cap 4

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Maya Bianchi

Os dias em Abu Dhabi continuavam, e o caos habitual do paddock não dava sinais de diminuir. Entre entrevistas, fotos e a incessante atenção dos fãs, a tensão entre mim e Lando parecia crescer a cada instante. Ele seguia sendo aquele enigma que eu não conseguia decifrar: rude, fechado e, ao mesmo tempo, inegavelmente cativante.

A manhã começou como sempre. Acordei cedo para me preparar para mais um dia no autódromo, mas minha mente estava presa à conversa do dia anterior. Por mais que eu quisesse ignorar, as palavras de Lando ainda ecoavam na minha cabeça. Ele tinha razão? Eu realmente gostava mais dele do que queria admitir?

Sacudi a cabeça, tentando afastar aquele pensamento. Não podia me permitir esse tipo de fraqueza. Lando era parte de um contrato, nada mais. Nossa dinâmica complicada era apenas o resultado de passarmos tanto tempo juntos sob pressão.

Mas quando o vi no paddock mais tarde, com o macacão laranja da McLaren, os cabelos bagunçados pelo vento e aquele olhar determinado, senti meu coração acelerar de um jeito que me irritava. Eu odiava admitir, mas algo nele mexia comigo.

— Maya, aqui! — chamou um fotógrafo, me tirando dos meus pensamentos.

Sorri para a câmera, posando ao lado de Lando, que parecia alheio a tudo. Ele manteve as mãos nos bolsos, o rosto sério, quase entediado. Quando o fotógrafo pediu para que ficássemos mais próximos, ele obedeceu sem protestar, mas sua postura rígida deixava claro que ele não estava confortável.

— Pode relaxar, Lando. Não vou morder. — Sussurrei enquanto colocava a mão no seu braço para parecer mais natural.

— Não é você que me preocupa, é todo o resto. — Ele respondeu baixo, sem sequer olhar para mim.

Mais uma vez, ele me deixou sem palavras. Sempre tão enigmático, tão difícil de ler.

Mais tarde, depois que o treino livre terminou, Lando desapareceu para uma reunião com sua equipe. Aproveitei o intervalo para dar uma volta pelo autódromo e respirar um pouco. O calor do deserto era quase sufocante, mas a brisa ocasional ajudava a aliviar a sensação.

Enquanto caminhava, uma notificação no celular chamou minha atenção. Era uma mensagem de Lando:

"Lounge do hotel. 19h. Precisamos conversar."

Suspirei. Lando e suas ordens. Ele nunca pedia, sempre demandava, e isso me irritava profundamente. Mas, ao mesmo tempo, a curiosidade me venceu. O que ele queria conversar agora?

Às 19h em ponto, entrei no lounge do hotel. Lando já estava lá, sentado em uma poltrona perto da janela. Ele segurava um copo de uísque e olhava para a vista da cidade iluminada, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.

— Pontual, como sempre. — Ele comentou sem olhar para mim, mas havia um tom de sarcasmo em sua voz.

— Achei que você gostasse de pontualidade. — Respondi, sentando-me na poltrona oposta.

Ele finalmente me olhou, os olhos fixos nos meus. Havia algo diferente nele hoje, algo que eu não conseguia identificar.

— Por que você ainda está aqui, Maya? — Ele perguntou, direto como sempre.

Franzi o cenho, confusa.

— Como assim?

— Você já cumpriu sua parte do contrato. Já me ajudou com as redes sociais, já afastou seu ex. Poderia ter terminado isso há meses. Então, por que continua aqui?

A pergunta me pegou de surpresa. Eu sabia que ele não era do tipo que jogava conversa fora, mas essa sinceridade repentina era inesperada.

— Eu... — Comecei, mas não tinha uma resposta pronta.

Lando inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— É isso que me incomoda, Maya. Você me irrita, me desafia, me faz perder o controle. Mas, ao mesmo tempo, você fica. E eu não entendo por quê.

Meu coração disparou, mas mantive minha expressão neutra.

— Talvez porque não quero deixar algo pela metade. — Respondi, escolhendo cuidadosamente as palavras.

Ele riu, um som seco e irônico.

— Isso não soa como você. Você não é do tipo que fica por obrigação. Então, o que é?

A tensão no ar era quase insuportável. Ele estava me pressionando, querendo respostas que nem eu sabia se tinha.

— Talvez porque eu me preocupo com você. — Admiti, finalmente, em um tom baixo, quase inaudível.

Lando pareceu surpreso, mas não disse nada por um longo momento. Ele apenas me olhou, como se estivesse tentando decidir se acreditava em mim.

— Você não deveria. — Ele finalmente disse, levantando-se e caminhando até a janela.

— Por quê? — Perguntei, levantando-me também.

Ele virou-se para mim, o olhar intenso e cheio de algo que eu não conseguia decifrar.

— Porque eu não sou o tipo de pessoa com quem você deveria se envolver, Maya. Eu sou complicado, sou difícil, e... eu machuco as pessoas.

Senti um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras. Lando não era fácil, isso era óbvio, mas havia algo por trás daquela fachada rude, algo que ele estava desesperado para esconder.

— Talvez você não seja tão complicado quanto pensa. — Respondi, dando um passo em sua direção.

Ele não disse nada, mas não se afastou. Ficamos ali, perto o suficiente para sentir a presença um do outro, mas sem cruzar a linha que ambos sabíamos que existia.

Eu não sabia onde isso nos levaria, mas naquele momento, decidi que queria descobrir.

𝐁𝐞 𝐄𝐱𝐜𝐢𝐭𝐞𝐝 - 𝐋𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐍𝐨𝐫𝐫𝐢𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora