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Eu gritei quando minha cabeça foi afundada naquela banheira de gelo pelo que eu esperava ser a última vez

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Eu gritei quando minha cabeça foi afundada naquela banheira de gelo pelo que eu esperava ser a última vez. Já tinha acontecido repetidas vezes nas últimas quatro horas.

— Não vamos repetir. Onde ele está? — Ouvi assim que minha cabeça foi tirada da banheira.

Eu dei risada, ignorando totalmente o barulho de uma arma sendo engatilhada e o metal sendo encostado em minha têmpora.

— Você não disse que não ia repetir? — Perguntei, virando o rosto para olhar para o homem mascarado que segurava meu cabelo.

Ele não atirou em mim como eu pensei que faria. Apenas bateu minha cabeça contra a banheira de ferro e me puxou bruscamente para trás, me fazendo cair de costas no chão de pedregulho. Senti o líquido quente molhando meu rosto gelado e dormente, mas não me importei com o sangue, estava ocupada demais rindo.

Eu tinha mesmo enlouquecido, aquilo já era uma coisa inquestionável.

Por cima da camada escura em minha visão, consegui distinguir um borrão vindo pra cima de mim. Eu não resisti enquanto era chutada por várias pernas diferentes. Eu estava dormente demais para sentir a dor então apenas deixei até que se cansassem.

Eles pararam antes que os golpes começassem a serem mortais. Eu tinha a pequena teoria de que me queriam viva e isso era uma coisa que eu poderia aproveitar.

Ouvi o barulho irritante de interferência e então os passos deles se afastando. Eu continuei no chão nos primeiros minutos, pro caso de voltarem. Contei mentalmente cinco minutos e então abri os olhos, vendo a sala branca vazia mas a porta aberta. Muito lentamente eu me levantei, tomando cuidado para não pisar na pequena poça de sangue que tinha se formado no chão. Meu sangue.

Olhei para a parede de vidro e vi o meu reflexo. Por um momento não me reconheci. Eu não sabia dizer se era pela pequena deformação em meus traços pela recente surra, ou se era o brilho de fúria e vingança em meus olhos. Talvez um pouco dos dois.

Deixei o momento de me admirar para depois, eu não tinha tempo pra isso no momento. Desviei meus olhos do espelho e olhei ao redor, não vendo absolutamente nada para usar como arma.

Vai ser a moda antiga, então. Eu penso.

Tirei os sapatos, ficando descalça e caminhei na ponta dos pés para a fora da sala. Uma parte pequena da minha mente registrou a pequena possibilidade de ser uma armadilha, principalmente quando vi o corredor completamente vazio e sem guardas, mas a oportunidade era tentadora demais para não arriscar.

Eu não conhecia o lugar então andei a esmo, grudada na parede para o caso de um esconderijo rápido. Todos os corredores estavam vazios, brancos como um hospital psiquiátrico, sem nenhuma alma viva presente, e a possibilidade de ser uma armadilha ganhou mais força em minha mente.

Quando eu dei um passo para trás para voltar para a sala branca, ouvi um zumbido. Eu não sabia dizer o que era exatamente, apenas segui o som.

A curiosidade matou o gato. Ou pelo menos é o que dizem.

Quando o zumbido ficou mais forte, eu estava parada em frente a uma porta dupla.

— Você nos poupou muito trabalho — Uma voz grossa e extremamente forte soou atrás de mim.

Eu não tive chance de reagir antes que um sedativo fosse aplicado em meu pescoço. Cai em menos de 30 segundos. Porém, não demorou muito para eu acordar, amarrada em uma cama de hospital.

Eu estava em uma maca, cintos de couro me prendendo a ela enquanto meus pulsos estavam algemados nos braços de ferro. Eu estava amordaçada com uma tira de couro, mas não me impedia de mexer a cabeça. Virei o rosto para olhar para a sala que eu estava e percebi que era a mesma sala branca de mais cedo, porém a banheira havia sido substituída por vários aparelhos.

Havia um homem ali em pé, usando jaleco branco e luvas de látex, assim como uma máscara cirúrgica. Eu não conseguia reconhecê-lo. Eu me debati quando vi o que ele estava puxando para perto da maca.

— Ficar se debatendo só irá piorar o processo de cura — Ele murmurou para mim, a voz suave como um canto de pássaros.

Eu continuei me debatendo, tentando gritar por cima da mordaça enquanto ele ficava atrás de mim, puxando outro cinto de couro e prendendo minha cabeça na maca também, a mantendo parada.

— Aproveitem o espetáculo — Ele pareceu sorrir para a parede de espelho e então eu ouvi a máquina sendo acionada.

Eu fechei os olhos, gritando assim que os eletrodos tocaram minhas têmporas. Por cima dos choques diretos em meu cérebro, eu ouvia meus gritos clamando por socorro. Eu sentia o sangue escorrendo pelas minhas orelhas e meu nariz. Eu não aguentei muito tempo, desmaiei poucos segundos depois.

Eu acordei aos berros quando mais uma onda de choque foi direcionada ao meu cérebro. Eu implorava para que me matassem de uma vez. Eu implorava por Deckard. Eu implorava por qualquer coisa que fosse capaz de acabar com aquilo.

Meu corpo se debatia contra a maca e se não fossem os cintos me segurando, eu já estaria no chão. Eu tentava a todo custo me soltar, me agarrando às minhas últimas forças para continuar lutando contra a escuridão que ameaçava me levar pra morte.

Eu ainda preciso matá-los! Eu gritava em minha mente. Fique viva! Por ele!

Eu me agarrei nisso, me agarrei ao meu amor por ele para continuar ali lutando pela minha vida.

De repente, tudo começou a ficar turvo. Minha visão, minha audição, meus pensamentos e minhas memórias. Aos poucos, tudo foi se apagando, virando pó que voava com a mais pequena ventania.

De repente, eu não sabia o motivo de continuar lutando. O motivo de não me entregar pra morte certa e acabar com toda aquela tortura.

Eu nem mesmo me lembrava do meu nome.

Eu não sabia dizer por quanto tempo as sessões de choque aconteceram, mas eu me entreguei à escuridão quando ela pareceu tentadora demais para ser ignorada.

A escuridão virou meu abrigo e por lá eu fiquei. Eu só esperava que quando eu acordasse, eu soubesse a resposta para a pergunta que martelava minha mente dolorida.

Quem sou eu?

De sangue - Deckard Shaw (Livro Dois)Onde histórias criam vida. Descubra agora