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O som suave de duas batidas na porta reverberou no silêncio do quarto, interrompendo meus pensamentos enquanto eu estava deitada olhando para o teto.
Ao abrir a porta, me vi diante de Kian, cujo sorriso caloroso parecia banhar o ambiente em uma luz própria. O pôr do sol alaranjado, pintando o céu através da janela, emoldurava seu rosto, realçando a elegância de suas feições. Seus olhos, refletindo a tonalidade do crepúsculo ao castanho, encontraram os meus com uma intensidade sutil. Um leve arrepio percorreu minha espinha enquanto admirava a maneira como a luz ressaltava os detalhes de seu semblante, conferindo-lhe uma beleza quase etérea. Em suas mãos, ele delicadamente segurava o vestido violeta que, apenas algumas horas atrás, eu havia escolhido com cuidado.

- Creio que seu dever não inclui trazer vestidos de festa a sua espiã.

- Estava vindo para cá lhe ver de qualquer forma.- disse dando de ombros.

Abro espaço na entrada do cômodo, indicando com um gesto que ele entre. Observo enquanto ele atravessa a porta, deixando o vestido delicadamente sobre a cama. Em seguida, ele se dirige à varanda, abrindo-a com calma. Enquanto ele se escora na balaustrada, posiciono-me ao seu lado, de costas para a varanda, compartilhando o instante silencioso com a vista que se desdobra diante do castelo.
Apesar da leve tensão entre nós devido à pequena discussão da noite anterior, percebo que ele escolheu relevar o incidente. Em meio ao silêncio compartilhado na varanda, há uma sensação de calma frágil, como se ambos estivessem conscientes do ocorrido, mas optando por deixar aquilo de lado, ao menos naquele momento.

- Como foi seu dia? Soube que duelou com 4 soldados.

- Nada demais, fiz a inspeção do descarregamento e fui ver um pouco do treinamento dos soldados de Vash, porém acabei sendo desafiada.- Dei de ombros.- Parte disso é culpa sua princepezinho.

- Em minha defesa você ainda é uma dama e é inadequado ficar no meio de tantos bárbaros.

- Idiota.- Respondi dando uma cotovelada em sua costela.

- Estou falando sério Milady.

- Estou acostumada a pouco luxo, desde pequena.- Me recusei a lembrar minha infância.

- Imagino que queira procurar suas irmãs em breve.

- Sim, sinto muita falta delas, espero que estejam bem.

- Se Tanit, Deusa da Lua permitir estarão bem e seguras.

Enquanto observava o pôr do sol ao lado de Kian, o silêncio entre nós era tão profundo quanto as cores que se mesclavam no horizonte. Nossas palavras haviam se dissipado, mas a serenidade do momento criava uma conexão mais profunda do que qualquer diálogo poderia expressar.

- Me perdoe.- Declarou ele por fim.

- Pelo quê exatamente?

- Por fazê-la passar vergonha perante os soldados, por eles acusarem você de ser minha amante...

- Tá tudo bem, aprecio suas desculpas, mais não costumo ligar para o que machos babacas falam.

Ele suspirou e voltou seu olhar ao pôr do Sol alaranjado.

- Aprecio muito sua amizade Katria.- Disse ele por fim.

- Também aprecio a sua Príncipe.

•°•×•°•

A noite já havia caído e o príncipe já havia se retirado há horas. Uma criada de maneiras suaves e habilidosas havia batido à porta para me auxiliar a me arrumar para o baile. Enquanto penteava meus cabelos, seus movimentos eram gentis e precisos, criando uma cascata de fios prateados que caíam graciosamente. A paleta de maquiagem deslizava sobre minha pele, realçando traços sutis. Em suas mãos, repousavam elegantes saltos pretos, prontos para serem calçados e completar o conjunto. Cada detalhe, desde o toque final na maquiagem até o deslizar suave dos saltos nos meus pés, era meticulosamente executado. Agora, pronta para a noite que se desdobrava diante de mim, sentia-me envolta em uma aura de elegância e mistério, exatamente como deveria ser. A criada se despediu com uma curta reverência e eu agradeci pelo bom trabalho que ela fez.
Vou em direção ao espelho com admiração. A peça abraçava suavemente minhas curvas, realçando minha feminilidade. Os detalhes delicados ressaltam a atenção aos mínimos pormenores. O par de saltos harmonizam perfeitamente com a tonalidade do vestido, acrescentando um toque de sofisticação. Meus cabelos foram habilmente estilizados pela criada em um penteado sofisticado, um coque baixo adornado por algumas mechas soltas, conferindo um ar natural e despojado. Cada fio parecia meticulosamente colocado. Quanto às jóias, um par de brincos de gota prateado com uma pedra também violeta, simples e elegantes, destacam-se sem roubar a atenção do vestido. Um bracelete prateado liso adornava meu pulso, adicionando um toque final de glamour sem exageros.
Duas batidas soaram a porta e me apressei para abrir, não que esperasse que fosse Kian. Tudo bem talvez eu tivesse um pouco de esperança.

- Se estiver pronta podemos ir Cora.- Perguntou Vash sobre um terno impecável.

- Ah sim, estou pronta!- Exclamei enlaçando meu braço ao seu para seguirmos para o corredor e direção ao enorme salão de baile.

Passamos por corredores e descemos escadas para enfim chegarmos ao salão. Dois guardas, imponentes em seus postos, abriram as pesadas portas do grande salão, revelando um mundo de elegância e movimento. Ao adentrar, fui envolvida por uma atmosfera magnífica, onde as risadas e conversas animadas preenchiam o ar, porém era possível sentir também o cinismo e a fofoca no ar.
O salão, ricamente decorado, era um espetáculo à parte. Lustres reluzentes pendiam do teto alto, iluminando a vastidão do espaço. As paredes adornadas com tapeçarias contavam histórias de tempos passados, enquanto o piso de mármore refletia a nobreza da coroa. Os convidados, trajando trajes deslumbrantes, moviam-se com graciosidade pelo salão tanto para cumprimentar alguém quanto fofocar da vida alheia. As cores vibrantes dos vestidos e os brilhos das jóias adicionaram um toque de opulência ao ambiente. Música suave fluía pelos cantos, criando uma trilha sonora adequada ao ambiente.
Vethos, imponente, posicionou-se frente a frente comigo no salão exuberante. Com uma reverência delicada, seus lábios tocaram a costa da minha mão em um beijo respeitoso. Seus olhos encontraram os meus, com isso ele sussurrou para que somente eu ouvisse.

- Damos início a operação a partir daqui, se disperse por aí.

Assenti com um sorriso e nos separamos, certamente Vash ficaria mais próximo ao Príncipe Kian e da família real, já eu mais afastada para conseguir observar melhor as pessoas ao redor.
Deslizei suavemente até uma pilastra do salão e me recostei, observando com fascinação o espetáculo ao meu redor. O vestido violeta mesclado ao preto se destacava enquanto eu absorvia a atmosfera, as risadas e conversas criando uma sinfonia envolvente. Os detalhes da decoração, as luzes cintilantes e a movimentação graciosa dos convidados preenchiam meu campo de visão. De minha posição estratégica, eu podia apreciar a elegância do salão e, ao mesmo tempo, manter-me atenta aos acontecimentos, ciente de que ali, entre as pilastras adornadas, testemunharia momentos memoráveis da noite.
Meu olhar foi atraído para os três tronos imponentes no salão, e lá, entre eles, avistei o príncipe Kian. O ar pareceu densificar-se, e meu coração pulsou com uma cadência diferente ao contemplar sua presença. Vestido deslumbrantemente, ele destacava-se como uma figura de elegância e autoridade, emanando uma aura magnética que capturava a atenção de todos ao redor.Ademais, era a primeira vez que o via com a coroa sobre a cabeça. A luz do salão refletia-se na insígnia real, adornando-o com uma majestade que elevava ainda mais sua presença. Ao lado do príncipe Kian, repousava uma tiefling, uma espécie de meio-demônio, envolta em roupas extraordinariamente chamativas. O vestido, mais um arranjo de tecido do que uma peça convencional, revelava seu corpo de forma ousada. Seu visual destacava-se pela audácia.
Desviei meu olhar da cena, consciente de minha posição como informante. Era necessário focar em minha missão e evitar pensar demais sobre o príncipe Kian e sua companhia. No papel de observadora discreta, retornei à minha responsabilidade, pronta para cumprir meu dever sem me deixar envolver por pensamentos pessoais.

- Aceita dançar Milady?- perguntou um sátiro me surpreendendo e me tirando de meu devaneio.

- Claro, seria um prazer.- Respondi pronta para me misturar e não parecer suspeita.

Uma melodia diferente envolveu o salão, e casais começaram a se aglomerar no centro. Fui conduzida pelo sátiro, cujo corpo nu, desprovido de camisa como era costume em seu povo, era uma tela viva de tatuagens e adornos. Cada centímetro de sua pele exibia intrincados desenhos e símbolos, formando uma expressão única de arte corporal. Os adornos entrelaçados em sua pele conferiam-lhe uma presença exótica, destacando-o no meio da dança.
Deslizando pelo salão, permiti-me dançar levemente com o sátiro, que guiava nossos passos com uma destreza inata. Seu corpo movia em harmonia com a melodia, enquanto eu acompanhava os movimentos da quadrilha que se desenrolava ao nosso redor. Cada passo era uma resposta delicada ao compasso da música, e a atmosfera ao meu redor pulsava com a sincronia dos pares. O sátiro, era um parceiro talentoso, que me guiava com a devida elegância.
Enquanto nos movíamos entre os casais, eu absorvia a energia do salão, entregando-me à magia daquele momento. A dança era uma linguagem compartilhada, e eu, entre movimentos graciosos e girando ao som da música, me integrava perfeitamente à coreografia, mergulhando na elegância da quadrilha.

Storm QueenOnde histórias criam vida. Descubra agora