34 - Açougueiro

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Bianca

- Então temos uma sequência de assassinatos bem parecidas, mas não temos um serial killer? - Samuel indaga olhando os papéis a nossa frente.

- Basicamente... o que não faz sentido pra mim. Se você comparar essas fotos. - Coloco as três fotos uma ao lado da outra.

- Três pessoas decepadas, no meio de uma floresta... - Meu amigo murmura, procurando algo mais.

- Sim. E se você olhar bem aqui no canto, vai ver que tem uma espécie de símbolo. - Aponto para o lado superior esquerdo de cada foto. - Não consigo identificar ao certo o que é, você?

- Não... mas é bem parecido mesmo. Consegue ver a semelhança nesses cortes? - Samuel aponta cortes abaixo do pescoço e perto dos braços. - Parece que estavam marcando antes de cortar.

Samuel e eu ficamos em silêncio, analisando novamente as fotos, passando uma a uma e vendo a semelhança dos cortes e machucados entre as vítimas.

- Samuel, se voce reparar bem, os braços direitos de todas as vitimas estão cicatrizados, e os esquerdos não. - Ele pega as fotos que mostram detalhadamente a lateral direita de cada corpo.

- Os membros não foram cortados ao mesmo tempo. Foram em dias diferentes. Provavelmente semanas.

- Então não temos só um assassino, temos um torturador também. - A todos que disseram que era uma perca de tempo reabrir casos pois não encontraríamos nada... recebam essa.

-  Marcavam as vítimas como gado? Não faz muito sentido um corte limpo aleatoriamente perto de um membro que você vai arrancar em seguida. Nem mesmo pra tortura.  - Samuel fala depois de um tempo.

- É... se você fosse um torturador iria se contentar em fazer apenas um corte em um lugar já predestinado a ser arrancado? - Repito, tentando fazer com que faça sentido na minha cabeça, mas não faz. - A não ser que você tenha fetish em cortes de açougue.

- E usa como tabela de corte para praticar antes de cortar uma vaca e fazer isso de forma mais humana? - Samuel arqueia a sobrancelha com o paralelo ridículo que criamos.

Acabamos rindo apesar da situação.

- Isso não está sendo muito humano da nossa parte. Por favor Samuel, nos lidamos com vidas... vidas perdidas mas ainda são vidas.

- Eu acho melhor você calar a boca... tá ficando cada vez pior. - Ele da dois tapinhas no meu ombro e assente com pesar.

- Ok, tudo bem. O que temos até agora? Um serial killer torturador que provavelmente espalhou os pedaços dessas vítimas pela cidade ou redondezas. - Meu amigo bate palma, entusiasmado, apontando pra mim. 

- Boa! Muito bom esse é um ponto muito importante nesse tipo de caso. - Ele vira as costas e começa a mexer em várias pastas. - Aqui tem todas as ocorrências que relataram exatamente isso na epoca. Membros encontrados pela cidade. Todas em parques pouco frequentados.

- E você tinha isso assim? A mão? Fácil desse jeito? - Arqueio a sobrancelha olhando desconfiada em sua direção.

- Eu sempre tive uma queda por casos arquivados... e todos esses estão. A diferença é que não fizeram uma conexão entre eles. E aparentemente nós fizemos. É só encontrar os detalhes.

- Apesar da semelhança essa pessoa não é nem um pouco açougueira. As cenas do crime estão sempre limpas, cirúrgicas e teatrais... como se fosse montado para ser visto assim.

- O que provavelmente foi. Psicopatas gostam de receberem os créditos por seus cenários. - Concordo em silêncio.

- Se temos cortes cicatrizados, significa que talvez ele tenha se desfeito dos membros com as vítimas ainda vivas. O que ajudaria a não encontrarem um corpo, já que não existe um. - Anoto nosso raciocínio em uma folha branca ao lado das fotos.

- Isso seria bem inteligente. - Samuel olha o relógio no pulso rapidamente. - Está tarde Bianca, infelizmente nós temos que ir. Analisaremos isso novamente quando tivermos tempo.

- Não... - Murmuro triste. - Está começando a ficar empolgante.

- São dez da noite. Eu tenho uma vida! - Dramatiza. - E você também, vamos. - Guarda as coisas rapidamente e me puxa para fora da sala. - Fizemos um grande progresso. Vamos comemorar.

- O que quer fazer? - Pergunto colocando a mochila nas costas.

Samuel leva uma mão próxima a boca, e simula uma garrafa.

- Não, você sabe que não bebo assim. Eu vou pra casa.

- Qual é... - Coloca as mãos no meu ombro, me parando subitamente. - Apenas uma vez, só hoje.

- Não, obrigada. Você me deixa em casa e vai beber. - Dou dois tapinhas no peito dele e sorrio.

- Dia difícil? - Cassandra pergunta ao me ver encostada no balcão da cozinha sem fazer nada

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- Dia difícil? - Cassandra pergunta ao me ver encostada no balcão da cozinha sem fazer nada.

- Não sabia que estava em casa. - Murmuro cansada. - Mas não exatamente, só foi um dia longo.

- Quer conversar? - Ela se aproxima o suficiente para me fazer sentir sua respiração em meu rosto.

- Samuel e eu reabrimos um caso complicado, e o que tudo indica é que estamos lidando com um serial killer psicopata. - Ajeito minha postura, me sentindo intimidada com a proximidade.

- Serial killer? Parece interessante. Que tipo? - Se mostra genuinamente interessada.

- Do tipo que arranca pedaços do corpo em dias diferentes e espalha pela cidade. - Cruzo os braços. - Sabe, esse... tipo de caso é interessante de investigar mas é tão cansativo, exaustivo eu diria. Me sinto esgotada quando deixo a delegacia.  - Massageio as têmporas. Cassandra arquia a sobrancelha e transfere o peso do corpo para uma perna.

- Por que?

- Fico pensando nas vítimas, no desespero delas, na esperança de que alguém as procurem, de serem encontradas vivas, e quando elas finalmente se dão conta de que ninguém chegará e que estão mortas. E depois eu penso nas famílias, recebendo a notícia de que a pessoa que elas amam está morta, e que dia após dia passará no jornal que encontraram uma parte do corpo. É doentio. - Me afasto subitamente e me sirvo de um copo de água gelada.

- Estou achando que você precisa extravasar. O seu trabalho exige demais do seu físico e principalmente do seu psicológico. Você precisa beber. - A ruiva propõe animada.

- Acho que beber seria pouco para tirar tudo o que tem na minha mente agora. - Abro a geladeira e a encaro por um tempo, não havia nenhuma bebida ali, e eu definitivamente não irei a nenhum bar.

- Você precisa pegar menos plantões, na verdade deveria trabalhar apenas os seus, é por isso que existe escala. - A voz terna não esconde o maldito sermão que ela adora repetir sempre que pode. - Se você acha que beber não é o suficiente para limpar a sua mente, creio que eu possa ter uma ideia melhor. - Um sorriso descarado e cafajeste nasce vagarosamente em seus lábios, seguido da única sobrancelha arqueada, completando a cara de safada.

- Que seria? - Arrisco perguntar, mesmo com medo da resposta.

- Gozar é sempre uma boa opção. - Dá de ombros despretensiosamente.

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