Capítulo 3

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Jimin jamais experimentou a sensação de ter uma namorada, de estar em um relacionamento. Ele nunca se sentiu atraído por nenhuma garota, nem mesmo pelas meninas mais populares do colégio.

Desde pequeno, Jimin tinha consciência de que havia algo diferente dentro de si, porém nunca se preocupou em descobrir o que era. O fardo de suas responsabilidades era tão pesado, que sua última preocupação era experimentar o amor. Ele nunca encontrou um tempo em sua vida para pensar em relacionamentos. Mas, cá entre nós, quem teria coragem de namorar Park Jimin?

Por alguns instantes, Jimin imaginou como seria vivenciar uma adolescência comum. Ir para festas, ter amigos, namorar uma pessoa incrível, enxergar o futuro de uma perspectiva diferente.

Ele se via fadado àquela vida, era como se estivesse em um labirinto sem saída. E, como dizia John Green:

"Passamos a vida inteira no labirinto, perdidos, pensando em como um dia conseguiremos escapar e em quanto será legal. Imaginar esse futuro é o que nos impulsiona para a frente, mas nunca fazemos nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente."

Era algo que Jimin costumava fazer com frequência, sempre imaginava um futuro mais próspero, ainda sabendo que tudo não passaria de uma ilusão. Deitar a cabeça no travesseiro e sonhar com uma vida perfeita era o que o impulsionava a seguir tentando. Talvez, assim, ele pudesse encontrar uma forma de escapar do labirinto em que se encontrava.

— Calma, Jihye, é só meu vizinho. Estava ajudando ele com uma coisa, nada demais. - Jungkook disse enquanto puxava a namorada de lado para Jimin passar.

Jihye bufou e entrou no apartamento, com suas sobrancelhas franzidas e bochechas coradas.

— Mil desculpas, Jungkook, não queria causar problemas. Estou indo, obrigado de novo pela ajuda. - O menor fez uma breve reverência e logo deu passos largos até chegar em seu apartamento, sem dar a oportunidade de Jungkook contestá-lo.

O Sr. Park não se encontrava em sua residência, o que causou um suspiro de alívio em Jimin. Ele imediatamente tratou de cumprir todas as suas obrigações, fazendo uma promessa a si mesmo de não cometer nenhum erro para ser repreendido.

De certa forma, estava feliz por conhecer uma pessoa nova, depois de tanto tempo sozinho. Jungkook aparentava ser um cara legal, apesar de sua resistência em depositar confiança nas pessoas, teve a sensação de que poderia tê-lo como um amigo.

Mas...

Não sabia se Jungkook o desejava como amigo. Talvez ele apenas sentisse pena, e nada mais do que isso. Deveria procurá-lo em algum momento? Deveria deixá-lo em paz?

Um redemoinho de pensamentos rodopiava na mente de Jimin enquanto esfregava o chão. Ele sabia que, em algum momento, precisaria se permitir, tentar, correr atrás. Já estava cansado de viver em silêncio, de passar despercebido.

Sua vida não mudaria se ele não se esforçasse ao menos uma vez. Afinal, se ele quisesse ver o arco-íris, primeiro teria que enfrentar a chuva. No caso de Jimin, uma tempestade.

Apesar de tudo o que vivenciava, Park não se lamentava em segredo, não reclamava de nada, apenas experimentava tudo com uma intensidade fora do comum e guardava tudo para si. Emocionalmente, isso o corroía por dentro, como se estivesse bebendo litros de ácido sulfúrico.

Sim, há pessoas que preferem não incomodar os outros com seus problemas, preferem travar uma batalha interna em vez de desabafar com alguém. São as famosas "ostras". Nada fora do comum, mas o que acontece quando poucas gotas de água caem em um copo cheio?

Ele transborda.

[...]

O apartamento estava impecável, como de costume. A noite se aproximava e Jimin preparava sua refeição com algumas coisas que havia apoderado de seu estoque secreto de alimentos. Seu pai escondia comida dele e Jimin escondia comida do pai. Nada mais justo, concorda?

Após comer, dirigiu-se para seu quarto, trancou a porta e colocou seus fones de ouvido. Tinha consciência de que seu pai estava prestes a chegar, então desejava evitá-lo ao máximo possível.

De repente, seu celular vibrou sinalizando a chegada de uma mensagem. Mas de quem seria?

Mensagem On#

Número Desconhecido: Oi, vizinho, tudo na paz? Peguei seu número com o porteiro, o cara é gente boa demais. Não me ache um psicopata por isso rs

Só queria pedir desculpas pela minha namorada, ela é um pouco ciumenta, sabe como são as mulheres, né?

É isso, desculpa te perturbar.

Mensagem Off#

Não, Jimin não conhecia o jeito das mulheres. Por que diabos a namorada de Jungkook teria ciúmes de Jimin, um homem? Algo não encaixava nessa situação, mas ele decidiu ignorar, afinal, não era problema dele.

Decidiu que responderia no dia seguinte, estava tão cansado que seus olhos pareciam ter vontade própria, fechando automaticamente, sem nenhum controle.

Deitou a cabeça no travesseiro e deixou o sono levá-lo para a sua vida perfeita.

[...]

Domingo, 03:52

O estrondo dos copos quebrando era ensurdecedor, apesar dos fones de ouvido, Jimin acordou assustado. Cada vez mais vidro se partia em pedaços, e o jovem não compreendia muito bem o que estava acontecendo.

Ele espiou por uma pequena brecha na porta e viu uma mulher desconhecida causando destruição por onde passava, gritando com seu pai, cujo rosto estava vermelho de tanta raiva.

Presenciou então seu pai agarrar a mulher pelo pescoço e jogá-la ao chão, desferindo socos em seu rosto e chutando sua barriga. Era evidente que ela encontraria seu fim ali mesmo, a menos que algo fosse feito.

Desesperado com a situação, Jimin corre até seu pai e o empurra com uma força extraordinária. Enquanto o Sr. Park estava no chão, ele rapidamente ajudou a mulher a se levantar e ela correu até a porta, desaparecendo pelos corredores.

Poucos segundos depois, Jimin fez o mesmo. Corria como se estivesse participando de uma maratona, pois seu pai o perseguia com uma aura de ódio. Os gritos ecoavam interminavelmente por aquele corredor.

— Eu vou acabar com você, Park Jimin!!! Você vai aprender a não se meter onde não é chamado!!! Pode correr o quanto quiser, uma hora terá que voltar para casa. - Seu pai gritou enquanto diminuía a velocidade.

Sr. Park estava certo, em algum momento, Jimin teria que retornar à sua residência. Mesmo que não quisesse, não haveria outra alternativa. A não ser que...

Não.

Definitivamente não.

Jimin não perturbaria Jungkook durante a noite, ainda tinha alguma noção sobrando. Ele decidiria, portanto, permanecer naquele local de costume, o playground do prédio, onde não causaria nenhum incômodo.

Tudo bem, o frio não incomodava tanto quanto seu pai.

Jimin se acostumara com a dor, de todas as maneiras possíveis. Querendo ou não, toda dor precisa ser sentida. Ignorá-la era impossível, então só lhe restava a aceitação. Sabia que se voltasse para aquele apartamento agora, acabaria no hospital ou no cemitério.

Se envolver com seu pai nunca dava certo, e Jimin tinha plena consciência disso. Mas permitiria que ele espancasse uma mulher, seja quem fosse? Provavelmente era mais uma garota de programa que seu pai contratou, mais uma que ele não pagou. Era sempre a mesma situação, mas nunca havia chegado a esse ponto.

Jimin caminhava pela grama e sentia a brisa fria chocar-se com seu rosto descoberto. Seus lábios ressecaram quase instantaneamente e sua pele se arrepiava a cada passo que dava.

Sentou-se em um banco que conhecia muito bem, ali passaria aquela madrugada gélida. O moletom que cobria seu corpo já não lhe aquecia mais, mas estava tudo bem.

Talvez ali estivesse seguro.

Pelo menos era o que ele pensava.

REFUGE ❦ JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora