Juliette não veio buscar a roupa e eu troquei mesmo a fechadura.
Ela não me deu hipótese de conversar. Eu sei que conversar nunca foi o meu forte, mas não saio por aí tomando decisões em base de supostos.
Eu esqueci o nosso aniversário? Esqueci.
Fui para um motel com suposta mulher? Não.
Traí? Depende.
Vou esperar que ela tome consciência das suas atitudes e me procure. Às vezes o tempo ajuda.
Rodolffo partiu no dia seguinte para uma série de shows. Todos os dias ele esperava um telefonema dela que não chegou.
Hoje estava de volta a casa. Tudo estava igual. A roupa dela permanecia no closet, as jóias guardadas.
O acordo de divórcio permanecia por assinar.Ligou para ela e não recebeu resposta. Ligou para o escritório e Ema atendeu. Admirada por ele procurar por ela não soube que responder de imediato.
- Ema, diga-me só como ela está?
- A doutora não está aqui. Foi para Paris, para ficar 3 anos.
Rodolffo teve que se sentar, tal foi o choque.
Agradeceu e desligou.
Como é que ela teve coragem de partir sem falar comigo? - era a pergunta que ele fazia a si próprio.
A partir daqui vieram as dúvidas sobre os reais motivos da partida dela.
Não era sobre o motel nem a Vanda, nem o jantar. Havia algo mais a acontecer na vida dela que ela não contou. Algo ou alguém.
E foi neste último quesito que ele se fixou. Relembrou as últimas discussões e atritos que tiveram à procura de algum indício, à procura de alguém.
A dúvida estava a consumi-lo.
Foi até ao escritório conversar com Ema.
- Ema, só queria saber se ela não deixou nenhum recado.
- Se tivesse deixado, ela tinha-me dito.
- Veja lá na secretária dela.
- Ema voltou com um pequeno embrulho.
- Encontrei isto com o seu nome. Não sei se posso entregar-lho.
- Por favor, Ema. Se tem o meu nome era dirigido a mim. Ela deve ter esquecido de me entregar.
Ema sabia o quanto Juliette amava Rodolffo e não entendeu muito bem a partida dela sem lhe comunicar.
Resolveu entregar o presente e depois resolver com ela.Rodolffo voltou para casa mas não abriu o presente. Colocou-o na mesinha de cabeceira e foi dormir.
Juliette já estava há dias em Paris.
Logo nos primeiros dias ela já se tinha arrependido de ir.
Na Europa era Inverno. Os dias eram frios e chuvosos e algumas vezes nevava.
Noutra ocasião ela teria adorado estar ali com Rodolffo, aproveitando umas férias de Inverno, mas sózinha era diferente.
Vivia do trabalho para o hotel e vice versa.Tinha vontade de ouvir a sua voz, mas o orgulho era maior.
Ao fim do primeiro mês telefonou para o escritório do Brasil e pediu para regressar e mandarem outra pessoa no lugar dela.
A chefe quis saber a razão e pediu para ela ficar pelo menos mais três meses. Depois seria substituída.
Juliette pediu para ela lhe arranjar uma casa entretanto.Rodolffo olhava todos os dias o presente. Ainda não tivera coragem de o abrir, e um presente dela a esta altura também não tem razão de ser.
Colocou-o dentro da gaveta e não mais olhou para ele. Foi buscar os papeis do divórcio e colocou junto.
No dia seguinte voltou à estrada e o assunto foi esquecido.
Juliette estava de regresso ao escritório e ao Brasil. A casa alugada não era muito grande, mas muito acolhedora.
- Desculpa Maitê. Eu já sabia antes de partir, mas confesso que agi no impulso.
Deixei aquilo lá já orientado. O Raul vai dar-se bem. Eu expliquei-lhe tudo.- E como estás, Juliette?
- Muito bem e feliz por regressar.
Oh, e o Inverno lá, é de lascar.- Eu sei. Já fui lá de Verão e de Inverno. Adoro as duas estações.
- Talvez acompanhada seja bom porque sózinha não é.
- Fica bem. Bem-vinda de novo.
- Obrigada. E Ema está por aí.
- Acho que sim.
Fui procurar a Ema que ficou surpresa quando me viu.
Depois de contar que estava de volta, ela contou-me que entregara o presente a Rodolffo.
- Não te preocupes. Não tem importância.
Juliette decidiu que era hora de terem uma conversa séria.