Capítulo 5

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Ela juntou as mãos em frente ao corpo, receosa. Não sabia como as pessoas da cidade reagiriam a vê-la vestida daquele jeito e não esperava se mostrar como estava para um desconhecido. Sentia o corpo quente, um tanto envergonhada.
– Eu estava esperando uma pessoa. – Falava baixo, mantendo certa distância entre os dois.
– Quem cometeria o crime de fazê-la esperar? – pegou um biscoito e mordeu – principalmente quando a dama faz doces tão saborosos.

Ela sorriu, sentindo algo diferente com a maneira que estava sendo tratada. Algo bom. Parecia que ele a via como realmente era. Esse dia estava sendo no mínimo surpreendente.

– Acho que não importa, já que não sei se ele ainda vem. – O olhava com atenção, parando para analisar cada parte. Precisava se lembrar onde o tinha visto.

– Nesse caso, espero que minha companhia seja suficiente para a senhorita. – Ele se aproximou, estendendo a mão para levá-la até a toalha e ela aceitou.

O jovem tinha olhos azuis como o céu claro das primeiras horas da manhã. Seu rosto parecia esculpido em mármore, sem uma mancha de sol ou qualquer outra marca na pele. Ainda assim, o que mais chamou a atenção dela foi a pele macia de sua palma.

– Como você se chama? – Era delicado ao trazê-la para perto.
Segurou sua outra mão para que ficassem de frente um para o outro. Ele era levemente mais alto do que ela, com ombros largos e uma postura elegante. Algum tipo de creme deixava o cabelo curto no lugar.

– Ah, isso não é importante. – Ela desconversou, soltando uma das mãos..
Se afastando, ela trouxe algumas mechas para a frente do ombro, se certificando de que cobriam as extremidades do queixo. Não queria arriscar acabar com o encanto que estava vivendo caso ele a visse de outra maneira. Algumas pessoas poderiam dizer que o estava enganando, mas tinha gostado tanto de ser, pela primeira vez, "a dama" que valeria a pena continuar.

– Tudo bem, não precisa me dizer então. – Ele riu, melodioso, e pegou mais um biscoito.

Eles se sentaram no centro da toalha, rodeado pela comida que levara. O silêncio era quebrado apenas pelo farfalhar das árvores e o sutil movimento das águas.

– Esse alguém que estava esperando é especial para você? – questionou, interessado.

– É difícil dizer. – respondeu, suspirando.

Sabia que não estava sendo clara sobre nada e esperava que isso não fosse um problema. Não queria continuar pensando em todos os motivos possíveis para o atraso, que já estava se transformando na ausência, de Ardan. Decidiu conduzir a conversa para que se tornasse sobre ele, quem sabe assim descobrisse algo que ajudasse a recordar de onde o conhecia.

– O que estava fazendo na floresta?

– Tenho o costume de procurar donzelas solitárias e lhes oferecer minha brilhante companhia. – Respondeu brincalhão.

– Parece que tenho muita sorte então – ela riu, levando as mãos ao rosto. – Você não é daqui, não é? Nunca o vi. – jogou o verde.

– Moro na cidade vizinha. – começou – Meus pais são comerciantes e passo a maior parte do tempo cuidando dos negócios da família.

Ainda era relativamente nova essa categoria de trabalho que não produzia nada, apenas faziam trocas atrás de trocas levando coisas de uma cidade para outra. A cobrança de tributo em dinheiro ao invés de animais, colheita e outros produtos havia sido instituída quando ela era criança. Entretanto, muitas pessoas não tinha aderido a isso no dia a dia, principalmente as pessoas mais antigas que já tinham um forte sistema de equivalências para pão, carne, grãos, verduras e ferramentas. Eventualmente, ela mesma trocava uma garrafa de leite por meia dúzia de ovos com a família de Ardan. Tinha voltado a ele de novo. Sacudiu a cabeça querendo ficar no presente.

GiselleOnde histórias criam vida. Descubra agora