhasse meu corpo e descontraisse meus músculos.

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