Soraya caminhava a passos largos pela esplanada dos ministérios. Depois que Simone Tebet saiu de sua casa tão magoada, ela se arrependeu de cada palavra que havia dito e da forma como tinha tratado a mulher que apenas tentou ser gentil com ela. Ela nunca aguentou ver Simone triste ou chorando e, ao que parece, isso não mudara.
Ela esperou mais alguns minutos no escritório para se acalmar e, quando saiu de lá, pediu desculpas à Carol e disse que teria que terminar o treino mais cedo porque precisava resolver uma coisa. A menina vendo o seu semblante e sabendo quem tinha estado ali, concordou sem questionar.
A loira, então, tomou um banho e vestiu um conjunto branco de pantalona e uma blusa que tinha uma das mangas exageradamente longa e ia até abaixo de seu joelho. Ela arrumou o cabelo e fez a maquiagem, pegou os famigerados convites e saiu.
No caminho, ela parou em uma floricultura e comprou uma orquídea para Simone. Ela queria se desculpar pelo comportamento horrível que teve e tirar aquele olhar triste do rosto da mulher. Além disso, ela aceitaria o convite para irem juntas à festa. Seria bom passarem um tempo uma com a outra e evitaria comentários e especulações sobre estarem separadas. Todos sairiam ganhando.
Quando finalmente chegou ao gabinete de sua esposa, Soraya já havia criado muitas expectativas em sua mente e estava se sentido até animada, embora não soubesse o porquê.
Parando em frente a mesa da secretaria da ministra ela a cumprimentou e perguntou:
- A Simone já está aí?
Ao que a secretária respondeu gentilmente:
- Está sim, senadora! Só um minutinho que eu vou anunciar a senhora...
As últimas palavras da funcionária foram ditas às paredes porque, após ter a confirmação de que a esposa estava lá, Soraya não esperou por mais nada e caminhou em direção à porta, abrindo-a sem bater para avisar sua chegada.
Surpreendentemente, a cena que encontrou dentro do gabinete a fez ficar parada ali por alguns segundos, boquiaberta e sem saber como reagir. No meio da sala ampla estava sua esposa, de costas para ela, abraçada a uma mulher morena de cabelos longos e lisos que ia até abaixo da cintura. Ela podia ver as mãos femininas da menina subirem e descerem pelas costas da ministra, que tinha seu rosto apoiado nos ombros dela.
Quando a mulher percebeu sua presença rapidamente soltou Tebet que se virou e a viu ali também. Nesse momento, Soraya se recuperou do susto, que foi substituído pela raiva. Ela podia sentir a fúria em cada célula do seu corpo. E, por uma reação natural, se preparou para o embate.
- Olha... me desculpem! Eu não queria atrapalhar o casal - ela disse, sarcástica.
Simone, que tinha as pupilas dilatadas, ela não sabia se pela raiva ou pelo susto ou por sei lá o quê, respondeu rapidamente.
- Soraya, você sabe que não é nada disso que você está pensando...
A senadora parecia nem ter ouvido. Se ela tivesse um superpoder de lançar fogo com os olhos, essa menina já estaria carbonizada nesse momento.
- No seu gabinete, Simone? Logo você? Parece que sua cabeça está virada mesmo.
- Soraya, calma, por favor! Vamos conversar... -
A morena tentou, mas a esposa continuou falando:
- Vocês deveriam, pelo menos, ter ido a um motel. O dinheiro dos contribuintes não é para isso... Mas, também, o que esperar desse governo, não é mesmo?!
- Soraya, por favor! - a emedebista suplicou, enquanto passava as mãos pelos cabelos pretos.
- Soraya, nada aconteceu aqui, eu estava apenas... - a garota começou a falar mas foi interrompida.
- Cala a sua boca que eu não estou falando com você!
- Dona Soraya... - ela tentou novamente.
- É senadora Soraya Tronicke pra você. Sua intimidade é com a minha esposa, não comigo...
Simone viu que precisava interferir. Ela conhecia bem o temperamento da esposa. Então, ela puxou sua funcionária para trás pelo braço e disse:
- Fernanda, me dê uns minutinhos com ela, por favor. Depois a gente conversa. Me desculpe!
Soraya, ouvindo isso, argumentou:
- Não precisa dispensar sua ninfetinha, Simone. Eu interrompi mas ainda dá tempo de você dar umazinha antes do expediente. Você sempre gostou.
A ministra sentiu suas bochechas queimarem ao ouvir sua mulher falar assim, na frente de um funcionário. Ela estava completamente descontrolada. Simone fez sinal, novamente para que a menina deixasse a sala e ela saiu.
- Soraya, você está maluca? A Fernanda é uma funcionária. Nada aconteceu aqui.
- É ela, não é? Foi o cabelo dela que eu encontrei nas suas roupas. Era ela que ficava te ligando e mandando mensagens o tempo todo. Não era? Responde! - o tom de voz de Soraya ia aumentando a cara palavra proferida.
Com isso, Simone se aproximou dela, a segurou firme pelos dois braços e disse calma mas firmemente:
- Pare de gritar! Eu estou no meu ambiente de trabalho.
- Ah, agora você lembrou que isso aqui é um ambiente de trabalho?
- Soraya, nada aconteceu aqui. Eu cheguei arrasada da sua casa pela forma como você me tratou depois que nós nos beijamos. Eu acabei não conseguindo me controlar e desabei na frente dela. Ela quis me dar um apoio. Foi só.
Com isso, a mulher mais baixa riu. Uma gargalhada alta e sem humor.
- Ah, que lindo! Ela quis consolar a patroa. Eu sei muito bem o que ela está querendo te dar, Simone! E não é apoio!
- Você já está sendo ridícula, Soraya! Aliás, o que você está fazendo aqui, depois de me enxotar da sua casa, igual um cachorro?
- Eu vim trazer essa droga de convite, que você fez o favor de esquecer lá - a filiada ao Podemos disse, enquanto jogava os referidos convites em cima de sua esposa.
- Aproveita o meu e convida a sua toy girl para ir. Sinceramente, Simone, na sua idade...
- Na minha idade o que, hein, Soraya? E a Carol? Ou você acha que eu esqueci que quem estava se esfregando com a personal a poucas horas atrás era você.
- Voce é ridícula, Simone... ridícula!
- Por que você não convida a Carol para ir à festa? Já que não quer ir comigo...
- Você sabe que é uma ótima ideia? - Soraya caminhou em direção a Simone e pegou um dos convites, que ela havia acabado de recolher do chão, de sua mão - ela será uma ótima companhia.
A ex-prefeita segurou o braço da loira antes que ela pudesse se afastar e disse:
- Você não ousaria...
A sul-mato-grossense mais jovem olhou profundamente nos olhos negros de sua conterrânea e retrucou:
- Não, meu amor? Aguarde e verás! - ela sacudiu o braço para se soltar do aperto da esposa e se dirigiu em direção à porta.
- As suas flores - Simone disse, olhando o vaso de orquídea em cima da mesa - não vai levar? Ou são para mim?
- Claro que não são para você! Por que eu te daria flores? - ela respondeu nervosa, se entregando.
- Então para quem são? - a emedebista perguntou.
- Não te interessa, Simone! Não te interessa. - Soraya respondeu, enquanto deixava a sala.
Ao passar pela porta, encontrou Fernanda ao lado de fora, de cabeça baixa e aparentando ter chorado. Mas ela não se compadeceu nem um pouco.
- Você já pode voltar lá para acalmar sua patroa. Ela está precisando.
A menina apenas levantou os olhos e a ouviu.
- Mas pelo menos lembrem-se de trancar a porta dessa vez.
Soraya disse, enquanto caminhava para fora do gabinete e jogava o vaso de orquídeas no primeiro latão de lixo que ela encontrou.
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Deslizes
FanfictionSerá que os pequenos deslizes do dia a dia são capazes de destruir um grande amor?