Verissimilitude

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Verissimilitude: a qualidade de parecer verdadeiro ou de ter a aparência de ser real.



No fim da tarde, começamos um pequeno tour pelas redondezas da universidade. Foi mais difícil decorar o caminho para os dormitórios do que para as salas de aula. Eu estava exausta de tanto descer e subir por corredores e pequenos caminhos feitos de pedra na grama. Meus pés começavam a doer dentro dos nikes brancos quando finalmente alcançamos o prédio A. Era uma construção mais modesta, num tom cinzento, com seis andares, cada qual dispondo de uma pequena varanda. Apesar de ser uma estrutura relativamente grande, os dormitórios não eram tão espaçosos, somente dois alunos podiam ocupá-los. Inicialmente, tive medo de compartilhar o quarto não com um completo desconhecido, mas sim com alguém da tríade de elite (Direito, Medicina e Engenharia). No entanto, Rosé explicara que, além da divisão de calouros em blocos e veteranos nas altas torres do outro lado, nossos roommates sempre seriam do nosso curso. Ao lado, dividíamos os blocos e torres com nossos cursos vizinhos: Jornalismo, Artes e Design. Portanto, havia uma cambada de gente se aglomerando no hall de entrada em cada prédio.

Andar tanto assim, parar e observar, esperar Rosé ou o outro veterano, Minke, explicar sobre cada parte da universidade em que passávamos, tinha drenado todas as minhas forças como se eu tivesse corrido uma maratona. E até então, simplesmente não consegui me misturar com resto dos calouros e muitos deles já formavam pequenas panelinhas das quais eu não tinha nenhum interesse em fazer parte. Minnie e eu ficamos juntas o tempo todo, comentando sobre alguma bobeira ou fazendo observações sobre os discursos que os veteranos davam em cada parada que fazíamos.

ㅡ Esse o busto do sr. Kim Jonghan. Ele foi o reitor durante os anos 80. ㅡ Dizia Minke, apontando para a escultura amarronzada que se prostrava no enorme jardim perto da entrada dos dormitórios.

ㅡ Que legal. ㅡ Minnie dissera baixo, olhando para frente com o mais intenso tédio. Eu balançava uma das pernas inquietamente, torcendo pra aquilo acabar logo.

ㅡ E aqui o busto da nossa reitora atual, a sra. Kim Misook. ㅡ Minke aponta para a pequena estátua que imitava bronze. Mesmo em sua forma petrificada, ela exibe uma expressão austera e intransigente, com as sobrancelhas altivas e a boca fechada numa linha rígida.

ㅡ É mãe da Jennie, sabia? ㅡ Rosé murmura, colocando as mãos para trás do corpo e se balançando lentamente.

ㅡ Sério? ㅡ isso desperta um pouco do meu interesse. Encaro a escultura novamente, não percebendo muitas semelhanças entre as duas naquele momento. As bochechas fundas, o queixo fino e os olhos grandes destoam completamente do rosto quase angelical de Jennie. Por falar nisso, não a vejo desde que deixamos o mini auditório. Infelizmente, ela deve ter mais o que fazer do que nos acompanhar de um lado para o outro no campus feito uma babá.

ㅡ Ih, filha da reitora. ㅡ Minnie estreita os olhos, pensativa. ㅡ Por que isso me soa tão...

ㅡ Jennie não é nenhuma patricinha ㅡ Rosé revira os olhos. ㅡ E entrou no curso por mérito, tá?

ㅡ Ai, eu nem disse nada ㅡ Minnie tenta se defender ㅡ, abaixa essa faca, Rosé.

ㅡ Mas você pensou. ㅡ disse eu, cutucando seu ombro com implicância.

ㅡ É que muita gente julga ela. ㅡ Rosé fez um beicinho. O grupo de estudantes voltou a se mover, Minke começou a nos guiar para a portaria dos dormitórios. Finalmente.

ㅡ Tadinha, ela deve sofrer tanto... ㅡ Minnie zomba. Rosé revirou os olhos com um sorriso e negou com a cabeça.

ㅡ Olha, pelo que eu sei você e Minnie vão ser colegas de quarto. Seulgi que organizou. ㅡ Rosé muda de assunto assim que estamos há um passo de entrar.

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