Desejada

Capítulo 1 - parte 2.

Alohim, comovida pelas ações bondosas e amorosas de Liam, visitava ele com mais frequência do que visitava os outros fiéis. Liam sempre presenteou sua amada com vários presentes caros, sempre criava músicas e poemas inspirados nela e gostava de sempre lhe fazer massagem quando ela vinha. Nisso, Alohim trocou carícias com Liam e eles não pararam desde então. Liam prometia amor e devoção até o fim de sua vida, dizendo até mesmo que nunca se casaria e nem tocaria moça alguma. É claro, Alohim caiu nos encantos desse rapaz, e não demorou muito para que ela assumisse ele como seu marido, ainda que não pudessem ter um matrimônio de verdade. 

- Millie, eu não sei se irei conseguir falar com ele... - Alohim suspirou cansada escondida atrás de uma árvore envolvida por diversos arbustos e algumas outras árvores que ficava bastante afastada da colheita de Liam. O rapaz estava utilizando suas ferramentas para colher trigo enquanto transpirava suor por todo seu corpo. Esse tipo de coisa fazia ele tirar sua blusa, se mantendo vestido apenas com as calças que eram rasuradas com alguns pequenos cortes. 
- Minha senhoria, caso seja do seu agrado, eu mesma posso dar o aviso a ele. - Millie estava atrás de Alohim sem a visão de Liam. 
- Aviso? - Cerrou o punho fortemente, se virando para olhar nos olhos de Millie. - Que aviso? O que lhe diz que eu pretendo acabar com meu matrimônio por causa de uma bobagem dessas? Eu nem mesmo sei se é verdade... 
- Bom, não viemos aqui atoa, certo? - Millie ignorava o tom raivoso de Alohim, mantendo a mesma serenidade de sempre. 
Alohim ignorou sua insegurança e se afastou de onde estava. Se guiou para longe dos arbustos e das árvores que tinham sombra fresca, agora deixando ela sentir o calor do sol quente. A deusa chamava atenção por onde andava, ainda mais quando era um dia ensolarado e fazia sua pele retinta brilhar de modo belíssimo. Os seus cachinhos esvoaçaram-se na ventania junto com o seu vestido simples e elegante que cabia bem no seu corpo, contornando suas curvas. Liam não havia notado a sua deusa, mas assim que desviou o olhar dos trigos, observou sua amada com tamanha ternura com a boca entreaberta. 
- Mei jethan wahala tayar at einich. - Alohim afirmou, ditando o principal idioma que é costume dela se comunicar nos céus. No início, ela só se comunicava desse modo com todos os humanos, então eles tiveram que aprender a se comunicar com esse idioma, mas por Liam, ela aprendeu o idioma dos humanos. Era costume das divindades dizer essa frase quando ia cumprimentar os humanos.
- im halle emour zat. - Liam fez uma breve reverência curvando apenas a cabeça. Largou os equipamentos que estava usando para a colheita e pegou sua blusa, que estava no seu ombro, para enxugar o suor do rosto. Ele não queria que a deusa visse ele naquele estado; inteiramente suado e sujo.
- Meus parabéns pelo noivado. - A divindade sempre foi um ser que exalava autoridade e liderança. Mesmo que dentro dela ela estivesse querendo gritar e espernear, ela não foi criada para se humilhar e muito menos perder a postura. Levou seus braços para trás de suas costas, dando as mãos e fazendo elas se juntarem. Seu nariz empinado demonstrava um ar de superioridade, e ela podia sentir que Liam estava se sentindo confuso pelo o que ela disse.
- Noivado? Quem contou para você? - Seus olhos vagaram pela paisagem ao seu redor em busca de pensamentos que pudessem lhe ajudar a raciocinar.
- Liam, está ciente que traiu a confiança de uma deusa? - Ela respirou fundo, tentando se controlar para não causar um caos no local. Liam firmou os olhos nos dela agora, revoltado com o que ela disse.
- Alohim, como você mesma disse da última vez que nos vimos: eu sou um humano e tenho que manter minha linhagem. Preciso de filhos para me ajudarem no trabalho, já que em breve estarei velho e não vou ter mais forças para trabalhar. Ter um relacionamento com uma deusa significaria abandonar tudo que tenho aqui na terra, e principalmente, viver em total sigilo. Eu não aguentaria isso, então tive que procurar por uma moça de bom agrado e formosa para que pudesse me dar filhos saudáveis e bonitos. - Ainda que estivesse claro o seu tom de indignação, ele umedeceu seus lábios e deu um longo suspiro antes de voltar a ter um tom mais suave e tranquilo, enquanto Alohim apenas observava ele sem expressar nenhuma emoção, mas claramente rígida e frígida. - Eu amo você. Nunca amei tanto alguém como te amo, mas não posso viver desse jeito. Creio que até mesmo você deve concordar comigo nisso, pois é uma mulher sábia e madura.
- Liam, entendo o que você está passando. Se sente que isso vai te fazer feliz, então tudo bem, estarei removendo suas memórias em que eu estava cuidando de você, e talvez assim, você não fique magoado. 
- Alohim, por favor, não faça isso... Eu a amo, eu apenas queria alguém para ter filhos e ter status, isso não significa que quero esquecer você... Podemos conviver sigilosamente. Minha noiva nunca iria contrariar uma deusa. - Liam franziu as sobrancelhas e arregalou seus olhos com a informação da deusa. A divindade apenas empinou o nariz e virou sua cabeça para não ter que olhar para Liam.
- Liam, eu sinto que te deixar com essas memórias é o melhor castigo para um humano que se relacionou com um ser de diferente espécie, portanto, não vou remover. - Liam estava ofegante com tanta ansiedade naquele momento. Ele se ajoelhou e engatinhou até os pés da deusa, beijando os mesmos com carinho. O coração de Alohim doía com aquela atitude dele, tanto que pressionou os olhos com força tentando não chorar enquanto ouvia diversos "obrigado" vindo de Liam.
- Estarei indo embora agora. Não vou mais procurar você, mas pode continuar sendo meu devoto. Apenas não expresse sentimentos românticos por mim. - Quando Liam ouviu as últimas palavras da deusa, ele moveu sua cabeça para cima, afim de ver seu rosto uma última vez, mas ela já havia transportado daquele local, lhe deixando ajoelhado sozinho. Ele com desgosto, se deleitou em lágrimas quentes enquanto seu corpo perdia as forças e se jogava no chão, assim deitando o mesmo enquanto ele expressava sua tristeza gritando ofegante e maltratando a grama do chão com suas mãos.