𝐁𝐞 𝐄𝐱𝐜𝐢𝐭𝐞𝐝 - 𝐋𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐍𝐨𝐫𝐫𝐢𝐬

Cap 9

Maya Bianchi

O dia da última corrida da temporada havia chegado, e o clima estava carregado de tensão. O paddock em Abu Dhabi fervilhava de jornalistas, fãs e equipes correndo contra o relógio para ajustar os últimos detalhes. O calor era sufocante, mas nada se comparava à pressão que pairava sobre os pilotos — e, no meu caso, sobre mim.

Eu estava ao lado de Lando enquanto ele dava suas entrevistas de praxe. Ele parecia completamente confiante, com aquele sorriso que exalava arrogância e segurança ao mesmo tempo. Enquanto ele respondia às perguntas dos repórteres, eu estava ali como sua "namorada de contrato", sorrindo e acenando, mesmo com a irritação crescendo dentro de mim.

— E aí, Norris, preparado para hoje? — Um dos repórteres perguntou.

— Sempre estou. — Ele respondeu com um sorriso de canto. — Não sei se é a última corrida ou o último show que precisaremos encenar. — Ele murmurou, em um tom baixo, mas suficientemente próximo para que eu ouvisse.

Olhei para ele, incrédula com o comentário, mas ele sequer se deu ao trabalho de olhar de volta. Em vez disso, virou-se para mim com um sorriso falso, como se tudo estivesse perfeitamente bem.

— Tudo bem, amor? — Ele perguntou, com um tom sarcástico que só eu conseguiria perceber.

— Você é insuportável. — Sussurrei entre os dentes, mantendo o sorriso para as câmeras.

— E você adora isso. — Ele rebateu, piscando para mim antes de voltar sua atenção para os jornalistas.

As horas passaram voando, e antes que eu percebesse, já estávamos no grid de largada. Eu me mantinha um pouco afastada, dando espaço para ele se concentrar, mas também porque eu precisava de um tempo longe dele para respirar. Lando, porém, parecia tranquilo demais. Enquanto outros pilotos trocavam olhares tensos e conferiam detalhes nos carros, ele brincava com um dos engenheiros, como se não estivesse prestes a encarar uma das corridas mais importantes do ano.

Quando a contagem regressiva começou, voltei para o pitlane, onde assistiria à corrida. O som dos motores rugindo era ensurdecedor, mas ainda assim não conseguia distrair minha mente do tumulto interno que Lando causava em mim.

Assim que a corrida começou, era impossível tirar os olhos da pista. Lando estava fazendo uma corrida impecável, mas sua maneira de pilotar era agressiva, quase imprudente. Ele parecia determinado a provar um ponto, não apenas para os outros pilotos, mas para o mundo inteiro.

A cada curva, meu coração parecia parar. Ele disputava posições com uma ferocidade que beirava o desespero. Quando finalmente cruzou a linha de chegada em segundo lugar, eu senti um alívio imediato, embora soubesse que ele não estaria satisfeito.

No paddock, a atmosfera era de celebração, mas Lando estava visivelmente irritado. Assim que saiu do carro, tirou o capacete com força e atirou-o para um dos engenheiros. Ele era assim — passional, intenso e, muitas vezes, impossível de lidar.

— Segundo lugar não é o suficiente. — Ele murmurou para si mesmo, passando a mão pelos cabelos bagunçados.

Eu me aproximei, hesitante.

— Você foi incrível, Lando. Não se cobre tanto.

Ele riu, mas não foi um riso genuíno. Era amargo, carregado de frustração.

— Não preciso da sua piedade, Maya.

— Não estou te dando piedade. Estou sendo realista. Você pilotou bem.

— Realista? — Ele finalmente olhou para mim, os olhos estreitos. — Você nem entende o que está acontecendo aqui. Tudo o que você faz é ficar parada, sorrindo para as câmeras.

Aquelas palavras doeram mais do que deveriam, mas eu não deixei que ele visse. Cruzei os braços, tentando parecer indiferente.

— E tudo o que você faz é ser um babaca quando não consegue o que quer.

Ele me encarou por um longo momento, e por um instante achei que ele fosse retrucar, mas então suspirou, balançando a cabeça.

— Vá pegar suas coisas. Temos um voo para pegar.

O silêncio no jato particular era quase palpável. Estávamos a caminho das férias planejadas no Brasil pela equipe, uma forma de manter a imagem pública do "casal perfeito". Lando estava sentado do outro lado da cabine, com os olhos fixos em um tablet enquanto revisava a corrida.

Eu sabia que ele estava irritado, mas não ia ser eu quem quebraria o silêncio. Ainda estava remoendo as palavras dele no paddock. Ele sempre sabia exatamente o que dizer para me atingir, e, por mais que eu odiasse admitir, ele conseguia.

Finalmente, ele falou:

— Você vai ficar aí emburrada o voo inteiro?

— Eu não estou emburrada. — Respondi, embora minha voz sugerisse o contrário.

— Claro que não. — Ele respondeu, com sarcasmo. — Só está quieta porque adora me irritar.

Revirei os olhos, cruzando os braços.

— Talvez eu esteja quieta porque estou cansada de lidar com você e sua arrogância.

Ele sorriu, mas não era um sorriso gentil.

— Você sabia exatamente com quem estava lidando quando assinou aquele contrato, Maya. Eu nunca prometi ser fácil.

— E eu nunca prometi que ficaria calada enquanto você agisse como um babaca.

Por um momento, tudo o que se ouvia era o som baixo dos motores do avião. Ele finalmente deixou o tablet de lado, olhando diretamente para mim.

— Por que você se importa tanto?

A pergunta me pegou de surpresa, mas eu não deixei transparecer.

— Eu não me importo.

— Claro que se importa. — Ele inclinou-se para frente, seus olhos fixos nos meus. — Você não estaria tão irritada se não se importasse.

Engoli em seco, sentindo aquela tensão familiar crescer entre nós. Ele era impossível de ignorar, e eu odiava isso.

— Talvez eu só não goste de pessoas que acham que o mundo gira ao redor delas. — Retruquei.

Ele riu, aquele riso rouco que sempre mexia comigo.

— Talvez você goste mais do que quer admitir.

A proximidade dele era sufocante, mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia me afastar. Ele tinha esse efeito sobre mim, como um ímã.

— Você é insuportável. — Murmurei, tentando desviar o olhar.

— E você adora isso. — Ele respondeu, com aquele sorriso arrogante que me fazia querer socá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo.

Eu estava prestes a responder quando o piloto anunciou que estávamos nos aproximando do destino. Suspirei de alívio, agradecendo pela interrupção, mas sabia que isso era apenas o começo. As férias prometiam ser tão intensas quanto a temporada inteira, e, com Lando ao meu lado, eu nunca sabia o que esperar.