QUATRO

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Existem muitas coisas que fico pensando, mas num bar é meio difícil separar os pensamentos.

Meu livro está empacado. A editora está em cima de mim, haja vista que o primeiro livro O olhar do Pecado fez sucesso no mundo hot, eles querem que eu faça outro no mesmo estilo. Mas não queria isso, queria algo mais profundo, não algo que fosse só sexo sexo sexo. Não que eu não gostasse disso, afinal minha necessidade carnal está sempre presente.

Porém, olhando em volta, vendo as outras mesas, sinto que nenhuma atrai.

Normalmente minha escrita está ligada a meus atos do dia-a-dia. Quanto mais faço sexo, mas falo sobre isso. Quanto mais observo a vida das pessoas, mais escrevo disso. No entanto, já tem um tempo que não consigo nem uma coisa, e nem outra.

Aquele pensamento era interessante, antes eu saia vagando que nem um cara normal atrás da próxima trepada. E hoje esse maldito livro me faz perde até a vontade de trepar.

- Mas que inferno

- Olá querido, parece desolado - uma loira alta, torneada senta ao banco do meu lado, viro para dar total atenção a ela, porém a moça que está aos fundos entrando é que me chama atenção.

A menina de olhos cor de oceano perdidos, tenta procurar um lugar para se sentar. Fazia quase um dia praticamente que não havia, pois não tinha voltado em meu quarto até então. Fiquei ponderando entre a escrita, e entender o que raios deu em minha cabeça para aceitar uma estranha fica-se ali. Um: Ela parecia totalmente desesperada; Dois: Talvez, só talvez, eu tenha achado a situação inusitada demais, e resolvi participar; e Três: o maldito olhar dela não saia da minha cabeça desde o momento que coloquei os olhos nela.

Peço licença ao sexo fácil que está na minha frente, e vou na direção da moça de olhos castanho: Lívia, um nome bonito, vinha do Latim, porém diante os tantos significados deste nome, vejo que a do Latim não preenche o requisito certo, mas sim do sueco, onde Livia significa vida.

Paro de preambular os meus pensamentos e me dirijo até a mesa aos fundos na qual ela se sentou para apreciar as pessoas na janela

-Oi colega de quarto - digo com o jeito sorridente, para que ela não se sentisse desconfortável

-Olá - seu jeito me corta o coração, não sei porque, a tristeza nos olhos me fascina ao ponto de escrever mil palavras sobre isso, mas ao mesmo tempo me faz querer socar aquele engomadinho.

-Vamos, vamos. Não deu certo, e isso não é o fim mundo. Já que está em Vegas, porque não resolve aproveitar.

-Estou triste demais - ela diz voltando seu olhar para o vidro e vendo as pessoas passando.

-Você o amava? - Sei que é uma pergunta íntima demais. Mas não sei se é meu instinto de escritor querer conhecer as histórias, ou porque queria saber realmente se tinha algum sentimento pelo engomadinho.

Vejo que ela suspira, uma, duas vezes, antes de encontrar meus olhos. Ela não demonstra espanto na pergunta, mas sim tristeza

-Francamente, eu achei que o amava. Foram dez anos de relação, mas no fim eu já sabia que não o amava mais - vejo ela apertando os dedos e por instinto pego as mãos dela e começo massagear os nós feitos. E aquilo sim a pega de surpresa, mas ela não tira as mãos. Na verdade, mais parecia que aquilo a faria falar mais - No primeiro ano do nosso namoro, ele gostava de como eu de fato era. Depois ele foi mudando as coisas: "Olha porque não passe menos maquiagem, fica feio assim"; "Olha você não vai sair com um short curto assim"; ou "não se atreva a sair com sua amiga"

Lua de Mel?Onde histórias criam vida. Descubra agora