A teia fina da esperança

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Simone abriu lentamente os olhos e percebeu que, mais uma vez, acordava sozinha em uma cama fria e uma vida vazia.

Fazia quase 3 meses que Soraya e Luiz haviam se mudado. Durante esse tempo, ela pegou o filho todos os finais de semana e passou o máximo de tempo que podia com ele.

Era fácil manter os finais de semana livres agora, já que durante a semana trabalhava umas 14 horas por dia. Afinal, o trabalho foi a única coisa que sobrou para preencher seus dias.

Ela não suportava chegar em casa e encontrar aquele silêncio. Com a senadora, a casa estava sempre em movimento. Ela estava sempre ouvindo música, tomando vinho, cantando, falando e rindo. Agora, quando Simone atravessava as portas de casa, sentia a solidão engoli-la.

Ela sempre teve medo da solidão e sabia que a vida política era uma vida solitária. Ela sempre havia se sentido sozinha, mesmo casada com o Eduardo. O relacionamento deles era frio e distante. Para ele, nunca foi problema ela passar muito tempo fora de casa e quando estavam juntos, parecia que viviam vidas separadas.

Soraya era diferente. Ela fazia questão de sua presença. Gostava de fazer as coisas junto com ela, fosse assistir TV, sair para jantar, conversar ou passar horas namorando e fazendo amor apaixonado.

O furacão loiro, como ela costumava chamá-la, foi uma verdadeira revolução na vida dela, mas sua vocação política, ou sua ambição por poder, havia tirado isso dela. E agora ela não conseguia se acostumar com essa vida morna e solitária novamente.

Ela havia sentido falta da mulher todos os minutos de todos os dias desde que ela a deixou. Porém, nos últimos dias, a saudade estava ficando quase insuportável.

Ela a havia visto apenas duas ou três vezes desde que se separaram. Soraya sempre dava um jeito de evitá-la quando ela ia buscar ou levar o Luiz. E, nas poucas vezes em que se viram, não trocaram mais de uma dúzia de palavras, se atendo ao mínimo que exigiam as regras de boa convivência. Só tinham uma conversa mais longa para tratar de decisões relacionadas ao Luiz, mas essas normalmente aconteciam por telefone.

A ministra não aguentava mais essa situação, precisava fazer alguma coisa e já sabia o quê. Ontem havia recebido os convites do aniversário da senadora Leila. Como a maioria das pessoas não sabiam da separação, os dois convites foram enviado para a sua casa, e ela aproveitaria a desculpa para ver sua ex-esposa.

A mera ideia de ver a loira já a deixou mais animada. Precisava olhar nos olhos dela, sentir seu cheiro, sua presença, mesmo que fosse de longe.

Então se levantou da cama, tomou um banho demorado, secou os cabelos, caprichou mais que de costume na maquiagem e no perfume que Soraya dizia tanto gostar na pele dela e foi para o closet escolher uma roupa.

Acabou optando por um terninho cinza justo que marcava bem o seu corpo e uma camisa vinho de botões por baixo. Sabia qual era a reação de Soraya todas as vezes que ela usava essa roupa e queria chamar a sua atenção. Finalizou com um scarpin vinho, argolas nas orelhas e os anéis grandes que gostava de usar.

Ela pegou os convites e saiu mais cedo de casa, passaria no apartamento de Soraya antes do trabalho com a desculpa de entregá-los a ela. A ministra, como sempre, era boa em planejar e esperou estrategicamente passar a hora de Luiz sair para a escola para que Soraya não tivesse como evitar falar com ela.

Simone respirou fundo duas vezes antes de tocar a campainha do apartamento. Ela havia estado ali muitas vezes nos últimos meses para pegar o filho, mas agora seria ela e Soraya. Quando a porta se abriu ela tomou um susto e saiu de seu devaneio.

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