Prólogo

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Só porque estou contando essa história, não quer dizer que eu estou viva até o fim dela. Mas essa é uma daquelas histórias onde tudo pode acontecer, tudo mesmo. O tipo de história que vende, tem violência, aventura, uma pitada de romance e muito sexo. Essa é também o tipo de história que as coisas simplesmente fogem do controle.

Cresci em um lar desestruturado. Se com desestruturado você pode considerar ir pulando de biqueira em biqueira com a minha mãe viciada até o dia que ela finalmente morreu de overdose. Eu aprendi a cuidar de mim mesma bem cedo, eu não sei se é uma coisa boa ou ruim. Fiz uma promessa para mim mesma que nunca viveria dessa mesma forma, eu nunca seria essa pessoa. Eu não ia desperdiçar a minha vida. Mas não estou aqui para ficar reclamando sobre o meu passado, ele não é importante.

Contra todas as chances e estatísticas, eu venci. Uma imigrante mexicana entrando para a faculdade de medicina com um bando de riquinhos mimados, se isso pode ser chamado de vencer. Mas a verdade, é que eu já tinha passado por merdas muito piores do que as crianças super ricas.

O que não te falam sobre a faculdade de medicina, é o verdadeiro valor. Todo mundo sabe que é caro mas não fazem ideia do real valor. Eu não sou do tipo que gosta de mendigar ou pedir ajuda, mas isso era importante para mim. O mais próximo que eu tinha de família era o meu padrinho, um general de cartel mexicano que ficou mais que feliz de ajudar a sua sobrinha favorita, e provavelmente, a única viva.

Ele pagou pelos meus estudos com a condição de que eu deveria lhe retornar o dinheiro no futuro com juros de 15%, na época não parecia um preço alto a se pagar. O que não estava nos meus planos, é que meu tio fosse morrer com um tiro na cabeça em uma guerra civil de cartéis. Eu deveria ter considerado a possibilidade, você não vê muitas pessoas envelhecendo na profissão.

Se eu esperava sair sorrindo e me livrando de um problema? Nenhuma divida fica sem ser cobrada. Quando um cair, outro se erguerá e virá cobrar o que acredita ser seu por direito. A negociação com um novo chefe de cartel não foi tão suave quanto o meu falecido tio e ele queria o seu dinheiro, precisava mostrar respeito. Eu estava no meu primeiro ano de residência e ainda não era capaz de lhe pagar aquela divida.

El Chapo adoraria colocar uma bala na minha cabeça, para mostrar a minha imagem aos seus futuros inimigos, eu sei disso melhor do que ninguém. Mas no fim das contas, ele tinha outros planos para mim pagar a minha divida. Toda vez que algum de seus soldados se fere em combate, ele não pode ir simplesmente ao hospital com um ferimento a bala sem explicação. Uma bala que pode ter saído da arma de um policial. O cartel colocou o investimento do meu tio a prova quando fui chamada para atender alguns desses homens e mulheres. A faculdade de medicina ensina muitas coisas, mas não te ensina a suturar um ferimento a bala com uma AK-47 apontada para a sua cabeça.

Todos os cartéis tem "médicos", na sua maior parte, são pessoas com seu diploma de medicina caçado ou alguém que simplesmente não conseguiu se formar, mas em outros casos como eu, são só pessoas que se meteram com as pessoas erradas. Eu tinha feito um juramento, tinha que ajudar as pessoas, mesmo que eles fossem o pior tipo de gente e que o mundo seria um lugar melhor com eles mortos.

Quando tudo isso começou, eu ainda tinha esperança de me livrar disso. Ainda tinha esperança de que ia sair viva dessa situação e deixar tudo isso para trás, mas isso foi antes de eu conhecê-la. Foi antes do meu destino se cruzar com Lauren.

Víbora Vermelha - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora