43 - Parceiras de crime

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- Assim sua visita vai acordar. - Sussuro segurando o riso enquanto passo a toalha pelo corpo.

- Quantas vezes eu preciso te dizer que não me importo com isso?

Cassandra abre a porta e damos de cara com Soler, que nos olha de cara feia. Meus olhos saltam de surpresa e me apoio no ombro de Cassandra, e logo a empurro para fora do banheiro.

- Sinto muito. - Praticamente corro até o quarto e me sinto uma adolescente que levou a primeira namoradinha para casa e foi pega pela mãe. - Ela deve estar querendo me matar. Estamos muito dispostas para quem tem comprisso logo pela manhã.

A ruiva da de ombros e me conduz para cama com ela.

- Só não quis parecer rude e dar um fora explicitamente.

O assunto morre quando o toque do telefone de Cassandra ecoa pelo quarto. Meu semblante muda e todo meu bom humor se esvai. Vou para o meu lado na cama e me deito de costas para ela, e confortavelmente com a minha raiva.

- Espero que você não tenha que sair às três horas da manhã para acudir um amigo.

- Miguel, não esperava uma ligação sua a essa hora. - Atende falando em português, o que me faz prestar ainda mais atenção, mesmo que não queira. - Não, eu não estava dormindo, mas sim acabou atrapalhando... pode falar mesmo assim... estou com a Bianca, mas não tem problema, desenrola.

Viro levemente em sua direção e a observo por alguns segundos. Telefonemas a essa hora geralmente significam problemas.

- Fico feliz em ouvir isso, mas não pretendo resolver de fato nesse momento. Faça como combinados e fique com ele por enquanto, divirta-se e logo mais conversaremos sobre como traze-lo para cá... até mais.

Levanto para buscar um copo de água e sinto Cassandra vir atrás de mim.

- Bia...

Levanto a mão no ar, impedindo que ela continue.

- Eu não quero saber. - Me sirvo de água e engulo a minha raiva.

- Estou com o Alexandre, Bianca. - Sinto o copo escorregar de meus dedos e a água ficar ainda mais difícil de descer.

- O que?

- Eu estou com ele. - Me conduz pelo braço para longe dos cacos no chão.

- O que você quer dizer com isso? Como assim "estou com ele"?

Sinto meu corpo inteiro entrar em estado de alerta e um frio crescente na espinha. O que raios ela está fazendo?

- Não tenho como explicar, eu estou com ele e é isso.

- Você vai trazer ele pra cá? Pra perto da gente, de mim? - Minha voz sai aguda por conta do desespero.

- Irei traze-lo para perto de mim.

Sacudo as mãos não ar, confusa e tento segurar o choro.

- Quem é Miguel?

- Um amigo do meu passado, ele mora no Brasil. Foi quem o procurou.

- E pra isso você teve que me expor pra esse "amigo"? - Pergunto de forma acusatória andando pela sala. - Cassandra eu te confiei a minha história.

- Não! Não, Bianca, eu não te expus. Apenas disse que exista um cara, eu que pesquisei a vida dele e entreguei para Miguel, a única coisa que sabe é que Alexandre é um predador. Só isso.

Limpo com força a lágrima que umedece minha bochecha.

- Eu confiei em você. - Sussuro.

- Exatamente por isso que não pude deixar esse casa a solta. Não quando não pagou pelo que te fez e principalmente quando estava tão perto do Pedro e da Beatriz. Não podia ficar parada sabendo disso.

- Eu não fiquei... parada, Cassandra. - Paro de perambular de um lado para o outro, me sentindo ofendida.

- Não foi isso que disse. - Ela se aproxima e segura minhas mãos trêmulas. - Você cuidou de si mesma e protegeu o Pedro e Beatriz dele, isso significa muita coisa, Bia.

Assinto respirando fundo, é alguma coisa.

- E o que você... pretende?

- Eu não sei, achei que iria ficar empolgada ao saber que o tinha, mas não sei o que fazer.

Me preparo mentalmente para proferir o que penso.

- Você vai mata-lo, não vai?

- Não é a única capaz de matar alguém para me proteger.

- Cassandra, não quero que suje as suas mãos.

Ela nega sorrindo levemente.

- Também não queria que sujasse as suas e mesmo assim sujou. Por muito menos você fez algo para me proteger de uma ameaça, e por mais que não goste ou que até mesmo me prenda por isso depois, não deixarei aquele stronzo solto por mais nenhum dia. Nem que ele se torno um prisioneiro eterno.

- Tudo bem... sei que não há nada que eu diga que irá te fazer mudar de ideia. - Ela assente. - Mas eu não quero saber de mais nada, nenhum detalhe, o que fez ou deixou de fazer com ele. Já sou cúmplice o suficiente, e isso, apesar da motivação, não é moralmente certo, e eu sou policial, Cass, entende a gravidade disso? A minha vida e a minha carreira também estão em risco.

- Não irei te envolver em mais nada. - Ela me puxa gentilmente para um abraço apertado. - Só queria que soubesse que não quero esconder mais nada de você. Mesmo que seja isso.

Devolvo o carinho em seu cabelo e solto a respiração pesada.

- Agora somos parceiras, criminalmente. - Rio sem humor da piada ridícula.

- Nem brique com isso, agente.

Me desvencilho sem jeito de seus braços e dou alguns passos para trás.

- Preciso juntar os cacos. - Prendo o cabelo em um coque baixo, e seco as lágrimas do rosto.

Eu não sei o que falar ou pensar. Em um piscar de olhos a noite virou uma tragédia. Cassandra e eu estamos cometendo crimes. Desde quando eu perdi a minha ética e moral dessa forma? Quando que saí do lado das mocinhas e virei cúmplice e a vilã?

Cassandra se abaixa em silêncio ao meu lado e me ajuda a arrumar a pequena bagunça e após isso fomos para o quarto ainda sem proferir mais nenhuma palavra.

Demorei a pegar no sono, com os pensamentos ansiosos e embaralhados, mas em algum momento ao decorrer da noite fria o sono me alcançou.

Criminal LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora