- Não estou brincando.
Ele me olhava seriamente, não havia nenhuma brincadeira em seu olhar, porém o sol estava queimando fora das minas e não havia uma nuvem sequer no céu.
- Olha, eu espero mesmo que você esteja certo pois não sei invocar uma tempestade nesse sol de rachar sem nuvens ainda por cima.- disse dando um golpe forte sobre a pedra da mina.
O feérico estreitou os olhos para mim ofendido.
- Não lhe dou motivos para duvidar de mim.
- Você que pensa.- Ele era suspeito o suficiente para mim.- Você dá muitos motivos, aliás você sabe meu nome e já eu não faço idéia...
- Rune, meu nome é Rune.
Com sua partida silenciosa, meu sorriso se amplia, uma mistura de triunfo e satisfação por ter desvendado o enigma que o feérico guardava.
•°•×•°•
O dia se desenrola monotonamente, imersos em trabalho incessante. O calor torna-se um fardo para algumas crianças, exaustas, enquanto idosos batem martelos e picaretas contra a pedra com uma fadiga palpável.
Enquanto o calor apertava e o guarda decretava uma breve pausa, Kian, evidenciando o cansaço em sua expressão suada, se aproximou de mim. Delicadamente, segurou meu rosto com ambas as mãos, transmitindo uma mistura de exaustão e afeto. Seus lábios encontraram os meus em um beijo casto e rápido, um refúgio momentâneo.- Estou exausto.
- Eu sei.- Afago seus cabelos suados sem me importar de quão imundos estávamos.
Mesmo sorrindo discretamente para Kian, minha atenção foi abruptamente desviada pela abertura da mina. O que antes era apenas uma promessa agora se transformava em um cenário que começava a escurecer rapidamente. Talvez eu não devesse duvidar de Rune no final das contas.
Deixando um beijo suave na bochecha de Kian, avistei Rune à distância. Sem hesitar, peguei a mão de Kian e puxei ele para que me seguisse.
O olhar penetrante de Rune encontrou o meu, e com destreza, ele retirou um objeto de um bolso de sua roupa. Movendo-se habilmente, ele aproximou o objeto dos nossos pulsos. Rune, cauteloso, lançou olhares furtivos ao redor, verificando se algum guarda percebera sua ação. Satisfeito de estarmos desapercebidos, ele me transmitiu um sinal discreto, indicando que era o momento.
Numa sintonia profunda com a atmosfera, percebi cada célula do meu corpo vibrando em resposta à tempestade que se formava. Em um clamor silencioso aos céus, ordenei que o vento se dobrasse a minha vontade. O ar ao redor tornou-se mais gélido, e uma brisa inicial começou a penetrar na mina, trazendo consigo finas partículas de areia do deserto que dançavam no ar. A magia em formação reverberava na atmosfera, indicando que a tempestade se aproximava, seus primeiros suspiros já se fazendo sentir no ambiente confinado da mina.- Mande a Mina de Karvalla a baixo.- ordenou Rune.
- Como?- perguntei sem interromper os ventos que ficavam mais fortes a cada minuto.- Há pessoas nos andares de baixo, não posso fazer isso Rune!
- As pessoas dos andares inferiores são assassinos, do pior tipo e não temos tempo para salvar a todos!
A consciência pesada se instalou quando percebi que, a partir daquele momento, não detinha o poder de salvar a todos. A tragédia iminente delineava um cenário onde alguns seriam irremediavelmente deixados para trás, destinados a afundar junto com a mina.
As mãos de Rune pressionavam meus ombros com uma urgência palpável, um apelo silencioso que transcendia as palavras. Seu olhar transmitia a gravidade da situação, como se cada segundo contasse e a janela de oportunidade estivesse prestes a se fechar. Era evidente que, se eu não agisse de forma imediata, a chance de fuga se dissiparia, deixando-nos à mercê dos eventos catastróficos que se desenrolariam na Mina.
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Storm Queen
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