38 - Insinuação

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Oito meses depois.
Bianca

- Você chegou. - Ouço a voz de Cassandra ao longe. Respiro fundo tentando me manter pacífica, tiro meu sapato, o casaco e a bolsa do ombro, deixo a chave em cima do aparador e me viro para ela.

- Sim. - Tento não soar grosseira. Cassandra estava sentada na cozinha, tinha uma caixa de pizza em cima da mesa acompanhada de uma garrafa de vinho e duas taças, uma cheia pela metade e a outra vazia.

- Demorou hoje. - Sua voz saí abafada, parecia incerta em iniciar uma conversa comigo. Paro de frente ao corredor e a respondo ainda de costas.

- Estou com muitos casos. - Abro um botão da blusa, na tentativa de me sentir menos pressionada. - Com a máfia, inclusive. - A encaro depois de muito tempo, suas sobrancelhas estavam arqueadas e o semblante sério. - A italiana e a russa.

- Bianca... eu não quero começar essa conversa desse jeito. - Ela levanta, se aproxima e para a centímetros de distância, conseguia sentir o seu perfume e a sua respiração no meu rosto, e precisei fingir que isso não me afetou. - Se passaram oito meses... e eu não tive culpa. - Deixo uma risada curta escapar.

- Não? - Questiono a um fio do meu autocontrole, a voz saindo mais grave do que gostaria e o rosto esquentando de ódio.

- Você matou aquelas pessoas por que quis. - Seu tom é calmo apesar de severo.

- Matei aquelas pessoas por sua causa. - Devolvo ácida, jogo grosseiramente minhas coisas em cima do balcão e me preparo pra pequena guerra que iniciamos.

- Eu não pedi que o fizesse, Bianca.

- Era preciso? Não, pera, deixa eu ver se entendi o seu raciocínio. - Levanto as mãos no ar enquanto falo, e as passo pelo cabelo, colocando-os para trás. - A máfia russa te tira de casa no meio da noite se passando pelo seu melhor amigo, fazem ameaças de morte, te quebram na porrada, aonde pasmem você fica a um passo da morte, mas é um detalhe insignificante, claro. E você espera que eu cuide das suas feridas, costure os seus machucados, compre remédios, leve ao médico e deixe por isso mesmo? Era isso que você esperava que eu fizesse? - Minha voz aumenta gradativamente acompanhando a minha raiva e indignação.

Ela respira fundo, coloca as mãos no bolso e assente.

- Era exatamente isso que gostaria que tivesse feito. - Parecia que havia escutado a piada mais idiota do mundo, de tão ridículo que isso soou.

- Você acha que eu sou alguma imbecil? - Pergunto indignada. - Existem mafiosos na porta da minha casa ameaçando a minha...colega e você espera que eu fique de braços cruzados? Cassandra, eu não deixo criminosos a solta e muito menos no meu quintal.

Ela pisca algumas vezes de boca aberta enquanto me encara.

- Pera... você disse mafiosos russos?

- Pelo menos umas três vezes. E mafiosos Italianos também.

- Como... como você sabe disso? - Sua expressão parecia confusa e perdida.

- Bianca Madson, Polizia di Stato e Operazioni Speciali, muito prazer. - Estico minha mão em sua direção ironicamente. - Eu fiz o meu dever de casa, Cassandra. Investiguei, consegui pistas, pesquisei e bum... máfia russa. Não são tão invisíveis quanto pensam que são, só é preciso um pouco de paciência, determinação e... motivação, e logo conseguimos identidade de alguns deles.

- Então você sabia? E desde quando você faz parte das investigações especiais? - Se afasta em choque, a voz mais alta do que o normal, o rosto surpreso e o peito subindo e descendo rapidamente. - Sabia que eram mafiosos quando os matou e prendeu os que sobraram?

- Sim. - Ignoro seu questionamento quanto ao meu cargo. Se passaram oito meses, Cassandra, as pessoas são promovidas.

Ela bebe de uma voz o líquido que havia na taça e me encara surpresa, eu diria.

- Ficou maluca? - Grita enquanto bate as mãos na mesa, fazendo as taças e a garrafa dançarem.

- Está perguntando se eu fiquei maluca? - Questiono quase incrédula.

- Sim Bianca! Quero saber se você perdeu completamente a porra do seu juízo... caralho você matou e prendeu criminosos importantes! - Ela passa ao mãos pelo cabelo e corpo de forma exasperada, parecia a beira de um colapso.

- E você se envolveu com eles. - Pontuo amargamente fazendo-a cessar seus passos inquietos. - Por que?

- Isso não importa. - Sua voz falha no meio da frase e ela entra no modo defensivo.

- Não? Emboscadas de criminosos no meio da madrugada não importam?

- Abaixa o tom de voz, nossos vizinhos não precisam saber. - Pede nervosa mudando nossa conversa para o português.

- Ah não? É, claro que não Cassandra. Nossos vizinhos não precisam saber que tipo de envolvimento você possui com máfias! - Falo ainda mais alto, mesmo que nossos vizinhos não entendam minha língua materna.

- Por favor... essa conversa não precisa virar um escândalo. - Limpa as mãos nas coxas, Cassandra estava visivelmente nervosa e eu vou descobrir exatamente o porquê.

- Talvez eles não precisem saber, mas eu preciso. E se você não quiser me contar por bem, irei arrancar de você por mal. - Pego a garrafa praticamente cheia e jogo do outro lado da cozinha.

- Porra... Bianca, são duas horas da manhã! - Sinto mãos desesperadas me segurarem com força, antes que eu pegue qualquer outra coisa.

- MATEI TRÊS HOMENS POR SUA CAUSA! - Me debato sob seu aperto, ficando ainda mais irritada. - O mínimo que pode fazer é me dizer o motivo de estarem atrás de você.

- Não pedi que fizesse isso. - Ela parecia mais calma ou eu que estava exaltada demais.

- Eu ouvi da primeira vez. - Murmuro entre dentes. - Mas ao contrário de você, me preocupo com alguém além de mim, sua filha da puta! - Meu cotovelo acerta sua costela, fazendo ela me soltar rapidamente. - O que você está me escondendo?

- O que? - Pergunta em um murmuro baixo.

- O que você está me escondendo? - Levo minha mão direita até as costas. - Quem é você, Cassandra? - Envolvo meus dedos trêmulos no metal frio e a encaro perdida.

- Bianca... o que... o que você está insinuando? - Ela parecia ofendida, mas isso não é suficiente para me fazer voltar atrás.

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