A Obsessão do Sheik

Capítulo 6

Khalid não é a pessoa mais fácil do mundo para se conviver. Seu temperamento é irratadiço. Ele é observador e vive a um fio de explodir com toda a pressão sobre ele.  Mesmo criado em meio a costumes com o qual tem uma relação conflituosa, o futuro sheik tenta equilibrar seus instintos e sua consciência.

KHALID

Desperto com o céu ainda escuro e observo o sol nascer sobre o mar de Almasir. Apesar de todos os problemas que enfrento aqui, amo o meu país. Sempre fui fascinado pela cor do mar que só vejo aqui.

Lembro da odalisca da noite anterior. Ela tinha razão. Não sei nada a respeito da moça e me comportei como os homens que tanto recriminei mais cedo.

A dança tem todo um significado para o nosso povo, alguns estrangeiros nem imaginam quantas histórias são contadas naqueles gestos. A forma como ela dançava me fez lembrar de quando o abi me levou a uma viagem pelo deserto, como cada parada tinha suas danças e formas de celebrar a vida e nossos ancestrais.

Lamento que ele não tenha conseguido apresentar o mundo como ele o via para Zayn. Meu irmão era o mais ligado ao nosso pai. Foi quem mais sofreu quando ele partiu. E anos depois, eu tive certeza que se o abi estivesse aqui entenderia Zayn.

Mando uma mensagem para meu irmão e recebo uma foto do nascer do sol visto do topo de uma das construções antigas de Qadimia. Lá é o refúgio do meu irmão caçula, avesso ao grande centro de Qudara e à balbúrdia de Samahira. Embora venha almoçar comigo algumas vezes, quando a ummi não está.

Suspiro pensando nos tantos problemas que me cercam e exigem minha intervenção como chefe da família. Seria tão mais fácil se ambos cedessem e apenas conversassem.

A lembrança do sorriso da bailarina me assalta, logo substituída pela última imagem que tive dela. Feroz e magoada pela minha estupidez.

Idiota, Khalid.

Mais que o ardor do tapa, fiquei constrangido pela forma como a tratei pelo despeito de ter sido rejeitado. Vou pedir a Viktor que consiga o nome dela e mandarei um pedido de desculpas.

É só por isso, óbvio. Minto descaradamente para mim mesmo.

— Você é melhor que isso, Khalid Rafiq — encaro a imagem do homem refletido no espelho, fios brancos começando a surgir no cabelo desgrenhado e pela barba.

Visto um terno escuro, hoje não terei compromissos oficiais como regente de Almasir. O ar condicionado do escritório me ajudará a esfriar a cabeça.

Encontro uma mesa posta para o café da manhã e o russo folgado, que diz ser meu melhor amigo e assistente, comendo entusiasmado.

Zahira

— Tenho certeza que você nunca passou fome nessa sua vida infeliz, Viktor.

— Bom dia para você também, Rafiq.

Tomo meu lugar à mesa e observo o homem se empanturrando enquanto uma das empregadas serve meu café.

— O que você faz à minha mesa essa hora da manhã — decido perguntar e com certeza a resposta será uma evasiva

Ele sabe que não me engana, mas finge que sim e eu vou deixando.

— Não posso me interessar pelo meu melhor amigo que sumiu ontem depois de se interessar por uma das garotas da Vivian?

— Para de dar voltas, Sputnik.

— Sputnik é a... dona Fatma não merece isso — ele pondera e termina de mastigar. — Livia me ligou, parece que uma das dançarinas teve problemas com um hóspede mais insistente.