Um pente e rala.

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Kelvin sente seu cérebro travar quando Ramiro questiona como ele sabia seu nome. O que tinha de tão errado?

– Hein, Kelvin? Da onde você sabe meu nome? — Kelvin sente o arrepio em sua espinha ao ouvir seu nome corretamente pronunciado.

O braço que antes envolvia o corpo pequeno, agora estava flexionado e servia de apoio para um homem que continha uma expressão dura no rosto.

– Ursão, como assim... eu.. é... — "Isso, Kelvin. Ótima hora pra gaguejar."

– Kelvin, você tá aqui me espionando? Veio a mando de alguém? — Ursão direcionava a mão pro móvel perto da cabeceira, onde sabia que tinha uma arma. Precisava se defender, dependendo do decorrer.

Kelvin se sente ofendido com aquele questionamento e se senta na cama.

– Você tá falando sério? Há duas horas atrás eu estava com o seu pau na garganta, há quinze minutos estávamos assistindo desenho juntos e você realmente tá me perguntando isso? Você acha que eu sou alguma puta? Que eu me vendo dessa forma? — A essa altura, Kelvin já estava vermelho e gesticulava muito.

– Bom, eu não conheço você. —Ursão diz simples, dando de ombros.

Golpe baixo.

Kelvin ficou perplexo. Ok que eles realmente não se conheciam, mas aquilo não dava o direito de ele estar sendo tratado daquele jeito.

– Então eu me apresento, Ursão. – Kelvin enfatiza bem o nome. — Eu sou Kelvin Santana, tenho 21 anos, sou estudante de direito e trabalho como garçom em bares pra conseguir pagar os materiais do meu curso. E não, não pense que pelo fato de eu ser estudante de direito, eu estou pesquisando sobre você e sua família, porque essa seria a última coisa que eu teria a pensar. Por ser tão sabichão, deveria saber que seu nome e sua cara vivem estampadas nas reportagens de dia a noite. Agora se o senhor não se importa, eu vou dormir, porque amanhã bem cedo eu quero voltar pra minha casa.

Kelvin se virou e deitou na cama, de costas para Ramiro. Respirou fundo algumas vezes e se amaldiçoou por não ter calado a boca. Quem ele pensava que era pra falar daquele jeito com o DONO do morro? Adormeceu rezando para que Deus, todos os Santos e Orixás o protegessem naquela noite.

Do outro lado, Ramiro ia se deitar, também de costas, confuso pelo que tinha acontecido. Ursão nunca havia permitido que alguém levantasse a voz pra ele e agora tinha um homem, de menos de 1,60, que conhecia há dois dias falando poucas e boas pra ele? O que tinha acontecido com Ursão? Cadê o traficante assustador? Recheado de pensamentos e dúvidas, o cacheado foi dormir com um sorriso no rosto. Mas quem estava sorrindo ali, não era o Ursão, era Ramiro, que estava escondido em si há muito tempo.

Kelvin sentiu a luz do sol bater em seus olhos pela fresta da cortina e despertou ao lembrar que não estava em sua cama. Olhou para o lado vazio da cama e se lembrou de onde estava. Respirou fundo e esfregou as mãos no rosto, se preparando mentalmente para ver um homem que ele apostava que estava muito rabugento.

Se levantou e abriu a porta, dando passos lentos em direção ao andar de baixo, sendo direcionado pelo som de um assobio bonito que soava na casa. Estranhou, enquanto caminhava e seguiu o assobio, chegando até a cozinha e vendo Ramiro de costas para ele, no fogão, fazendo um omelete, vestindo uma bermuda soltinha e um avental, dando a visão perfeita das costas lindamente definidas.

Kelvin poderia babar naquele momento, até que Ramiro se virou pra ele, com um sorriso muito, muito lindo.

Ué?

– Como você dorme, hein, Kevín. Babou meu travesseiro todo.

"Esse homem deve ser louco, não é possível."

Complexo - Kelmiro Onde histórias criam vida. Descubra agora