Em busca da liberdade

Capítulo 11

Durante o crepúsculo, quando os primeiros raios alaranjados apareceram no céu roubaram a cena e deram um show de luzes.

O pequeno grupo já se via distante da cabana, mas ainda era possível avistá-la ao longe.

Ruby utiliza uma enorme capa escura feita com couro de cavalos de fogo, que era um material especial capaz de resistir a qualquer tipo de queimadura, e que os vampiros utilizam para evitar de se queimar com o sol.

Alguns gritos ao longe são ouvidos, e quando o nosso pequeno grupo se vira para ver o que era, notam vários pontos avermelhados ao longe correndo em direção a cabana, aquele brilho eram tochas dos homens que estavam aproximando-se rapidamente. Os gritos ficavam cada vez mais altos, e quanto mais se aproximavam, mais se escutava até mesmo seus passos a distância.

Cursed nota que estão vindo em sua direção, e rapidamente ordena que todos se escondam e se protejam. Sem demora, os homens passam furiosos com suas tochas e olhares ardentes em puro ódio.

O coração de Moon dispara e sua respiração está acelerada, o medo é constante, mas precisava manter a calma. A lobisomem tenta relaxar sua respiração e musculatura para não chamar atenção dos homens ao arbusto a qual está escondida.

—Vamos acabar com esses monstros! Eles não irão mais ameaçar nossas famílias. Acabem com todos! E nem adianta estes covardes fugirem ou tentarem usar seus poderes, pois agora sabemos e estamos preparados. Iremos caçá-los até termos suas cabeças como troféus em nossas estantes! Todos prontos? - O líder humano grita em puro êxtase e fúria.

—SIIIIM!!!

Os homens gritavam com toda fúria enquanto se afastavam, por sorte, sem ver o nosso pequeno grupo escondido atrás dos arbustos espinhosos, que rasgaram um pouco de suas roupas e arranharam suas peles, mas nada com que se preocupar, além dos humanos.

Em alguns minutos aquele mar avermelhado já se via longe demais para que pudesse machucar Moon e seus amigos.

Cursed sai assustada do seu esconderijo.

—Isso foi por pouco... Temos que partir logo, antes que percebam que não estamos na cabana e nos encontrem...

—Não. Eles vão destruir tudo o que construímos até aqui...Isso não é justo, não é...

—Eu sei disso Ruby, mas... - Cursed fala de forma gentil e preocupada.

–-Eu preciso pelo menos, ver uma última vez...

— Por favor, não faça isso...Você não precisa ver o que eles vão fazer, isso só vai te torturar, te fazer ainda mais mal... -Cursed coloca sua mão no ombro da vampira.

—E..Eu...Eu preciso... -Ruby se transforma em um pequeno morcego, desaparecendo rapidamente no céu em meio às árvores que os cercavam.

—Ruby! Arg... Podia me escutar ao menos uma vez! - Os braços e mãos de Cursed dão lugar a monstruosas patas de puma, seu rosto se torna totalmente felino e seus dentes se transformam em presas, um pequeno ruído doloroso escapa dentre seus lábios. Sua coluna se curva, seu corpo de monstro se transforma em um puma por completo. Cursed solta um rugido e rapidamente salta sobre a árvore e a escala pulando em seus galhos e no tronco, subindo a toda velocidade para alcançar sua amiga, pois sabia que o final daquilo não seria tranquilo, seria devastador, pois ninguém merece ver sua casa e o lugar que tanto batalhou para construir e chamar de lar, ser totalmente destruído diante seus olhos, e era isso que a aguardava.

Ruby ao subir alto o suficiente para que pudesse ver a cabana novamente, enxerga a pior cena que poderia ver... os homens atearam fogo na cabana, que agora eram somente chamas, um triste cenário que refletia em puro terror vermelho aos olhos da vampira. Tudo pelo que mais lutou e sacrificou para manter, o único lugar que a manteve segura e a de seus amigos também, agora estava completamente destruído. A vampira queria gritar, chorar, fazer qualquer coisa que levasse aquela dor e desespero para longe de seu peito, mas não conseguia, era como se o horror daquela cena servisse de um bloqueio que a impedia de raciocinar, de se mover, de fazer qualquer coisa que não apenas ficar olhando incrédula e horrorizada a cena que presenciava. Tantas memórias, lutas, sacrifícios e conquistas sendo jogadas fora naquele mesmo instante. Algo dentro de si quebrou-se naquele momento.

Quando Cursed alcança o topo da árvore, rapidamente vê Ruby ao seu lado, um pouco mais para o alto. Cursed desvia o olhar para a cabana e sente seu coração parar ao ver aquela cena... O lugar pelo qual mais lutou agora caia em pedaços e as chamas o devoravam cada vez mais. Os gritos dos homens eram cada vez mais altos, mas devido a altura onde estavam, não poderiam entender o que diziam.

Uma única lágrima escorre pelo rosto peludo de Cursed. Aquilo marcaria o inicio do fim... O início da mudança, pois nada mais seria o mesmo a partir daquele dia, tudo mudaria, era preciso aprender a se adaptar, ou senão serão engolidos pelo mundo o qual vivem. Sua realidade foi destruída, mas daria um jeito de recomeçar, juntos, em equipe.

Cursed mesmo com o vazio que sente ao ver tudo aquilo, se esforça para seguir em frente, precisava salvar seus amigos a todo custo, ninguém ficaria para trás. Cursed olha para Ruby, e ao ver sua amiga paralisada, trêmula e transtornada, sabia que tinha de alguma forma trazê-la à realidade de volta.

–-Ruby! Olhe para mim. - Cursed ruge, mas Ruby era capaz de entender, então vira o rosto levemente para que possa vê-la de canto de olho.

–-Ruby... Eu entendo sua dor, pois compartilho dela, mas a gente precisa voltar. Todos estão preocupados conosco, e ficar aqui só vai nos torturar ainda mais. A gente lutou muito por esse lugar, juntas, mas agora está na hora de seguirmos em frente, enfrentamos tanto juntas, não será isso que vai nos separar agora. Vamos descer, isso vai fazer bem para nós duas, mesmo que não seja fácil, precisamos fazer. Vamos resolver isso juntas, em equipe, como sempre fizemos, ok?

Ruby vira-se em sua direção analisando a situação, rapidamente desvia o olhar para a cabana.

—Você está certa...Vamos... -Ruby desce, e Cursed faz o mesmo.

Ruby volta a sua forma normal de vampira e pousa com elegância, enquanto Cursed salta da árvore com muita brutalidade fazendo com que suas patas marquem o solo e deixando na árvore marcas de garras. Rapidamente Cursed retorna a sua forma normal de monstro e se põe de pé.

–Muito melhor assim. -Cursed dá uma pequena volta em torno de si mesma.

—Ruby? Como você está? - Moon aproxima-se temerosamente, como se tivesse medo de ser muito brusca e afugenta-la novamente.

—Vou ficar bem... mas temos que ir logo, antes que eles nos descubram. Eles não vão parar de nos caçar como feras até terem nossas cabeças como troféus. Temos que ir logo.

—Todos eles ainda irão pagar pelo que estão nos obrigando a fazer. Nada disso ficará impune, o karma sempre volta. —Cursed põe-se no centro do grupo. - Acabamos de perder muita coisa aqui... os homens nos tiraram nosso lar, e isso não ficará assim. O dia de hoje marca um fim e um recomeço. Não irei mentir, o caminho será longo e árduo, então é bom que todos tenham uma noção do que estaremos enfrentando a partir de agora. Não estamos mais sozinhos, somos perseguidos, caçados como animais, mas não iremos nos render, mostraremos a eles quem estão enfrentando. Iremos concluir nossa missão juntos, como um time e ninguém ficará para trás.

-É assim que se fala maninha!

-Então é melhor irmos indo, não vamos dar chance aos homens de nos encontrarem, precisamos partir agora e dessa vez sem desvios...- Cursed olha para Ruby...

- Certo...Não vou mais me distrair.