Nada será como antes

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Soraya entrou no quarto que ela dividia com Simone, trancou a porta e foi direto para o banheiro. Ela não queria mas precisava lavar de seu corpo os últimos minutos. Precisava tirar da pele o cheiro de sua mulher, o suor dela, a saliva, o gozo.

Enquanto estivesse tão presente em sua carne tudo o que havia acabado de acontecer, ela não conseguiria pensar. Ela iria ceder. Ela não era a rocha que Simone Tebet era. E isso não podia ser assim. Não agora. Não depois de tudo.

Por isso, ela ligou o chuveiro na temperatura mais quente que conseguiu suportar e começou a esfregar sua pele. Como se pudesse arrancar o amor que sentia por aquela mulher assim.

Enquanto a água quente escorria e deixava sua pele vermelha, a cabeça de Soraya não parava de repassar sua história com Simone. Todo o tempo em que se negaram viver esse amor, até os dias de hoje.

Seria mentira dizer que não se desejaram desde o primeiro momento em que colocaram os olhos uma sobre a outra, enquanto ainda eram professora e aluna. Mas nada aconteceu naquela época. Ela se formou, saiu dali, se casou e construíram uma vida separadas. E elas conseguiram viver assim por muitos anos, até se reencontrarem na vida política.

Simone como sempre se mostrou muito solícita e ofereceu ajuda para ensiná-la a sobreviver naquele ambiente. Hoje ela sabe que isso foi fundamental. Sem o apoio da morena que estava na carreira há muito mais tempo, talvez, ela não tivesse conseguido mesmo.

A partir dali, parecia que havia um imã puxando uma para a outra. Elas passavam muito tempo juntas e quando não estavam juntas, estavam pensando uma na outra.

Passaram muitos meses em negação, buscando se convencer de que aquilo era uma grande amizade. Tentando sufocar o desejo enorme que sentiam uma pela outra.

Até que um dia estavam indo juntas para o novo apartamento funcional de Soraya em Brasília e pegaram uma bela chuva no caminho. Entraram na casa absolutamente encharcadas e, assim que fechou a porta, Soraya foi logo tirando a camisa molhada do corpo, sem nem pensar muito no que estava fazendo.

Quando finalmente olhou para trás percebeu o que havia feito da forma mais contundente. Os olhos de Simone estavam fixos em seus seios cobertos pela renda branca do sutiã. A boca da mulher estava aberta e ela parecia em transe.

- Simone?

- Oi - ela respondeu sem tirar os olhos dali.

- Você está olhando... - Soraya disse sem graça.

Naquele momento foi como se a mulher mais velha tivesse despertado de uma hipnose. Levantou os olhos até os de Soraya, enquanto abria e fechava a boca em busca do que dizer.

- So-Soraya... me perdoe! Eu não sei nem o que dizer... me desculpe! Eu... eu não deveria...

Sentindo a agonia da mulher, naquela situação, Soraya resolveu ser honesta. Se aproximou dela, tirou a mão que ela havia colocado na frente dos olhos e disse, quase num sussurro:

- Você não precisa se desculpar... eu gostei.

Simone olhou para ela de olhos arregalados por alguns minutos antes de soltar suas mãos e virar as costas.

- Eu acho melhor eu ir...

- Ir para onde, Simone?

- Para casa...

- Simone está caindo a maior tempestade lá fora e você está encharcada. Vai acabar pegando uma gripe. Vamos subir e tomar um banho. Ainda temos muito trabalho a fazer.

- Ba-banho? - a morena perguntou como se nunca tivesse ouvido a palavra e, então, Soraya percebeu que não havia deixado claro que tomariam o banho separadas.

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