Capítulo 14

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— Hmm... Não sussurre, Jungkook, não consigo entender desse jeito...

— Eu... Eu perguntei se posso dormir com você, não estou me sentindo bem.

Jimin concorda com um aceno e deita-se no lado oposto da cama, abrindo espaço para Jungkook se acomodar. Embora não fosse exatamente o que Jeon queria, não havia alternativa. Ele não poderia tê-lo da maneira que desejava.

Talvez a melhor opção fosse manter tudo em segredo.

Bastaram alguns minutos ao lado de Jimin para tranquilizar a mente agitada de Jungkook e despertar o sono. A verdadeira sensação de paz nunca se fez tão presente como naquela noite, e Park era a única pessoa capaz de proporcionar tal sentimento, não havia como negar.

Experimentar aquela realidade diariamente era quase como um sonho para Jungkook , no entanto, a concretização ainda estava distante. As aparências podem ser enganosas, pois nada é tão simples como aparenta ser.

[...]

Domingo, 08:43

— Muito obrigado, Jimin, você não tinha nenhuma obrigação comigo.

— Não precisa agradecer, tenho certeza de que seus amigos agiriam da mesma forma. - Sorriu ao abrir a porta. — Tenho que ir agora, mas pode me ligar se precisar de ajuda. Até logo, Jungkook.

Jeon se despede de Jimin com um sorriso, embora secretamente desejasse passar o restante do dia na companhia dele. Seus outros amigos não tinham ideia da existência do Jungkook frágil e sensível, somente Park teve a oportunidade de testemunhá-lo nesse estado.

E Jeon agradecia mentalmente por ter sido ele. Talvez Jimin fosse a única pessoa capaz de entender o que ele sentia. E parecer forte é exaustivo. Extremamente exaustivo.

Park retornou ao seu apartamento ainda perplexo com todos os acontecimentos recentes. Ele nunca encontrou a determinação necessária para cuidar de si mesmo, contudo, quando se tratava de ajudar Jungkook, ele conseguia tirar forças de lugares inimagináveis.

Quando abriu a porta e adentrou seu apartamento, deparou-se com seu pai no sofá, segurando uma garrafa de bebida e um maço de cigarros.

— Onde você estava, Park Jimin?

— O-oi pai, eu saí cedo para fazer um trabalho escolar com um colega. - Comentou, evitando contato visual.

— Tem certeza? - Indagou com os olhos semicerrados. — Um vizinho me disse que você estava com aquele sujeitinho do 402 desde ontem.

— Eu... Eu só estava ajudando ele, pai, nada demais...

— Você foi tão prestativo que acabou passando a noite lá sem sequer me avisar?! Oh, que gentileza! Parece que você é um excelente amigo, não é mesmo? - Ironizou enquanto se levantava e caminhava de um lado para o outro, com um sorriso debochado no rosto.

— D-desculpa, pai.

— Eu te avisei, Jimin... Eu te avisei que jamais teria um viadinho como filho. Mas você é tão teimoso, não é?! Insiste em me desrespeitar.

— Eu juro que nada aconteceu, eu só estava ajudando ele! Por favor, pai, acredite em mim, ele é só um amigo. - As lágrimas já surgiam em seus olhos e o medo se fazia presente.

— Você é completamente inútil, moleque! Sinto vergonha de ter você como meu filho. - Desferiu um tapa no rosto de Jimin. — O que vocês aprontaram juntos, hein? Quero saber de tudo!

— N-nada, pai... Não fizemos nada.

— Mentira!! - Acertou-lhe outro tapa. — Não quero ver você com amigos, Jimin. Não quero ver você gostando de um homem. Não quero te ver feliz! Você está entendendo, Park?

— S-sim, pai, eu entendi. - Entre soluços, Jimin enxugava as lágrimas com a mão no rosto, buscando aliviar a dor causada pelos tapas.

— Hmm... Tenho a impressão de que você não entendeu direito. Que tal tentarmos de uma forma diferente, o que me diz?

— P-por favor... N-não...

Sr. Park ri enquanto segura Jimin pelo pescoço e o arrasta até o quarto. Naquele instante, o jovem não demonstrava mais qualquer reação, seu corpo havia parado de responder. O medo se apossou de tudo, deixando Park sem saber o que viria a seguir.

O mais velho lançou-o ao chão e iniciou uma série de golpes e pontapés em seu corpo, ainda mais intensos do que o habitual. As lágrimas de Jimin já haviam cessado e suas energias já estavam totalmente esgotadas.

Enquanto dava chutes no garoto, Sr. Park tirou um maço de cigarros do bolso e acendeu um, tragando com vigor e expelindo a fumaça para cima. Inclinando-se, ele apagou o cigarro na pele de Jimin, queimando-a instantaneamente, enquanto encarava profundamente seus olhos.

Park soltou um grito de agonia, porém sua voz foi abafada pela mão e pelo riso do seu pai, que já estava prestes a acender o cigarro mais uma vez.

Jimin se perguntava se era realmente tão ruim a ponto de merecer tanto sofrimento. Será que aquela era a sua recompensa por tudo o que havia feito? Será que suas ações até então não tinham sido o bastante para convencer o universo de sua capacidade?

A verdade é que Park Jimin realmente acreditava que não servia para nada. Cada esforço que fazia para vencer esse sentimento de insuficiência apenas parecia levá-lo mais fundo na escuridão de seus pensamentos.

Naquele momento, enquanto soltava gritos de dor a cada cigarro aceso e apagado em seu corpo, Jimin experimentou pela primeira vez o desejo de morrer. Por alguns instantes, ele pensou que a morte poderia ser menos angustiante.

Ele se convenceu de que somente na morte encontraria o silêncio capaz de aliviar suas dores e recordá-lo da paz que o esperava. Ver a sua pele queimada e sangrando despertou nele a ânsia pelo descanso, pela calma.

Jimin gritava.

Gritava.

E gritava cada vez mais alto.

Seus gritos não se resumiam somente à dor física, mas principalmente à angústia psicológica que o consumia. Tudo o que ele desejava era a liberdade, ansiava por se ver livre daquele sofrimento injusto.

Sr. Park ria.

Ria.

E ria cada vez mais alto.

De que forma alguém poderia achar graça ao assistir a dor de seu próprio filho? Jimin considerava que talvez o inferno não fosse tão terrível quanto imaginava, afinal, o demônio já o encarava ali, diante de seus olhos. O inferno estava presente no seu próprio lar.

Quando a sua voz se silenciou e o seu corpo enfraqueceu, Jimin deitou-se e fechou os olhos com firmeza. Naquele instante, recordou-se dos momentos compartilhados com Jungkook: os risos, as lágrimas, o apoio mútuo, as palavras reconfortantes.

Jungkook era a força de que Jimin necessitava.

Era a tranquilidade que seu coração ansiava.

Era a serenidade pela qual sua mente suplicava.

Naquele momento, Jimin percebeu o quanto dependia dele e como jamais poderia alcançar tudo isso. Contar com a ajuda de Jungkook era um desejo distante, e Jimin apenas ansiava desesperadamente por socorro.

A dor o corroía aos poucos, como uma chama voraz que consome tudo em seu trajeto, restando apenas cinzas de desespero e desamparo. Park experimentava uma imensa solidão, sentindo que cada grito de sofrimento ressoava no vazio de sua própria existência.

Talvez a morte realmente fosse a solução...

REFUGE ❦ JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora