OITO

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Sózinha estes dias, tive muito tempo em que pensar.

Voltei a analisar tudo e me pergunto se vale a pena nesta fase eu passar por tudo sózinha.  Não sózinha porque eu sei que Rodolffo só não está comigo por conta do trabalho, mas eu aqui e ele lá.

Os dois falhámos na comunicação.  Não foi só de agora.  Já vínhamos falhando há anos, só que por puro comodismo, fomos deixando andar.

Vou esperar a volta dele e retorno à nossa casa.  Daqui a um mês ou dois, eventualmente por serem gémeos,  vou ter que suspender a actividade e depois deles nascerem eu quero ser mãe a tempo inteiro.

Eu sei que isso vai condicionar a minha carreira e posso estar abdicando de grandes oportunidades, mas eu posso ser advogada com a idade que quiser, mas os primeiros anos dos gémeos só vou poder vivê-los uma vez.

Telefonei à Maitê e ela veio almoçar comigo e ainda trouxe o almoço.

- Amiga, tens o meu total apoio, disse ela quando expus o problema.

- E o escritório não vai sair prejudicado?

- Se precisar, eu contrato um advogado para te substituir pelo tempo que tu faltares, mas eu não abdico de ti.  Quero-te de volta quando achares bem.

Eu queria ter tido essa coragem, mas não tive.  O meu filho está com 15 anos e eu sei muito pouco sobre ele.  Por conta da carreira, entreguei-o aos cuidados de terceiros com apenas três meses.
Gostamos muito um do outro mas sinto que falta cumplicidade entre ambos.  O pai foi um pouco mais presente, apesar de tudo.

Passou uma semana.  Rodolffo telefonava logo que acordava e antes do show.  Depois de show apenas mandava uma mensagem, pois era tarde e ela estava a dormir.

Chegou de viagem e foi directamente para casa.  Vinha exausto.  Terminou o show e regressou imediatamente.   Normalmente só apanha o voo depois de descansar.

Tomou um banho e correu para casa dela.  Eram 10 horas da manhã.   Como ela havia dito que ultimamente acordava depois dessa hora, passou na padaria e comprou pão e biscoitos fresquinhos.

Entrou em casa e estava tudo silencioso.  Espreitou no quarto e ela ainda dormia.  Foi fazer café e preparar duas bandejas.  Cortou algumas frutas que misturou com yogurte e aveia, juntou o pão, queijo e biscoitos e entrou no quarto.

Pousou a primeira bandeja na penteadeira e foi acordá-la.

- Acorda, dorminhoca, sussurrou ao ouvido dela.

Ele espreguiçou-se e estendeu os braços para ele que aproveitou o abraço.

- Cheirinho boooomm.

- Quem?  Eu ou o café?

- Tem café?

Rodolffo abriu as persianas.  Lá fora estava um dia lindo.

- Levanta-te ou vais juntar o café com o almoço.

Rodolffo foi à cozinha buscar a outra bandeja e comeram juntos.

- A que horas terminou o show para já estares aqui?

- Às 6 horas da manhã.   Vim directo.

- Não dormiste porquê?

- Queria vir rapidamente.   Estava com saudades.

- Eu também.  - Juliette fez biquinho e ele deu-lhe um selinho.

- Este café está uma delícia.  Agradece ao chefe, disse ela.

- O chefe diz que disponha sempre para o café e o mais que tiver vontade.

- Tudo?

- Tudinho, disse o chefe.

- Depois de comeres vais dormir  Rodolffo.  Não podes estar sem descansar.

- Se ficares aqui comigo.

- Fico.  Até adormeceres.

- Tens saído?  Caminhado?

- Só até à padaria.  Não tenho saído muito.

- Mais logo vamos caminhar os dois. Precisas de fazer exercício.

- Pois preciso, mas não gosto de andar na rua sózinha.

- Lá na nossa casa tinhas o jardim.  Tem espaço suficiente para caminhar.

- Eu sei. Vá, tira a roupa e vem dormir.

- Deixa levar as bandejas primeiro.

Rodolffo voltou e deitou-se ao lado dela.  Depois de muito tempo ele deu-lhe um beijo apaixonado e ela correspondeu.

Abraçou-a, colocou a cara na curva do pescoço dela, a mão sobre a barriga e deixou-se adormecer.

Vou tirar o teu batonOnde histórias criam vida. Descubra agora