Complexo - Kelmiro

Te Esquecer

Duas semanas já haviam se passado. Duas semanas de muita alegria, sexo, conhecimento entre Kelvin e Ramiro, viviam a vida mais doméstica possível.

Mas é impossível que a vida de um criminoso seja tão cor-de-rosa. Precisava estar ativo aos trabalhos.

Havia combinado juntamente à Terra Vermelha que na madrugada do dia seguinte, invadiriam o Chapadão, visto que Soja estaria em uma viagem de negócios. Já eram quase 23:00 da noite.

– Ê Sidnêy, vem cá. — Ursão dizia enquanto tragava um cigarro, vendo seus homens organizarem os armamentos.

– Ô patrão, é Sidney.

Ursão tragou fundo seu cigarro e se virou para o homem, soltando a fumaça ao lado de seu rosto.

– É loucura minha ou você está me corrigindo, Sidnêy? Estamos indo trabalhar, mas eu te garanto que não vai ser problema nenhum atrasar um pouco pra te fazer dar uma voltinha no rio, refrescar, tô sentindo você suado.

– Que isso, patrão. Pode chamar do que o senhor quiser, tá tudo bem — Sidney dá um sorriso amarelo para o patrão e Ursão o olha com um vislumbre de sorriso vitorioso no rosto.

– Quero que você pegue seis dos homens e assuma a frente. Vocês têm que estar postos para quando os mandados do Soja venham atacar. Terão mais homens da Maré também para estarem junto com vocês. — Ursão apaga o cigarro jogando a gimba pelo chão.

– Patrão, dona Terra Vermelha já está dentro do carro e todos já estão postos. — Latrell anuncia.

– Vamos lá então. — Ramiro pega a terceira arma que levaria consigo e põe em sua cintura ao lado do suporte onde carregava um rádio para comunicação. Põe sua jaqueta e certifica que seu colete está bem ajustado, incentivando que todos os homens chegassem também.

– Lembram das regras, correto? Não atirar em crianças, mulheres, idosos e nem animais. Tenham atenção a TUDO. Se comuniquem sempre. Não entrar em igrejas, terreiros, asilos, escolas, creches, para fugir do tiroteio, nesses locais são onde mais se encontram crianças, idosos e mulheres. Evitem. E o mais importante, não tentem me trair de forma alguma. Eu garanto com toda a clareza do mundo, cristalino como a água, que irão se arrepender, caso façam. Eu mesmo me disponho a trazer o arrependimento. Entendido?

Todos respondem um 'sim' uníssono e se dirigem até a parte de fora do local, se dividindo entre os variados carros.

Ursão entra em um, direcionado por Latrell, sabendo que Terra Vermelha estaria ali.

– Preparada? — Ursão pergunta, assim que entra no carro e acende um outro cigarro oferecendo para a mulher, que aceita de bom grado.

– Mais do que nunca. — Os dois sorriem enquanto tragam ambos os cigarros. — Por que não tem nenhuma mulher trabalhando com você?

Ramiro olhou pela janela e respirou fundo, soltando a fumaça da boca, de forma quase cenográfica.

– O mundo do crime é muito sujo, Machado. Te admiro muito, admiro sua força, mas eu já vi muita coisa, Pantera me jogou nessa bagunça muito cedo. Quando não eram os próprios traficantes, era a polícia que agia com as mulheres de uma forma que eu nunca vi agirem com homem algum. Em qualquer lugar que seja, o homem só espera a primeira oportunidade pra destruir uma mulher de  formas que eu nem gosto muito de imaginar. Prefiro não fazer parte disso, tá ligado?

– Entendo. Você tem um ponto, realmente. Mas eu não temo os perigos que me assolam. Não são páreos perto de mim.

Ramiro sorriu em meio ao silêncio que permaneceu até que chegassem no Chapadão.