16 - Vulnerável

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Ouço a porta da sala abrir e espero a ruiva me chamar, avisando que chegou, como sempre faz ao chegar em casa, mas ao invés disso, o impacto de algo caindo no chão é o que anuncia que alguém chegou. Caminho cautelosamente até a sala, e vejo Cassandra caida no chão, completamente suja e com algumas manchas de sangue pela roupa e na pele exposta.

- Caralho. - Corro até ela, e me abaixo com cuidado ao seu lado, analisando sua situação, que estava uma completa porcaria. Tinha sangue e terra em todos os lugares e é difícil distinguir onde está machucado ou não. - Ok. - Respiro fundo e prendo meu cabelo para trás. - Isso vai doer um pouco. - Viro lentamente o corpo dela e apoio suas costas no chão, e a pego nos meus braços de uma vez, o que a faz soltar alguns gemidos. - Pelo menos você não está completamente inconsciente.

Coloco seu corpo com calma no sofá e tiro aos poucos as almofadas, tentando a deixar o mais confortável possível, o que é praticamente impossível numa situação como essa. Pego o kit de primeiros socorros no banheiro e volto para sala, observo de longe os machucados e porra, eu simplesmente não sei por ondo começar, ela está um lixo.

- Ruiva, cê tá me ouvindo? - Me responde com um murmúro indecifrável e decido ignorar qualquer tipo de comunicação. Vendo o caos que ela está, acabo começando pelo rosto, limpando o sangue de seus lábios, nariz, supercílio e uns arranhões na bochecha e um pequeno corte na testa. Não quero nem imaginar que tipo de briga essa maluca se meteu, se o rosto tá assim eu não quero nem imaginar o que está embaixo da sujeira de todo o resto.

- Eu juro que se você passar esse algodão em mais algum lugar, eu te acerto. - Disfere suas palavras de ódio e engraditão em um sussuro arrastado.

- Nessa marra toda nem parece que tá um lixo e toda quebrada. - Devolvo no mesmo tom e pressiono o algodão em mais um corte. Cassandra segura meu pulso com força demais pra quem está semi-acordada. - Solta ou eu te machuco mais. - Abre os olhos vagarosamente e me encara carrancuda. - É sério. Solta ou eu te acerto. - Ameaço e levanto a mão apenas para dar seriedade ás minhas palavras. Ela pondera, mas solta, e eu volto a limpar seu rosto. - Quer me dizer em que raios de briga você se meteu para chegar em casa dessa forma? - Pergunto sem disfarçar minha raiva e ela revira os olhos.

- Não é nada demais. - Afasta minha mão e tenta levantar, mas a dor a impede, ela leva a mão há costela e deita novamente.

- Nada demais? - Levanto a blusa que estava praticamente grudada em seu corpo e praguejo. - Cassandra, isso aqui tá praticamente verde! Caralho, a probabilidade de ter quebrado é grande. A gente precisa ir para o hospital.

- Não. - A grosseria na voz me fez recuar um pouco, odeio quando ela usa esse tom comigo. Tá, ela nunca usou, mas acabei de descobrir que eu odeio mesmo assim.

- Olha. - Respiro fundo. - Isso não é hora de bancar a fodona, muito menos de ser arrogante. Você tá quebrada, tem corte pra todo lugar e eu nem consigo dizer o que é sangue ou não. Eu não posso cuidar de você aqui.

- Não pedi pra que cuidasse. - A arrogância me faz ficar paralisada por alguns segundos com a boca aberta, Cassandra me afasta enquanto levanta com dificuldade e vai pra cozinha. Observo a cena e sorrio sem acreditar que ela está agindo assim.

- Você se mete numa cilada, chegada fudida em casa e eu estou errada em tentar ajudar? - Pergunto incrédula indo atrás dela, tentando manter a calma, mesmo que fosse difícil. 

- Já disse que não pedi que cuidasse de mim. - Esbraveja completamente fora de si.

Recuo e assinto com a cabeça. Ok, se vai ser assim por mim tudo bem.

- Foda-se. - Ela vira pra mim sem entender e vejo a confusão em seu rosto. - Foda-se, eu não perguntei porra nenhuma. - Dou de ombros e caminho em sua direção, a prendendo contra a parede. - Você ta na merda, e eu vou te ajudar, não dou a minima pro seu chilique ridículo. Não quer ir pro hospital? Tudo bem. Então você vai sentar a sua bunda nessa cadeira, calar a porra da sua boca, e me deixar te ajudar. E eu juro, juro que se você me der mais uma repostinha petulante e arrogante eu mesma vou socar a sua cara, entendeu? - Os olhos arregalados e a surpresa em seu rosto me faz recuar. - Desculpa. - Ela comprime um sorriso e concorda em silêncio.

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