01- Por outros olhos

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    Abrindo os olhos, a primeira coisa que o castanho vê são as mãos, macias, pálidas, dedos finos, mais frágil que o normal.

    Não era a primeira vez que isso acontecia, nas últimas semanas sempre tinha esses sonhos que parecem cada vez mais reais, sendo somente uma consciência existente, que vê, sente e ouve.

     Vendo se levantar da cama e ir até o banheiro, parando em frente a pia, pôde sentir quando a água é jogada no rosto, e após enxugá-lo com uma toalha, vê no espelho a face semelhante ao seu, sendo só alguns pequenos detalhes que se diferenciam, como o cabelo no qual é médio, chegando até às orelhas.

Estranho...

     Mesmo que tenha se passado um bom tempo nessa situação, Stiles não fica mais surpreso, porém ainda é estranho(desconfortável) não ter controle do corpo e ser somente um espectador do garoto cuja aparência é semelhante.

     Suspirando, o castanho caminha até a mesinha do quarto tendo um computador em cima.

    E lá vamos nós para a rotina monótona...

   Foram-se duas semanas, todas a mesma rotina, no tempo em que esteve sonhando o Stilinski nunca viu outro ser vivo ali, nem mesmo outro ambiente, somente estando nas partes presentes do quarto.

    Poucos segundos depois o adolescente coloca um vídeo, contendo nada além de um vestiário vazio, o que deixou o Stilinski confuso. Ele avança a imagem e em seguida garotas entram, Stiles rapidamente nota uma cabeleireira ruiva pertencente a garota pelo qual esteve apaixonado desde jovem.

      Pelo ângulo da câmera podia-se ver perfeitamente a jovem que seguidamente começa a tirar as roupas.

     Espera... Não, NÃO, NÃO, NÃO.

     Vendo o jovem tirar as calças, não pôde deixar de gritar recusa.

     Ele sempre, desde jovem, foi apaixonado por Lydia, entretanto nunca de um jeito tão doentio, pervertido.

     Tentava falar com ela, mas era ignorado, claro, agora não, pode até dizer que são amigos o que se deve aos problemas sobrenaturais que ocorrem na cidade que envolve a Pack, fazendo-os se unir.

     Também aparecia nos aniversários dela sem ser convidado, porém nada invasivo.

     Não demorou muito para vê-lo começar a se acariciar, sua visão intercalando entre a imagem das garotas nuas no computador e o pênis ereto.

    O Stilinski tentou realmente não olhar, não sentir, no entanto se torna impossível, sendo que não controla o corpo em que está, o corpo que possui.

    Afinal, por que ele teria um sonho assim com ela?

     Ouvindo bater na porta, o jovem se assusta e rapidamente levanta o zíper da calça, fecha o computador fazendo um som alto e então abre a porta o suficiente para mostrar somente o rosto.

     Stiles prontamente fica aliviado quando o adolescente parou seus atos impróprios e curioso para saber quem seria, ficando surpreso ao ver Melissa do outro lado da porta.

— O quê?

    Questiona com a voz um tanto ríspida, arrancando um suspiro cansado da mais velha.

— Filho... até quando vai agir assim?

— Assim como? Até onde sei estou agindo normalmente.

     Seu tom saiu um tanto confuso, mas se prestasse real atenção, poderia notar o sarcasmo, estava bem perceptível o descontentamento com a mulher, o Stilinski não sabia dizer se era por ela ter atrapalhado-o antes ou por algo ter acontecido, bem, é um sonho, eles normalmente não tem sentido.

     Provavelmente o primeiro, bom, não importa, sou grato por isso, tia Melissa.

     Respirando fundo, a mulher fechou os olhos e após dois segundos os abriu, olhando com a maior calma possível pro filho.

— Seu pai vai sair cedo do trabalho hoje e amanhã ele está de folga, vamos fazer um jantar em família.

— ...Scott não tem nenhum encontro marcado para a noite com os amigos dele?

— Mandei cancelar, então pode ficar tranquilo.

     Responde, pelo seu tom sair animado talvez tenha achado que o garoto quisesse ver o adolescente, entretanto, Stiles sentiu o descontentamento do outro.

— Certo. Era só isso?

— Amanhã vá pra escola, sei que seu professor não morreu.

     Falando isso, Melissa sai sem olhar para trás.

     Em choque, o garoto abriu a porta e começou a segui-la de forma ansiosa.

— Scott te contou?!

— Nem tente colocar a culpa no seu irmão.

     Diz, parando para olhar o jovem.

— Mentiu pra mim. Sem mesada nesse mês e a partir de amanhã, da escola pra casa durante uma semana.

— Ninguém daquela escola gosta de mim!

    Contra atacou. Encarando silenciosamente o filho, se vira sem pensar duas vezes e desce as escadas enquanto responde.

— Não minta para mim, e você tem o Liam como amigo!

Irritado, ele volta pro quarto, fechando a porta com força.

— Inferno!

     Voltando o olhar pro computador, Stiles prontamente percebe o que vai fazer.

Ah não....

      Abrindo o computador ainda estava aberto na página da câmera, e o rosto da Lydia bem próximo, olhando para a câmera, obviamente segurando-o, o Stilinski foi capaz de sentir o pavor do adolescente.

É cara, agora você se ferrou, e bastante.

— Achei essa câmera no vestiário.

— Espera, tinha alguém realmente olhando as garotas trocarem de roupa?

     Ouvindo o aviso da ruiva, outra voz foi ouvida na tela, Stiles rapidamente reconheceu como Scott.

— Ela ainda está ligada.

     A câmera é passada para outra pessoa e o rosto do Jackson imediatamente aparece.

— Ooooi babaca, espero que esteja vendo isso porque não quero perguntas de um por que eu está dando uma surra em você.

   A voz soou mordaz, assustando ainda mais o jovem.

— Que criancice Jackson.

Risonha, Lydia advertiu.

— Não vão contar pro professor?

A nova voz parecia ser da Allison.

— Prefiro eu cuidar disso primeiro. Dar uma surra nesse pervertido deprav-

    Sem mais delongas, o computador é fechado.

— Eu preciso pensar em algo...

Ansioso, começa a roer as unhas, começando a andar em círculos pelo quarto.

— Preciso pe-

     De repente, antes que o garoto pudesse terminar a frase, tudo à frente do Stilinski escurece e todos os sons são silenciados.

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O Outro EuOnde histórias criam vida. Descubra agora