— O que deseja, Aimé? — Millie questionou, enquanto digitava rapidamente alguma coisa no seu computador. Era possível ouvir o barulho agressivo das teclas do teclado. Os olhos de Millie estavam vidrados na tela do computador. Ela era uma secretária muito esforçada.
— Eu gostaria de um tempo de descanso. — Aimé estava sentada numa cadeira em frente a mesa de Millie.
— Algum problema com seus quebradiços? — Millie não parava de apertar as teclas e prestar atenção no computador.
— Sim, estão doendo tanto! Preciso de um descanso, por favor. — Aimé fez toda uma atuação fingindo estar morrendo de dor, gemendo um pouco. Millie agora estava observando Aimé, espremendo os olhos com uma expressão séria. Nesse momento, Aimé quase teve sua atuação por água a baixo porque achava que Millie não acreditaria, mas:
— Volte logo, está bem? — Millie voltou para o seu computador. Aimé deu um sorriso contente e assentiu.Agora, Aimé já estava longe do palácio de Ahuza, atualmente na rua de pequenas casinhas das criaturas celestiais que não eram da realeza. Nessas ruas, o cenário era cheio de cidadãos comerciando seus objetos valiosos uns com os outros. Tinha uma quantidade grande de pessoas espalhadas por essa rua em específico, sempre andando e algumas parando para verificar as barraquinhas com produtos, mas Aimé permanecia tranquila andando sozinha com uma capa e um capuz preto que cobria o seu rosto. Suas mãos agarravam a capa para cobrir o seu vestido que entregava que ela era da realeza. Ela optou por entrar em uma casa grande, que claramente não era uma casa comum. Entrando dentro dessa casa, era comum ver que era inteiramente preta, ainda que tivesse uma mesinha com algumas velas e um homem misterioso utilizando uma máscara branca que cobria todo o seu rosto sentado nessa mesa.
— Eu... — Aimé abaixou seu capuz, agora revelando sua identidade, um pouco receosa por falar com um desconhecido sinistro. — Eu vim porque quero contratar seus serviços.
— Sente-se, Aimé. — Ele apontou para a outra cadeira. Aimé obedeceu ele, e logo se sentou desconfortável e encolhida.
— Qual o caso e o plano? — Ele pegou uma katana que estava no chão suja de alguma coisa que era difícil de identificar, e começou a limpar a mesma com um guardanapo. Aimé engoliu a seco vendo aquela cena, mas tentou não olhar mais para a katana.
— O caso é sobre a Celine. — O homem parou imediatamente de limpar a katana, como se estivesse em choque.
— Você não quer, não é mesmo? Não é o primeiro cara que eu entro em contato pra isso. Eles sempre recusam. — Aimé Franziu as sobrancelhas, cansada de procurar por mais homens valentes.
— Bom, lidar com a Celine é algo arriscado, mas... — O homem desviou sua atenção da katana, olhando para o lado onde viu um quadro pendurado na parede com a foto de uma pequena garotinha sorridente andando de bicicleta. — não tenho mais nada a perder. Apenas diga, o que ganharei em troca? — O rapaz voltou sua atenção para a katana, voltando a limpar.
— Uma visita ao mundo oculto. Ouvi dizer que sua filha faleceu, certo? Eu posso te ajudar a ver ela lá.
O mundo oculto era basicamente o lugar que todos os mortos iam, sejam humanos ou celestiais, eles ficavam lá. As almas dos humanos iam para um lugar diferente dos celestiais, claro. Os espíritos celestiais não sofriam nenhum castigo, eles apenas ficavam em um salão imenso guardados dentro de cápsulas preciosas, já que depois de mortos viravam fumaça. Entretanto, mesmo depois de mortos, essas cápsulas guardam momentos íntimos dos mortos. Se alguém quisesse ver o que seu parente fazia quando ninguém estivesse por perto (quando ainda estava vivo), era só ir lá e ver, mas o pior, é que era uma entrada muito perigosa. Seres que não tinham a mesma capacidade de poder de uma divindade, não podia entrar porque seria extinto automaticamente. Aimé não tem acesso aquela área em específico, mas ela tinha um poder que havia aprendido com um profeta humano, o qual era um discípulo de um dos deuses do Ahuza. Talvez possamos discutir melhor sobre isso em um outro capítulo.
— Não é perigoso? — Por trás da máscara branca do homem que cobria toda a sua face, dava pra ouvir uma voz que gaguejava e ao mesmo tempo estava exaltada. Desde a morte da filha, ele nunca mais foi o mesmo desde então. Ele não se importava em saber das memórias que sua filha tinha sozinha: como brincar de bonecas, pegar biscoitos escondido dele, dar manteiga para um cachorrinho comer, não importava se seria uma memória importante ou fútil como todas essas citadas, ele apenas queria poder estar na mente dela para se sentir mais próximo de sua ente querida.
— Não se preocupe, meu bem. Eu vou dar um jeito. Certa vez, aprendi com alguém um truque mágico de controlar mentes fracas, e assim farei com Celine.Entre as árvores floridas e algumas com frutos, onde era possível ouvir o som dos passarinhos enquanto voavam, e até mesmo o vento fazia as folhas das árvores terem aquele som tão maravilhoso que a filha de Alohim amava, lá estava ela, sentada na beira de um lago observando seu reflexo. Celine estava em uma floresta no Ahuza que foi criado no Palácio das Ilusões (o nome é autoexplicativo). Alohim criou aquela floresta especificamente para Celine, visto que a mesma sempre acompanhava as plantas e as árvores d mundo humano bem de longe. Aquele era o lugar preferido de Celine, ainda que não fosse o ideal que ela sempre sonhou. Naquela hora que estava conversando com Alohim no quarto, ela tentou rebater sua mãe sobre ela finalmente poder visitar o mundo mortal e conhecer mais sobre os humanos, mas claro, sua mãe havia negado. Acontece que, assim que Celine ameaçou fugir do Ahuza, Alohim ficou uma fera e lhe colocou de castigo. O castigo de Celine significava 3 coisas diferentes: sem lanches, sem música e sem flores. Essas eram as três paixões dela e seus maiores hobbies que distraiam ela durante todos esses anos. Agora, nossa pequenina Celine estava aparentemente abalada, tocando as águas com seus dedos delicados. Sua respiração estava falha, mas ela respirou fundo para tentar não ter uma crise no seu pequeno mundinho ilusório. Tudo estava aparentemente tranquilo ali, até ela sentir a presença de um outro ser. Ela não se preocupou, afinal, estava deprimida demais por ter brigado com sua mãe e a única coisa que ela queria era sumir.
— Celine? — Era a voz de Aimé. Celine virou sua cabeça para trás, observando a figura de Aimé se aproximando cada vez mais. Celine apenas deu de ombros e continuou observando o lago, mas preferiu retirar seus dedos da água e pôr eles na grama.
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Desejada
FantasyNo mundo celestial, uma deusa (criadora de tudo e de todos), acaba tendo uma filha que não foi planejada, mas que por puro instinto maternal, decide não se livrar dela. Acontece que, no cenário que tem um mundo cheio de divindades e um mundo de huma...