Kelvin e Ramiro estavam cada dia mais juntos, cada dia mais domésticos. Todos percebiam a diferença dos dois homens. Kelvin parou de ser chamado de rabugento por Raquel, pois agora vivia sorrindo (a menina vivia o zoando por "estar o tempo todo com as canjicas arreganhadas"). Ramiro estava sendo observado pela sua própria equipe, levava bombons em todas as reuniões, os liberava em folgas mais longas (trocando os turnos, lógico, o morro não podia ficar sozinho), liberou até 100 gramas de maconha para cada homem (e ai de quem reclamasse, já era muita coisa); eles obviamente não deram um pio além de agradecerem, o patrão estava bom demais para ser verdade e não queriam que um errinho o trouxesse de volta a realidade. Veja bem, não que Ursão fosse um patrão ruim, mas pra ser dono de um morro, é necessário que faça os outros sentirem medo, além do temor.
A verdade é que os dois estavam leves, sentiam como se estivessem pisando nas nuvens. A alegria era genuína e fazia muito tempo que ambos não se sentiam assim (isso é se algum dia de suas vidas eles realmente tiveram essa alegria toda queimando no peito).
Passaram o carnaval juntos, Ursão sempre fazia alguns eventos no morro para os moradores, todavia, nunca participava, costumava ficar em casa comendo pipoca e dormindo. Mas naquele carnaval ele foi, se divertiu como nunca antes, juntamente com seu Kevín, a qual não parava de sorrir um só segundo. Raquel estava certa, as canjicas estavam ali.
Porém, o tempo é implacável, ele não para. As responsabilidades voltam e com Kelvin não foi diferente, suas aulas da faculdade começariam na manhã seguinte, mas agradecia pelo fato de seu estágio só voltar no mês seguinte.
– Ai, não acredito que vai começar tudo de novo, que saco. — Kelvin se joga na cama de Berenice
– Porra, você ta reclamando? Amanhã eu vou ficar o dia inteiro limpando bunda de criança, ouvindo grito de criança, correndo atrás de criança. Sério. Mas eu amo meus pimpolhos, estou com saudade dos antigos e doida pra conhecer os novos.
— Muita sorte pra você, amiga, sério. Eu não ia aguentar, sabe que criança não é meu forte.
— Você é um chato, isso sim. Agora levanta da minha cama que eu preciso dormir, amanhã acordo cedo e você também. —— Kelvin levanta bufando e vai para o seu quarto, ele realmente precisava ir dormir, o próximo dia seria cheio.
Mais uma vez, Kelvin foi acordado pelo som irritante do despertador de Bere. Um dia ele ainda ia quebrar aquele celular.
Acordou com o humor de uma porta e foi direto ao banheiro tomar um banho bem gelado para despertar, mesmo que Berenice batesse na porta desesperada para que ele saísse logo.
Ele sai na maior calma enquanto a amiga tem o olhar mais mortífero possível direcionado a ele. Se arruma, se preparando para uma viagem longa e chata até Niterói.
— Bere, ja vou, ta? Qualquer coisa você me liga. —- O loiro pega a chave e arruma a mochila nos ombros.
— Acho muito engraçado você falando isso como se fosse resolver alguma coisa se eu te ligasse. Se bem que, com seu bofe também né? — Berenice morde o pão que tinha em mãos.
— Ai cala a boca, tchau!
O loiro faz seu caminho – longo – que tanto odiava até a faculdade. O trajeto todo foi mais leve que as outras vezes, pois sua cabeça rodeava as lembranças com seu Ursão.
Quase perdeu o ponto, pois estava muito focado nas lembranças que rodeavam sua memória, mas felizmente, viu a quantidade de estudantes que desciam e apenas seguiu o fluxo, suspirando em ver a faculdade enorme em sua frente.
– Ai, UFF, a única coisa boa que você me traz é o bandejão e as choppadas.
Ele balança a cabeça e vai direto pra sala de aula porque já estava atrasado, sua aula já deveria ter começado há 5 minutos.
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Complexo - Kelmiro
RomanceKelvin Santana é um jovem que gosta de viver intensamente. Atualmente, morando com sua melhor amiga, tem como seu lugar favorito os Bailes Funks do Rio de Janeiro. No ano novo, os dois amigos decidem ir até um Baile que nunca tinham ido antes, no C...