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Me encontrava no topo de um morro, a grama era alta e estava molhada. Ao horizonte, era possível de se ver a orla da praia. Nela, dava para observar uma família sentada na areia. Pai, mãe e duas meninas.

Me movo para mais perto da ponta do morro, tendo uma melhor visão da família.

O homem estava tomando algo em uma garrafa enquanto a mulher tomava sol. As meninas brincavam na areia, uma delas construía um castelo de areia e a outra desenhava algo na areia com um graveto.

—mamãe! Olha o castelo que eu fiz!— não...aquela voz... não pode ser...

—está lindo, querida.— A mulher ruiva se vira para ela, se sentando na canga de praia branca, de frente para a garota com um sorriso gentil nos lábios.

Dou três passos para frente e só paro quando percebo que é o fim do morro que olhando de perto, mais parecia um penhasco. Me ajoelho na grama, sentindo lágrimas quentes escorrerem pelas minhas bochechas —isso de novo não...— Minha voz saí rasgando minha garganta, como virar um copo de gim puro de uma vez.

—papai, você também acha que está lindo?— a garotinha olha para o homem, que continuava a beber o líquido da garrafa.

O homem se levanta da cadeira de praia e anda até a garotinha que desenhava algo na areia.

—o que você acha, Alícia, o castelo dela está bonito?— balanço a minha cabeça negativamente e tento me aproximar, esquecendo que a beira do penhasco se encontrava mais a frente.

—acho que ela deveria ir nadar um pouco, que tal levar ela para nadar papai?— a garotinha havia mudado, agora era uma adolescente com marcas de queimadura pelo corpo —talvez assim, ela esfrie um pouco a cabeça....

—seu filho da puta!— minhas respiração estava ofegante e desnorteada, minha visão estava embaçada e pontilhada.

Eu grito, não um grito qualquer, um daqueles que vem do fundo da alma.

Me jogo para fora da cama, caindo no chão com tudo e acabo derrubando o abajur que ficava ao lado da minha cama, indo pro chão junto comigo. Rastejando, consigo alcançar a cômoda que ficava ao lado da cama mas, ao mesmo tempo, distante.

Derrubo de cima da cômoda três potinhos de remédio, tento ler os rótulos mas minha visão não ajudava nem um pouco.

—merda.....— pego um de cada e coloco na boca, os engulindo de uma vez. Me rastejo até a parede e encosto as minhas costas nela, olhando para cima.

Essas memórias, aparecem as vezes mas não são minhas. Eu não sei dizer ao certo, não são minhas, não podem ser minhas, eu não conheço aquelas pessoas!

Uma batida, duas, três, quatro? Quem sabe, minha cabeça doía demais para prestar atenção em qualquer outro som ou imagem.

—Loren!— um barulho alto de algo sendo derrubado com força. Levanto minha cabeça, vendo três figura altas paradas á porta.

Sinto alguém me agarrar pelo braço esquerdo e me levantar, me carregando pra algum lugar. O abraço macio dos lençóis da cama encontram partes descobertas do meu corpo.

Murmurinhos davam para ser escutados e o efeito dos remédios começava a bater, me fazendo querer dormir imediatamente. Relutante, tento me levar, mas uma mão me impede, empurrando o meu torço para se deitar na cama novamente.

—está tudo bem, agora, volte a dormir. Não...do seu lado...preocupe...— as palavras pareciam embaçadas, nada fazia muito sentido. Mas aquela voz, ah sim, aquela voz rouca e calma eu reconhecia.

Another Life - GhostOnde histórias criam vida. Descubra agora