Minutos se passaram, e a pimpolha desistiu de fazer greve de fome quando seu estômago começou a resmungar. Retirou um pãozinho e uma caixinha de sumo de sua mochila, colocando-os sobre a mesa, e começou a comer em silêncio, com uma postura envergonhada enquanto eu a observava de soslaio. Com os braços cruzados, aguardei pacientemente pelo momento certo para fazê-la me ouvir. Embora intimidante e impaciente, eu precisava que ela cooperasse. Tentei abordá-la de maneira gentil, mas ela se recusou, então teria que abordá-la de outra forma.
Quando terminou o lanche, o sinal tocou, e mais três aulas tediosas se seguiram. Para desconcertar ainda mais a pimpolha durante a aula, caminhei pela sala, sabendo que apenas ela me notaria. Ela tentou disfarçar, mas era impossível não perceber, já que era a única capaz de me enxergar.
Observei um menino que havia feito a piada na primeira aula, percebi que ele tinha problemas ortográficos em seu caderno, comentei alto, chamando a atenção da pimpolha do fundo da sala. Ela olhou para mim, mas desviou o olhar para o professor, que continuava a explicar a matéria. Depois de mais alguns minutos entediantes, olhava para o professor e o restante da sala, tentando pensar em algo que pudesse irritar a pimpolha.
Quando vi o caderno em sua mesa, aproveitei a oportunidade para verificá-lo. No entanto, ela percebeu meus movimentos e tentou evitar que eu lesse o conteúdo. Puxei o caderno de volta, e ela relutou em entregá-lo. Ao ouvir a confusão, o professor advertiu-a a ficar em silêncio. Rasguei uma folha do caderno de modo que mais ninguém percebera, peguei sua caneta vermelha para imitar sua caligrafia.
Quando terminei, fiz uma bolinha de papel, esperando o momento certo para agir. Esperei o professor se virar para o quadro e mirei a bolinha na sua cabeça raspada. Todos na sala ficaram surpresos quando o professor pegou o papel e o desenrolou, encontrando a mensagem escrita por mim. Ele se virou para os alunos, irritado. Seus olhos seguiram para o papel no chão, que ele pegou, e então leu em voz baixa. O homem ficou perplexo e olhou para a turma.
— O que você fez? — A pimpolha me olhou, disfarçada.
Apenas dei de ombros, levantei-me e fui para o lugar longe dela. O professor continuou a questionar quem tinha escrito o bilhete, enquanto eu me mantinha calado, observando a reacção da pimpolha diante da confusão que causei.
— O asno na primeira fila, na quinta cadeira, mal sabe escrever. Basta olharem para o caderno dele, nem deveria ser considerado como finalista — continuou o homem, enquanto todos sussurravam, espantados ao perceberem de qual aluno a mensagem referia. — Quem escreveu esses insultos?
A pimpolha olhou para mim, questionando em silêncio, mas eu não estava disposto a ceder tão facilmente. Se ela não cooperasse de bom grado, faria com que me ouvisse de uma forma ou de outra. Todos se entreolhavam, e eu sorri de canto. Rapidamente, aproximei-me e segurei a mão dela, a levantando antes que ela pudesse reagir. O professor a viu, mas ela conseguiu se livrar do meu aperto antes que ele se aproximasse.
— Você?! — O professor apontou para ela, que negava veementemente.
O homem se aproximou de seu assento, mas eu permaneci no meio, colocando o pé à frente e o fazendo tropeçar. Um grito escapou pela sala, seguido por risadas contidas, deixando o professor furioso.
— Silêncio! — ordenou, visivelmente irritado. — Você que escreveu isso?
A pimpolha estava em apuros, olhando para o professor com medo e lançando olhares rápidos na minha direcção. Ela sabia que não poderia competir comigo, só precisava ter certeza de que poderia tornar a vida dela mais difícil do que ela imaginava, tal como fazia quando era um adolescente rebelde. Relutante, ela negou com a cabeça, sem saber o que responder.
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Os Olhos De Kawani
RomanceEm um mundo onde os limites entre realidade e fantasia se desvanecem, Osni, um homem anglo-asiatico imerso em sua propria arrogancia e prepotencia, e abruptamente lançado em um turbilho de eventos imprevisiveis.Apos um acidente de carro devastador...