Sózinha estes dias, tive muito tempo em que pensar.
Voltei a analisar tudo e me pergunto se vale a pena nesta fase eu passar por tudo sózinha. Não sózinha porque eu sei que Rodolffo só não está comigo por conta do trabalho, mas eu aqui e ele lá.
Os dois falhámos na comunicação. Não foi só de agora. Já vínhamos falhando há anos, só que por puro comodismo, fomos deixando andar.
Vou esperar a volta dele e retorno à nossa casa. Daqui a um mês ou dois, eventualmente por serem gémeos, vou ter que suspender a actividade e depois deles nascerem eu quero ser mãe a tempo inteiro.
Eu sei que isso vai condicionar a minha carreira e posso estar abdicando de grandes oportunidades, mas eu posso ser advogada com a idade que quiser, mas os primeiros anos dos gémeos só vou poder vivê-los uma vez.
Telefonei à Maitê e ela veio almoçar comigo e ainda trouxe o almoço.
- Amiga, tens o meu total apoio, disse ela quando expus o problema.
- E o escritório não vai sair prejudicado?
- Se precisar, eu contrato um advogado para te substituir pelo tempo que tu faltares, mas eu não abdico de ti. Quero-te de volta quando achares bem.
Eu queria ter tido essa coragem, mas não tive. O meu filho está com 15 anos e eu sei muito pouco sobre ele. Por conta da carreira, entreguei-o aos cuidados de terceiros com apenas três meses.
Gostamos muito um do outro mas sinto que falta cumplicidade entre ambos. O pai foi um pouco mais presente, apesar de tudo.Passou uma semana. Rodolffo telefonava logo que acordava e antes do show. Depois de show apenas mandava uma mensagem, pois era tarde e ela estava a dormir.
Chegou de viagem e foi directamente para casa. Vinha exausto. Terminou o show e regressou imediatamente. Normalmente só apanha o voo depois de descansar.
Tomou um banho e correu para casa dela. Eram 10 horas da manhã. Como ela havia dito que ultimamente acordava depois dessa hora, passou na padaria e comprou pão e biscoitos fresquinhos.
Entrou em casa e estava tudo silencioso. Espreitou no quarto e ela ainda dormia. Foi fazer café e preparar duas bandejas. Cortou algumas frutas que misturou com yogurte e aveia, juntou o pão, queijo e biscoitos e entrou no quarto.
Pousou a primeira bandeja na penteadeira e foi acordá-la.
- Acorda, dorminhoca, sussurrou ao ouvido dela.
Ele espreguiçou-se e estendeu os braços para ele que aproveitou o abraço.
- Cheirinho boooomm.
- Quem? Eu ou o café?
- Tem café?
Rodolffo abriu as persianas. Lá fora estava um dia lindo.
- Levanta-te ou vais juntar o café com o almoço.
Rodolffo foi à cozinha buscar a outra bandeja e comeram juntos.
- A que horas terminou o show para já estares aqui?
- Às 6 horas da manhã. Vim directo.
- Não dormiste porquê?
- Queria vir rapidamente. Estava com saudades.
- Eu também. - Juliette fez biquinho e ele deu-lhe um selinho.
- Este café está uma delícia. Agradece ao chefe, disse ela.
- O chefe diz que disponha sempre para o café e o mais que tiver vontade.
- Tudo?
- Tudinho, disse o chefe.
- Depois de comeres vais dormir Rodolffo. Não podes estar sem descansar.
- Se ficares aqui comigo.
- Fico. Até adormeceres.
- Tens saído? Caminhado?
- Só até à padaria. Não tenho saído muito.
- Mais logo vamos caminhar os dois. Precisas de fazer exercício.
- Pois preciso, mas não gosto de andar na rua sózinha.
- Lá na nossa casa tinhas o jardim. Tem espaço suficiente para caminhar.
- Eu sei. Vá, tira a roupa e vem dormir.
- Deixa levar as bandejas primeiro.
Rodolffo voltou e deitou-se ao lado dela. Depois de muito tempo ele deu-lhe um beijo apaixonado e ela correspondeu.
Abraçou-a, colocou a cara na curva do pescoço dela, a mão sobre a barriga e deixou-se adormecer.