"Sei que errei e tô aqui pra te pedir perdão"

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Soraya acordou no dia seguinte e se sentou à mesa com o seu filho para tomar o café da manhã. Enquanto a criança comia ela se perdeu em seus pensamentos e só voltou para a realidade quando ele perguntou:

- Por que você está triste, mamãe?

- O que? Não, meu amor, a mamãe não está triste. Só pensando - ela respondeu assustada.

- Você tá triste igual a mamãe Si!

- Por que você está dizendo isso, filho?

- Porque a mamãe tá triste. Eu vi ela chorando. Por que?

- Eu não sei, filho... mas as vezes os adultos também ficam tristes. Lembra como você ficou triste no dia que esqueceu seu cavalinho de pelúcia no hotel?

- Aham! Você e a mamãe Si me levaram na sorveteria e me deixaram tomar um montão de sorvete - o menino falou com brilho nos olhos.

- Pois é. As vezes acontece algumas coisas na vida dos adultos e eles também ficam tristes...

- Já sei - a criança interrompeu - vamos levar a mamãe para tomar sorvete!

Soraya riu com a inocência do filho:

- Eu acho que é uma boa ideia. Você pode convidá-la para tomar um sorvete com você. Ela vai gostar.

- Você não vai?

- Não, querido! Acho que ela vai gostar de passar um tempo com o casca de bala dela que é quem?

- Eu!!! - Luiz gritou animado.

- Então... vão vocês.

- Mas você também está triste...

- Mamãe está bem, meu amor! Agora termine de comer suas frutinhas porque eu vou te levar para a escola hoje... o que você acha? - Soraya perguntou, tentando animar o filho e fazê-lo esquecer dos problemas delas duas.

- Oba! - ele gritou.

Terminaram de comer e enquanto a babá arrumava Luiz, Soraya foi se arrumar também. Sua conversa com o filho só a encorajou a fazer aquilo que tinha planejado durante a noite de ontem. Se Simone não a atendia no telefone e não respondia as suas ligações, ela iria pessoalmente ao gabinete da ministra e só sairia de lá depois de falar com ela.

Depois de prontos, saíram juntos de casa e Soraya pediu ao motorista que fosse direto para a escolinha de Luiz. Em poucos minutos estavam na frente da escola e ela desceu do carro para levar o menino. Ao voltar para o veículo, Rui perguntou:

- Para o Senado, Senadora?

- Não, Rui, hoje não. Preciso ir à Esplanada dos Ministérios primeiro.

Ele assentiu através do espelho retrovisor e seguiram. O trânsito estava surpreendentemente calmo hoje e chegaram ao local mais rápido do que Soraya esperava. Sua respiração estava descompassada e suas mãos tremiam, mas ela não se deixaria vencer pelo nervoso. Desceu do carro, colocou sua melhor expressão de segurança no rosto e andou a passos firmes em direção ao gabinete da ministra do MPO.

Quando chegou lá, encontrou Fernanda sentada ao lado da recepcionista. As duas a olharam como se estivessem vendo um ser de outro mundo, com a boca entreaberta e a pele pálida. Ela não pediu permissão ou sequer deu "bom dia" a elas e foi direto em direção à porta da sala de Simone. Ela sabia que a esposa já estaria lá nesse horário. Quando colocou a mão da maçaneta, ouviu a assessora dizer:

- Soraya, você não pode...

O olhar que a loira dirigiu à menina foi tão furioso, que ela deu um passo para trás e reformulou a frase:

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