Eu lembrava claramente, de como tudo havia acontecido, antes de ser obrigada a casar com Vethos.
Era um dia de Sol quando meu pai havia pedido para Sath me arrumar para me encontrar com meu noivo, minhas irmãs mais novas estavam escoradas à porta do meu quarto com um ar sonhador, diziam que meu noivo aparentava ser perfeito e cavalheiro e o quanto esperavam que o dia delas também chegasse. Naquele dia eu estava ansiosa, finalmente eu estaria livre das garras de meu pai, ou era o que eu achava.
Lembro- me de assinar o documento com uma pena preta sorrindo de orelha a orelha, mas meu sorriso se desfez ao ver meu pai mais feliz ainda, ele havia me vendido ao diabo e eu não havia notado a tempo. A tatuagem havia queimado sobre a minha pélvis após assinar o pergaminho, estava presa a ele até o fim dos meus dias imortais. Não tive a chance nem de me despedir de minhas irmãs no dia, pois meu noivo tratou de me levar logo para a sua propriedade.
Os sorrisos simpáticos de Vethos desapareceram com suas promessas, ele não tinha sua habitual paciência e delicadeza. Lembro claramente da primeira vez, na qual ele rasgara meu vestido como um animal faminto e me lançara sobre a cama. Seu peso sobre meu corpo era doloroso, ele não havia perguntado se eu realmente queria aquilo e eu não podia negar pois eu era sua propriedade.
Havia sido a pior experiência de toda a minha vida, naquele dia havia muito sangue manchando os lençóis brancos da cama, meu rosto estava molhado de tantas lágrimas, minha voz falhara de tanto implorar que ele parasse e minha vulva ardia com a violência em que seu membro adentrara meu íntimo. Após o ato ele não disse uma palavra sequer e muito menos me tocou, ele me deixou lá, com a parte íntima sangrando, ele me deixou para morrer. Não sei se sobreviveria se uma das criadas não entrasse para arrumar o quarto...Abri os olhos devagar, minha nuca doía. Sentei-me devagar para evitar a tontura e olhei ao meu redor, havia um macho sentado na cadeira ao lado da minha cama, aquele que estava na floresta em meio a chuva.
Sua pele morena brilhava sobre a pequena fresta de luz que vinha da minúscula janela do aposento, seu cabelo preto era ondulado e quase tocava seus ombros, e seus olhos, seus olhos castanhos me encaravam com certa curiosidade.- Perdoe meu soldado ele não costuma agir desta forma.- O macho a minha frente disse casualmente.- Aliás meu nome é Kian, Príncipe Kian.
Permaneci em silêncio apenas observando seus movimentos, não saberia dizer qual a intenção dele ao me levar para este quarto.
- Eu não tenho segundas intenções se é o que está pensando. Bonita a aliança aliás.
- Onde eu estou? E por que me trouxe aqui?- Perguntei ignorando seu suposto elogio.
- Poderia começar me dizendo seu nome sabe...
- Katria.- Respondi impaciente.- Meu nome é Katria.
- Katria de Van Duel? A esposa de Lorde Vethos?
O nome ainda me atingia como um baque. Ele iria me entregar à corte? Iria me matar ali mesmo?
- Ele...ele lhe deu todas estas cicatrizes e hematomas?- perguntou observando atentamente minha reação.
- Em partes...por favor onde eu estou Alteza?
- Dentro dos muros do palácio, segura das garras do seu Lorde.
Ele não sabia que Lorde Vethos havia sido morto, não ainda. Duas batidas na porta fizeram eu me sobressaltar e levantar da cama.
- Não se preocupe, é meu soldado de confiança.- Ele suspirou.- Entre Vash.
O soldado feérico extremamente alto entrou me olhando de cima a baixo.
- Trago notícias meu príncipe.- fez uma curta reverência e voltou a olhar para mim.- Está fêmea certamente matou Lorde Vethos, não podemos ficar com ela, se não seremos executados junto com ela afinal ela foi considerada traidora da coroa ao matar o próprio marido, um lorde.
Cai de joelhos sobre o chão de pedra, minha garganta ardia e as lágrimas ameaçavam cair. As notícias correram mais rápido do que o esperado.
- Por favor não me entregue a coroa, eu posso ser útil Vossa Alteza.- Olhei suplicantemente para o príncipe.
Conseguia ouvir o coração dele acelerado e sua respiração ofegante.
- Vou ver o que consigo fazer por você Katria. Por hora permaneça neste quarto e não saia por nada, Vash cuidará para que não lhe falte nada.
Ele saiu do quarto sem olhar para trás, parecia inquieto ou talvez ansioso.
- Há uma bacia com água ali se precisar se lavar.- Vash apontou para o canto do aposento e se preparou para se retirar, porém parou bruscamente na porta.- A saúde do Rei não é das melhores, o Príncipe Kian estás cuidando de tudo no momento, seria de grande ajuda alguém como você.
- Como pode pode ter certeza de que poderei ajudar?
- Eu vi a tempestade, estava por perto.- Me senti nervosa com a sua confissão.- A senhorita é muito corajosa, deveria acreditar mais em si mesma, e no final das contas o Lorde Van Duel merecia.- Suas últimas palavras eram carregadas de ódio e ressentimento.
Sem mais palavras ele partiu atrás de seu mestre.
Levantei do chão e verifiquei a porta, não havia barulho de pessoas por perto. Retirei a camisa ensopada de lama ficando totalmente despida e pronta para limpar toda a imundície do meu corpo.
Afundei sobre a água gelada e comecei a esfregar meu corpo com a bucha vegetal deixada junto a um tecido para me secar.
Sequei meu corpo e lavei a camiseta, por ser a única roupa que eu tinha no momento. O comprimento do meu cabelo prateado estava absurdo, tudo por conta das tradições em que meu pai insistia em manter, precisava me livrar deste cabelo enorme. Vesti o tecido no qual me sequei e olhei em volta do quarto.
A mesa cheia de giz e tintas chamou minha atenção no aposento, talvez tivesse algo pontudo para cortar meu cabelo ali. Sobre a enorme mesa de madeira do lado oposto do quarto havia um quadro inacabado de uma paisagem, o cheiro de tinta ainda se via fresco. Abri algumas das gavetas até encontrar uma tesoura, que por sinal era um pouco pesada.
Cortei de forma disforme as mechas um pouco abaixo do ombro perante o enorme espelho ao lado da cama, porém a leveza do cabelo era incomparável. A enorme mecha de cabelo caiu pesadamente sobre o chão, era meu primeiro ato de rebeldia contra as crenças de meu pai, deu um sorriso fraco a mim mesma no reflexo do espelho. Iria procurar minhas irmãs após resolver minha situação, estava com o peito apertado de saudade de Kalijah e Kallista.
Minha marca de nascença no cóccix queimou sobre minha pele de leve, era raro isto acontecer, a última vez foi na morte de minha mãe.
A porta se abriu bruscamente fazendo eu me sobressaltar.
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Storm Queen
Fantasy"𝓔𝓼𝓽𝓸𝓾 𝓷𝓸 𝓶𝓮𝓲𝓸 𝓭𝓪 𝓽𝓮𝓶𝓹𝓮𝓼𝓽𝓪𝓭𝓮 𝓬𝓸𝓶𝓸 𝓷𝓾𝓷𝓬𝓪 𝓐 𝓹𝓻𝓮𝓼𝓼𝓪̃𝓸 𝓪𝓾𝓶𝓮𝓷𝓽𝓪 𝓪𝓸 𝓶𝓮𝓾 𝓻𝓮𝓭𝓸𝓻 𝓓𝓮𝓲𝔁𝓮 𝓸𝓼 𝓿𝓮𝓷𝓽𝓸𝓼 𝓶𝓮 𝓬𝓮𝓻𝓬𝓪𝓻𝓮𝓶" 𝓢𝓽𝓪𝓷𝓭𝓲𝓷𝓰 𝓲𝓷 𝓽𝓱𝓮 𝓢𝓽𝓸𝓻𝓶 -𝓒𝓪𝓷𝓬̧𝓪̃𝓸 𝓭𝓮 𝓢𝓴𝓲...