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Os meus olhos seguiram para a menina usando tênis e uniforme escolar específico, dando passos cuidadosos para não tropeçar. Ela tinha o cabelo crespo curto e usava uma gravata preta em forma de borboleta. Ela agia com normalidade, sem perceber que eu não era uma pessoa normal, apenas uma aparição que chorou sem se importar se seria vista, pois ninguém tinha me notado antes, e agora alguém finalmente me viu.

Enquanto ela se afastava, eu sentia o medo de perdê-la de vista. Levantei apressado, quase tropeçando nos próprios pés, tentando alcançá-la e deixei cair o lenço que ela me deu. Muitas perguntas martelavam na minha cabeça. Eu precisava saber como ela sabia que eu estava ali, quando ninguém mais percebeu, e se ela era a pessoa que eu procurava desesperadamente.

— Espere! — gritei, desesperado.

Ela desceu do calhau onde estávamos e se virou para me encarar com surpresa enquanto corria. Olhou ao redor, observando as pessoas na praia, adolescentes aproveitando o final da tarde à beira-mar. Quando finalmente cheguei perto dela, ofegante, nos encaramos, ambos surpresos. Eu queria ter certeza de que ela realmente me via, então olhei ao redor, mas ninguém mais nos notava. Minha expressão atordoada permaneceu enquanto toda a esperança perdida ressurgia. Estava excitado, incapaz de esconder minhas emoções.

— Você...— tentei achar a palavra correta para falar.

— Desculpa! — disse ela, me deixando surpreso.

— Ham?! — respondi confuso e ela parecia envergonhada.

— Eu não devia ter invadido sua privacidade... te vi chorar e gritar, mas ninguém se importou em ouvir seus gritos — contou constrangida.

— Mas você se importou! — disse eu, mitigado.

— Só tentei ser útil... — a menina falou em tom gentil, mas cálido e aconchegante. A brisa se tornava forte e balançava sua saia que cobria até os joelhos, fazendo-a oprimir por alguns segundos para não levantar.

— Obrigado, pelo lencinho — agradeci pela gentileza da menina.

— Espero que fique bem — ela disse, dando sinal de que se iria embora, mas eu precisava saber mais.

— Como conseguiu me ver? — perguntei de uma vez, não podia esperar, precisava saber e entender.

— Aquela colina é conhecida como "calvário" e muitos que aí vão, acabam por tirar a vida — contou com delicadeza. Ela era tão pequena, mas seu modo de se expressar era tão profundo. Porém, saber que aquele lugar tinha um nome tão pesado, me deixou inquieto.

— Achou que eu me mataria? — indaguei surpreso.

A menina assentiu com um movimento na cabeça e sorriu suavemente. Eu era um espectro, não era o mesmo que já estar quase conhecendo a luz? Sorri de sua ingenuidade e gentileza. Ela me encarou constrangida. Um grupo de moças passaram perto da gente, usavam o mesmo uniforme escolar e a olharam com um semblante curioso, ouvi uma delas titulando-a de "estranha" e vi como a mulher gentil se incomodou por ser tratada assim e baixou a cabeça.

— Eu vou embora — disse ela, se afastando aos passos apressados e me deixando atônito com sua saída repentina.

Ninguém conversaria com um estranho, ela queria apenas ser gentil e me deu seu lencinho por pensar que eu estava querendo me matar naquele rochedo, mas a situação era completamente diferente do que ela imaginava. Ela correu para fora da areia e seguiu para o ponto do autocarro e a segui. A moça não olhou para trás momento algum, apenas seguiu o seu caminho e eu a acompanhava por trás discretamente, não querendo deixá-la escapar dos meus olhos.

Havia muito engarrafamento pela a avenida. Observando-a atentamente, vi que ela teve dificuldades para entrar no autocarro devido à grande quantidade de passageiros. A fila era longa e o congestionamento na avenida não ajudava. No entanto, ela finalmente conseguiu entrar em um dos autocarros que pararam no ponto. Enquanto ela seguia seu caminho dentro do transporte, eu me escondia entre os passageiros, mantendo uma distância discreta para que ela não percebesse minha presença. Observava-a atentamente, tentando compreender para onde ela estava indo e se havia algo que eu pudesse fazer para me aproximar.

Os Olhos De KawaniOnde histórias criam vida. Descubra agora