SEIS

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Juliette tomou a sopa toda e estava boa, disse ela.

Rodolffo terminou de arrumar a cozinha e veio sentar-se perto dela.

- Quando quiseres ir para a cama, diz que eu levo-te.

- Eu quero agora.  Lá estou mais confortável.

Subiram os dois.  Juliette foi ao banheiro e pouco depois regressou com o pijama vestido.

- Já de pijama?  Ainda está de dia.  Não são 16 horas.

- Sinto-me mais confortável assim.

Deitou-se sobre a cama de barriga para cima.

- Posso por a mão na tua barriga?

- Podes.  Eles ainda não mexem.

Rodolffo colocou a mão e afagou a barriga dela.

- Vamos conversar agora?

- Sem segredos?  Não quero mais surpresas.

- Vou ser totalmente verdadeiro.

Sabes o Lucas?  O rapaz que fazia parte da banda?

- Sim.  Porquê fazia?

- Foi demitido.

- E o que ele fez.

O Lucas tinha uma namorada, a Vanda.  A Vanda era bailarina e vivia aperriando o Lucas e a mim que era bom a banda ter bailarinas fixas.

Eu sempre disse que não era o nosso estilo e além disso tu não ias gostar que eu viajasse com mulheres.

Naquele dia o Lucas ligou-me que tinha um assunto urgente para discutir comigo.  Como perdeu o telemóvel ligou do da Vanda.  Foi por isso que tu viste.

Fui à ourivesaria buscar o teu presente e depois fui ter com elas.  A ideia era não demorar muito pois ainda ia passar na florista.

Estava em casa do Lucas.  Eles ofereceram-me um drink e eu aceitei.  Vieram com o papinho dos bailarinos e eu disse que não tinha tempo para essas conversas que já estavam gastas e precisava ir para casa comemorar o aniversário de casamento.

Então Lucas foi preparar outro drink e insistiu para beber que logo de seguida eu iria para casa.

Não foi o que aconteceu.  Após esse drink eu senti uma adrenalina fora do normal.  Bebi outro e mais outro até perder a noção do tempo.

Após alguns drink acabei por capotar no sofá deles.  Acordei tarde, peguei nas chaves e não sei como conduzi até casa. Só me lembro de ter acordado vestido na cama.

No regresso aos shows, questionei o Lucas que acabou por confessar ter armado tudo para que nós brigássemos.  Talvez assim eu aceitasse as bailarinas.
Foi ele que colocou o cartão do motel na minha jaqueta.

Lucas foi despedido na hora.  Nunca mais tive contacto com os dois,  por isso eu não te traí, não fui com ninguém para motel nenhum.  Estávamos passando por uma crise, era certo, mas jamais faria isso.

- Porque não me contaste antes.

- Porque não me deste hipótese.   Confrontaste-me logo com os papeis do divórcio.   Percebi que nada do que eu dissesse ia fazer-te voltar atrás.

- Confesso que fiquei furiosa com aquele cartão   como já tinha ficado quando vi o nome dela na tela do telemóvel.   Também te devo um pedido de desculpas.

- E agora, como é que ficamos?

- Por enquanto nada vai mudar.
Precisamos de um tempo a sós para definir os sentimentos.

- Eu não preciso de tempo nenhum.  Sei bem o que quero e de quem gosto.

- Mas não podes negar que antes daquele jantar a nossa relação não andava muito bem.  Tinhas-te afastado e não havia a mesma interacção entre nós.

- Eu sei.  Vinha tendo sentimentos ambíguos.  Eu amo cantar, mas também amo a minha família e naquela altura culpava-me por não ser mais presente.  Pensei até largar a música.
Eu pensava que tu não querias filhos por eu ser ausente.  Ia condicionar a tua vida ao cuidar sózinha de uma criança.

- Somos dois tolos.  Faltou muita conversa entre nós.  Eu tentei engravidar por meses, mas talvez por estar sempre ansiosa não deu.  Voltei a tomar o anticoncepcional e depois numa semana em que simplesmente me esqueci, logo engravidei.

- Depois de amanhã volto à estrada e eu sei que não vai ser igual.

- Eu vou ficar bem e os bébés também.   Vai fazer os teus shows.  Tu amas a música,  não desistas.

Rodolffo beijou-a na testa e ela encostou a cabeça no peito dele.

Vou tirar o teu batonOnde histórias criam vida. Descubra agora