UM

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Hoje é o sétimo aniversário do nosso casamento.

Todos me dizem que de sete em sete anos sempre aparece uma crise, mas sinceramente eu não acredito muito nisso não.

Estou aqui sentada na penteadeira, escovando o cabelo quando o celular de Rodolffo toca ao meu lado.

Ele levantou-se que nem um foguete, mas ainda consegui ver o nome Vanda escrito no ecrã.

Ele atendeu e apenas disse:  Ok, eu vou.

Esperei que ele me dissesse quem era mas ele não falou e eu não perguntei.

Terminei de arrumar o cabelo e fomos para a sala.  Ele pegou nas chaves do carro e disse que ia sair.

Pedi para ele vir jantar que ia fazer o prato que ele gostava e ele disse que sim, não demorava.

Comecei a preparar as entradas do nosso jantar.

Recheei uns cogumelos, umas tâmaras enroladas com bacon e uns folhados de queijo.

Preparei tudo para mais tarde colocar no forno junto com lombo de porco e os legumes gratinados.

Fiz uma mousse de chocolate menta e ainda deu tempo de fazer uns bombons de beijinho.  Rodolffo adora côco.

Enquanto não eram horas de colocar tudo no forno fui preparar a mesa.

Coloquei uma jarra de lado.  Sabia que Rodolffo ia trazer flores, afinal há seis anos que o ritual se repete.  Ele sempre sai e traz flores para mim.

Liguei o forno, pus o champanhe na geladeira e fui-me arrumar.

Vesti um dos meus vestidos justos, calcei umas sandálias e fiz uma make básica.  Deixei os cabelos soltos conforme ele gosta.

Desliguei o forno e fui para a sala esperar.
Vinte horas e nada. 
Olhei o meu telemóvel e nem uma mensagem.
Vinte e duas horas e nem sinal de Rodolffo.

Liguei o número dele e a chamada foi recusada.

Esperei sentada no sofá e quando deu 24 horas, peguei no presente dele, que estava sobre a mesa e subi para o quarto.

Guardei o presente na minha bolsa, lavei o rosto e deitei-me.
Hoje não vou chorar, disse para mim mesma.

A nossa relação vinha tendo altos e baixos.   Ultimamente Rodolffo andava distante mas eu atribuía ao excesso de trabalho.  Muitos shows, muito pé na estrada.

Voltava sempre saudoso e amoroso, mas ultimamente vinha cada vez mais frio.

Eu vivia entre a casa e o trabalho.  Raramente podia acompanhá-lo nos shows.  Apenas quando era perto ou na nossa cidade, eu me fazia presente.

Adormeci já bastante tarde para logo a seguir ser despertada pelo barulho dele a chegar.

Abriu a porta do quarto, retirou os sapatos que fizeram barulho ao bater na penteadeira e deitou-se vestido,  retirando apenas a jaqueta.

O cheiro a álcool era insuportável.   Felizmente não tinha show no dia seguinte.

A partir dali foi difícil para mim pegar no sono novamente.   Olhei as horas.  5,15 horas.

O cheiro dele estava a deixar-me agoniada.  Levantei-me, tropecei na jaqueta dele, peguei nela e fui para o banheiro.

Revistei os bolsos e encontrei um cartão de um motel e uma caixa de veludo com uma pulseira.  Coloquei tudo no bolso novamente e movida pela raiva tomei a decisão de ir embora.

Fiz um pequena mala com alguma roupa e itens de higiene e maquilhagem,  peguei a minha bolsa , as chaves do carro e fui procurar um hotel.

Procurei o mais perto do escritório e dentro do quarto deitei-me sobre a cama, tentando perceber que rumo dar à minha vida.

Vou tirar o teu batonOnde histórias criam vida. Descubra agora