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Esta sensação, esta sensação de sentir-se apenas uma peça de tabuleiro era tão sufocante a ponto de fazer meu estômago dar voltas. Era apenas um mero objeto, um ser destinado a procriação, teria eu escolha sobre meu futuro? Certamente não, nunca.
Mãos acariciavam meu corpo despido em todos os lugares de forma grosseira, seu membro invadia meu íntimo dolorosamente em movimentos de vaivém num ritmo brusco. Pedia mentalmente todos os dias que momentos como esses acabassem, que ele parasse de proferir lindas palavras enquanto abusava de meu corpo e partia minha alma noite após noite. Odiava, odiava cada toque, cada beijo, cada tremor de satisfação dele após me invadir. Havia sido ensinada a suportar e a lembrar que sou apenas a fêmea de procriação, mesmo que minha alma não suportasse mais era minha obrigação moral produzir herdeiros fortes e salientes.
O corpo do macho acima de mim tremeu de satisfação, senti seu líquido jorrar quente dentro de minha vulva e seu suspiro de satisfação indicar que havia terminado. Seus olhos verdes como uma pedra malaquita se fecharam revelando sua indiferença em relação ao que eu sentia durante o sexo. Ele se retirou de dentro do meu ser e levantou-se da enorme cama, vestindo seu robe preto cobrindo sua nudez. Prendendo seu cabelo na altura do ombro com uma fita de couro ele repetiu a mesma frase das diversas noites anteriores.

- Durma Katria, repetiremos o ato amanhã.

O macho se dirigiu a porta do aposento e partiu, se dirigindo como de costume ao outro aposento no qual ele fazia a mesma coisa com outras fêmeas, o diferencial era que elas queriam estar ali. Eu? Eu queria desaparecer.
Me sentei sobre os lençóis bagunçados com um pouco de dificuldade, sentia dor e nojo, principalmente nojo, nojo de não poder negar o sexo à ele. Beberiquei a água do copo deixado ao lado da cama e me recolhi novamente sobre os lençóis, estava exausta. Minhas pálpebras pesaram e me obriguei a mergulhar na escuridão, onde certamente era mais confortável do que neste lugar.

•°•×•°•

Os lençóis foram puxados agressivamente do meu corpo me acordando bruscamente, sentei-me sobressaltada e me deparando com o macho a minha frente. O Sol já raiava propriedade a fora, não era para ele estar em meu aposento. Seus olhos dizam o motivo de sua vinda, ele não precisava nem proferir as palavras. Ele iria abusar de mim, denovo.
Duas mãos agarraram meus calcanhares e me puxaram em seu encontro a beirada da cama, seus olhos passeavam luxuriosamente sobre meu corpo ainda nu, me causando arrepios na nuca.

- Por favor Vethos, agora não...

- Quieta Katria, é sua obrigação como esposa.- Brandou perto de meu rosto fazendo com que me escolhesse.

Um animal, eu me sentia a presa e eu seria devorada ali mesmo se não fizesse nada.

- Basta!

Vociferei afastando-o com um chute que não fez estrago algum, pelo contrário, só o enfureceu mais. Não tive tempo suficiente para pensar em levantar, logo suas enormes mãos comprimiam meu pescoço me fazendo engasgar com a falta de ar. Minha visão estava ficava embaçada, só conseguia distinguir a sua silhueta a minha frente e aceitar que eu morreria hoje. Não, eu não irei morrer hoje, eu ainda preciso ver o que tem fora destas paredes.
Juntei todas as minhas forças restantes e desferi um soco sobre ele, forte o suficiente para afastar o aperto. Uma brisa gélida passou pelas janelas do aposento, eu sabia que fora da propriedade o céu se escurecia, o poder em minhas veias ansiavam por sair. Levantei minha mão direita sobre a cabeça deixando Vethos horrorizado, os céus estavam se dobrando a minha vontade, esse era o fim da dor e de todo o sofrimento. Minha mão desceu em uma ordem silenciosa ao chão, ódio e confusão estampavam o rosto de Vethos. Em um mero sussurro proferi uma única palavra, a sentença de morte do macho imundo à minha frente.

- Morra.

Com uma velocidade absurda e sem qualquer chance de defesa o raio púrpura descido do céu atingiu em cheio o crânio do feérico que explodiu com tamanho impacto, meu corpo despido estava coberto do sangue de Vethos, porém o sangue era de menos no momento. Com tamanho estrago havia um barulho absurdo de criados fugindo em meio a gritos e batidas de botas vindo em direção ao meu aposento.
Sem pensar duas vezes agarrei a camiseta de manga longa deixada por Vethos noite passada sobre o chão e vesti-a, ignorando o tamanho indecente que mostrava minhas coxas desnudas.
Me sobressaltei com a tentativa de arrombamento das portas do quarto, se entrassem eu seria morta ou pior, eu havia matado meu marido, um lorde de terras feéricas do alto escalão.
Fechei a mão em punho, sentindo o céu pronto para mim se eu precisasse, eu sabia o que fazer. Eu levaria essa propriedade abaixo, sem me importar com que morreria no processo, mas eu sairia dali viva, pois eu lutaria por isso.
O trovão cantou em resposta ao meu ódio, trazendo em seu encalço uma chuva de raios sobre a propriedade. Fogo começava a devorar a estrutura com rapidez, os barulhos de arrombamento não existam mais, só restavam gritos.
Virei a chave da porta e empurrei a maçaneta para baixo abrindo a porta que dava acesso ao corredor, onde o fogo lambia a tapeçaria e os diversos quadros ali dispostos.
A liberdade estava logo ali e ela era minha. Sem olhar para trás me pus a correr propriedade a fora em direção aos campos floridos, sentindo o cheiro de madeira queimada e com os pulmões ardendo ao correr me senti viva, viva pela primeira vez na vida.

Storm QueenOnde histórias criam vida. Descubra agora