Capítulo 17

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 A chuva cai, apagando as chamas que antes ali existiam, mas não apenas o fogo vivo que devorava tudo à sua frente, mas também a chama interior a qual os fazem ir além do possível para sobreviver, a chama da dor, do sofrimento e do trauma que cada um ali viveu.

Cursed agora está sentada ao lado de Ruby e Moon, que ainda adormecem.

Magnus vigia o terreno em alerta total, para caso haja qualquer sinal de perigo.

Cursed acaba por ficar sozinha, pensando em tudo que acabara de acontecer em um período tão curto de tempo. A puma olha seu braço e enxerga a queimadura, a marca eterna de tudo que viveu e que a seguirá pelo resto de sua vida, fazendo-a lembrar eternamente deste tormento em sua vida.

Ao olhar para o céu escuro e chuvoso, lembra-se do ser que apareceu e a salvou... Quem seria ele? Perguntava-se Cursed, mas no fundo algo lhe dizia que era Shadow, o anjo da morte que lhe deu uma segunda chance. Mas por quê? Entre tantos monstros para ganhar uma segunda chance, por que justo ela foi salva? Sua cabeça rodava entre porquês sem respostas e que muito provavelmente, jamais teria.

— Eu cheguei a morrer? Shadow me salvou? Mas por que a mim? Entre tantas almas que mereciam uma segunda chance muito mais do que eu, por que fui justo a escolhida? Isso não faz sentido! Não faz... Eu só gostaria de entender... - Cursed desvia o olhar para o céu.

Cursed fecha sua mão em um punho firme. Em sua mente veio a imagem de Esmeralda.

— Ela sabia... Sabia a verdade sobre mim, e não estava errada em me culpar. Talvez eu realmente seja uma maldição na vida de todos...

Uma única lágrima escorre pelo seu rosto. Seu coração está dilacerado. A felina leva a mão ao peito. Seu olhar está agitado, sua mão treme. O medo a domina, verdades falsas ecoam em sua mente. Sentia-se como uma maldição na vida de todos, e acreditava ser mesmo, afinal carrega isso em seu nome, Cursed, ou melhor Maldição em português, esse era seu veneno portátil que resolveu voltar a assombrá-la. Os calafrios ou sensação de calor, irrealidade ou medo constante, tensão muscular. Leva a mão à garganta que está seca. Seu coração batia acelerado, era como se ele sangrasse, uma sensação horrível e desconfortável a qual só queria que parasse, uma dor incômoda... Seu corpo treme , e sua visão está turva e levemente escura. Já havia sentido aquilo antes, e nunca se tornava mais fácil... Estava a ter mais um de seus ataques de ansiedade.

Os barulhos da natureza atrapalham ainda mais, puxando sua atenção, os barulhos se tornavam angustiantes e dolorosos, fazia todos seus sintomas piorarem. Seu corpo fraquejava e sua voz estava fraca. Suas pernas bambas colidem com força em direção ao solo, sem forças para se manter em pé. Precisava urgentemente se acalmar, voltar ao controle, não poderia se permitir desistir, não podia perder para si mesma, um sentimento... Mas como lutar contra si mesma em uma guerra aparentemente perdida? Tudo acaba, mas nem sempre é rápido, e às vezes é muito mais doloroso do que aparenta.

— Esse sentimento louco a qual me vejo afogar. Voz presa e silenciosa rasgando minha garganta em uma tentativa tola de livramento. Minha mente como uma selva tenebrosa, sempre pronta para atacar. O terror que se esgueira a cada esquina a minha espera. Meu coração acelerado em puro caos e confusão. Olhar agitado em busca do inimigo invisível que me suga como a um vampiro. Comparação e preocupação que me matam aos poucos, como um veneno que eu mesma dou passagem para permanecer. Ansiedade repentina que me ataca e que me torna sua refém, indefesa ao seu lado, como a uma marionete e seu dono, retirando a minha escolha, refém de um sentimento, de mim mesma. Medos e inseguranças que sangram a alma e ainda assim compartilho meu lar. Ansiedade a qual me domina, algum dia me verei livre de suas garras? Ou eternamente sentirei essa coroa de espinhos sobre minha cabeça, perfurando meu crânio e atravessando meu cérebro. Sempre serei refém, ou algum dia me verei livre desse sentimento que me aprisiona? Serei livre de minhas próprias garras mortíferas?

Em busca da liberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora