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Como eu não havia notado? As paredes brancas

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Como eu não havia notado? As paredes brancas. A cama. A roupa. Tudo aquilo era familiar. Eu senti meu mundo desmoronar e o ar faltar.

— Eu preciso de ar. — Me levantei e saí da cozinha. Eu não conseguia respirar.

Um filho? Com Deckard?

Cambaleei quando sai pro quintal, minhas pernas perderam as forças e eu caí de joelhos na grama, as mãos segurando fortemente as plantas recém aparadas. O ar não entrava para os pulmões, meu coração parecia uma metralhadora automática e eu sentia que a qualquer momento eu apagaria.

Meu filho. Eu tenho um filho e ele está lá.

Me forcei a sentar nos meus próprios pés, minhas mãos sujas de terra se encarregaram de me manter no lugar, abraçando a mim mesma tentando segurar meus pedaços que se partiam.

Eu não ouvia nada ao meu redor. Nenhum carro, nenhum vento, nenhum vizinho. Absolutamente nada. Apenas gritos de socorro.

Por favor! Eu não aguento mais!

Meu corpo tremeu e ali mesmo eu desabei, não ligando se me achariam maluca, se estavam me observando das janelas atrás de mim. Eu chorei, chorei como se não houvesse amanhã, chorei como uma bebezinha. Eu tentava evitar ficar de olhos fechados porque no escuro é quando as lembranças vêm e eu não queria imaginar, nem mesmo pensar, no que ele estaria passando. Eu olhei para o céu e clamei por ajuda para qualquer Deus que estivesse me ouvindo.

Braços se fecharam ao meu redor. Eu não estava preparada, por isso soquei quem quer que estivesse ali.

— Ei! Calma aí! — Deckard segurou meus pulsos que estavam prestes a acertar seu rosto mais uma vez. Vacilei na minha força e ele aproveitou para se ajoelhar na minha frente.

Aos poucos minhas mãos foram se abaixando enquanto olhamos um para o outro. Ele parecia sentir o mesmo tipo de dor que eu, mas ele não chorava.

— Temos um filho. — Sussurrei. Não confiava na minha voz para falar mais alto que isso. Ele só concordou com um aceno. — E ele está com eles. — Minha voz era só um fio e se ele não estivesse perto de mim, não teria ouvido. Meus olhos caíram para nossas mãos juntas no meu colo, seus dedos fazendo carinho na minha mão.

— Eles quem, querida? — Deckard perguntou e eu levantei o olhar pra ele.

— Eteon — A menção da palavra me dava arrepios e parecia ter o mesmo efeito em Deckard.

Sem um aviso prévio, Deckard me abraçou. Eu não estava preparada, mas eu precisava disso então aceitei. Coloquei meu rosto em seu pescoço sentindo o cheiro amadeirado do perfume misturado com o doce do sabonete de coco. Senti ele colocando o rosto no meu cabelo, o cheirando enquanto ele me segurava firmemente em seus braços. Ficamos assim pelo o que pareceu horas, mas não foram nem cinco minutos.

— Vamos pegá-lo — Deckard sussurrou no meu ouvido.

— E matar quem quer que esteja no caminho. — Sussurrei de volta.

Nós nos afastamos e olhamos um para o outro. Eu não me lembrava de nada da nossa vida, mas eu sabia que ele estaria ali pra mim, independente de tudo. Algo dentro de mim se remexeu ao olhá-lo nos olhos, tão brilhantes e calorosos, transbordando amor e carinho. Nunca tinha visto isso no olhar de ninguém. Então, com uma última prece, me levantei do chão. Desejei que me lembrasse de tudo. Para que assim, possa ter uma ideia de como é uma vida de amor.

Deckard não parecia feliz em me soltar, mas eu não fiz questão de me afastar quando ele me puxou para dentro da casa com nossas mãos juntas. Estávamos dando apoio um para o outro e essa era a forma mais discreta que eu via.

— Toretto, você me chamou pra te ajudar com o trabalho do Ninguém. — Deckard começou olhando para o grandão. — Agora eu te peço que me ajude a resgatar meu filho. — O peso naquela frase caiu sobre todos no recinto.

Todos olharam uns para os outros. Pareciam pensar se ajudariam e eu não queria nem imaginar o porquê, mas eu soube que qual fosse a resposta do irmão de Jakob, todos seguiriam leais.

— Qual o plano? — Ele cruzou os braços e Deckard sorriu.

— Explodir a Eteon — Dei um passo à frente e todos me olharam.

E morreria qualquer um que tentasse me impedir.

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Mais tarde naquele dia, eu estava na garagem. O Maserati estava com o capô aberto e eu o encarava tentando encontrar qualquer problema. A essa altura do campeonato, eu estava usando um shorts jeans e uma regata branca graças ao clima quente de Los Angeles. A blusa não mais tão branca graças a graxa.

— Posso entrar? — Dom perguntou na entrada da garagem. Nem parecia que aquela garagem era a dele.

Apenas acenei para ele entrar enquanto eu estava inclinada no motor parafusando uma peça.

— Você mudou. — Foi a primeira coisa que ele disse depois de quase um minuto.

Tirei meus olhos do parafuso e olhei pra ele. Tão familiar, mas ao mesmo tempo tão estranho. Eu suspirei, terminei de parafusar a peça e me levantei, limpando a minha mão em um pano encardido.

— Sei o que está pensando. — Eu passei por ele e abri o frigobar pegando o balde de Corona que O'Conner havia me dado assim que avisei que iria para a garagem.

— Sabe? — Ele cruzou os braços e se encostou no Maserati, com um sorrisinho nos lábios.

— Sei. — Entreguei uma cerveja pra ele e bebi um gole da minha. — Eu não sou a mesma Charlotte que você conheceu e muito menos sou o que você espera que eu seja. Então, vou avisá-lo de uma coisa, dizer a mesma coisa que disse ao Jakob quando ele me contou que era meu irmão. — Me aproximei dele e o sorriso aumentou. — Não vou ficar no meio de todo esse drama familiar. Você e Deckard querem que eu me lembre de tudo e eu não vou impedi-los de tentarem, mas... Depois que eu recuperar o meu filho, se suas tentativas forem em vão, eu vou tentar viver.

Dom não disse nada, apenas ficou me encarando com um sorrisinho.

— Por que está sorrindo?

— Por nada, apenas uma lembrança. — Ele bebeu um gole da cerveja. — Não se diz pra alguém que ela te ama, Lottie. Não vamos forçá-la a se lembrar. Se no final de tudo você quiser ficar conosco, iremos adorar, principalmente Mia. Você é minha irmãzinha e eu sempre irei te amar. Com ou sem memórias.

— E se eu nunca me lembrar? — Perguntei apreensiva.

— Criaremos novas memórias. O que importa é que você está viva. O resto, é o resto.

Eu fiquei uns segundos o encarando, surpresa demais com suas palavras para dizer alguma coisa. Foi então que decidi mudar de assunto para outro inacabado. Abri a porta do Maserati e tirei os papéis de adoção e entreguei a ele.

— Charlotte... — Ele começou, porém não deixei ele continuar e entreguei a minha foto bebê no colo da minha mãe biológica e entreguei a ele.

— Eu sabia que eu era adotada? — Perguntei e Dom me olhou assustado encarando a foto.

— Essa aqui é a Cipher?!

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De sangue - Deckard Shaw (Livro Dois)Onde histórias criam vida. Descubra agora