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— Azul no azul, Senhor Min. — O psicólogo disse enquanto Jimin observava o pequeno avanço de Yoongi em reconhecer a cor azul em cerca de quatro segundos e levar a bola azul até a caixa azul. — Agora rosa no rosa.

Yoongi demorava mais em cores parecidas. Rosa e vermelho sempre o deixavam desnorteado. Geralmente, quando Hoseok estava perto, ele dava algumas dicas, mas ele estava voltando à sua posição de diretor de cobrança e, quando não podia ficar, era Jimin que o acompanhava.

— Rosa. — O psicólogo levou a mão de Yoongi até o rosa. — Que tal dar uma pausa por hoje?

— Não. Não. Eu quero tentar novamente.

As sessões de Yoongi se estendiam por aproximadamente duas horas, não apenas por sua persistência em querer melhorar rapidamente, mas também devido à complexidade da fase em que se encontrava, considerada difícil pelos médicos. Os remédios para a epilepsia, que ele tomava regularmente, diminuíam sua velocidade de raciocínio e ação, tornando os avanços em sua reabilitação neuropsicológica bastante sutis e gradualmente perceptíveis. Era uma jornada que demandava paciência, algo que Yoongi lamentavelmente parecia não possuir,

Era desesperador saber e não conseguir.

— Você não pode se estressar, Yoonie. Imagine se tem outra convulsão? — Jimin cobriu as pernas de Yoongi com o lençol, sempre prestativo em seus dias de ficar ali como acompanhante. — Hoseok já tá vindo trocar para dormir.

— Quando eu irei sair daqui, Jimin?

— Eu não sei. — Yoongi murchou. Estava cansado de agulhadas, exames e terapia. Queria sair dali, queria poder trabalhar e estudar. — Os médicos com certeza estão fazendo de tudo para se livrar de você.

— Hoseok anda ameaçando eles de novo?

— Ele anda oferecendo propina para os médicos. O diretor do hospital não parece muito feliz. — Jimin sorriu. — Pedi sua transferência para o hospital que a tríade é dona, mas lá não tem especialistas em neuro. Então, Hoseok tá gastando dinheiro para resolver, mas logo logo você irá sair, tudo bem?

Yoongi não gostava de falsas promessas, odiava o breu daquele hospital quando desligavam as luzes do seu quarto e Jimin saía para trocar de acompanhante com Hoseok. Era assustador, não queria fechar os olhos de jeito nenhum e começava a lembrar do que passou com sua família, dos dias preso na casa, lembrava de seu irmão. Era assustador estar sozinho.

Mas quando Hoseok chegava devagar, sem ligar a luz, sentia o seu cheiro e conseguia se acalmar, finalmente fechar os olhos e amolecer o corpo que antes estava rígido.  O aroma familiar dele, o toque suave de suas mãos, traziam uma sensação de segurança e proteção que ele não conseguia encontrar. Era como se o peso do mundo se dissipasse, permitindo que ele finalmente se entregasse ao descanso.

— Docinho... — Hoseok tirava o casaco e os sapatos para deitar na cama, sabendo que após longas horas de terapia, Yoongi estava cansado e realmente carente. — Desculpe a demora.

— Eu quero sair daqui, Senhor Jung.

— Você vai. Não vai demorar.

Hoseok alisou as costas de Yoongi usando as pontas dos dedos.

— Não minta pra mim, Senhor Jung.

— Docinho, por que diabos eu mentiria sobre isso? — Hoseok o segurou pelos ombros. — Acha que eu gosto desse maldito hospital?

— Você mentiu para mim quando disse que o que eu tinha era besteira! Eu me tornei um demente! — Yoongi falou alto. — Não consigo pensar. Não consigo colocar uma bola na cor certa. Eu não vou conseguir mais ser ninguém nessa vida. Você já mentiu para mim!

KARMA |  SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora