15 CAPÍTULO.

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* Mal.

  Desperto com o som de um latido alto e animado que, literalmente, sacode a minha alma. E me vejo diante de Cérbero, que ao me ver age como se fosse um enorme filhote agitado.

   Sorrio para ele, enquanto acaricio sua pata enorme, então sinto o seu pêlo nevoento apesar da minha mão etérea...

  "Eu realmente morri."

  - Será que você me daria uma carona até o Palácio de Hades, garoto? - peço.

  Ele late um "sim" e as almas incorporeas à minha volta parecem apavoradas com ele; ouço o som de relinxar às minhas costas e, antes de me virar e ver, sei que são os doisgaranhões negros muito maiores que quais quer puros-sanguesdo mundo mortal.

  Olho para o imortal sobre a biga de ferro estígio, e sei que não precisarei de Cérbero, por hora.

   Hades me estende a sua mão e os seus olhos rubros estão sérios. Nunca vi ele tão formal e tenso. "Eu o decepcionei ao morrer?"

  - Venha, minha garota, vamos pra casa. - diz Hades, num tom suave e gentil.

  Eu acaricio a pata de meu cão em sinal de despedida, escondendo o alívio em meus olhos ao ouvir ele me chamar pelo meu apelido, isso significa que sua irritação é por outra coisa.

  Me afasto do cão e então aceito a sua mão, subo à sua frente na biga e os seus braços me cercam formando uma trava protetora à minha volta, ele irradia poder sobrio.

   Então ele atiça os cavalos, que disparam e eu amo isso: o som dos cascos dos cavalos ao disparar pelo reino com sua velocidade incrível, transformando tudo em um borrão de sombras, a atmosfera cheia de energia densa, as estrelas-ninfas no céu acima do Castelo de Obsidiana.

  Quando paramos diante da escadaria larga do portal, penso que nunca entendi porque o castelo era tão exagerado, não era como se morassem gigantes aqui.

  O Castelo era tão grande que suas torres podiam ser vistas desde Asfodelos. Neste lugar só moravam Hades e, por alguns meses, Perséfone. Visitantes eram raros
e rápidos.

  Todos os humanos imaginavam que Hades morava em um castelo rustico e cercado de lavas...

  Este lugar, porém, era aconchegante e ricamente decorado... Pois, como o Senhor do Submundo, tudo o que era subterrâneo lhe pertencia, então é natural que o rei deste lugar tivesse um castelo inteiro feito com pedras preciosas.

  Hades salta de atrás de mim e eu desço logo depois. Vejo à leste os jardins bem cuidados de Perséfone: há árvores de romã, inúmeras flores noturnas de furta cor e, as minhas favoritas, as raras rosas eram incrivelmente lindas e tinha um hipnotizante tom de branco-incandescente.

   Do outro lado... bem mais ao longe, uma luz branco-puro emanava dos Campos Elisios.

  Uma memórias de minha primeira infância me vem à mente... eu pensava que nunca tinha pisado lá, mas agora, olhando para a vista admirável, lembro dos detalhes de um dia, há muito tempo esquecidas.

~~~
  Eu estava sozinha no jardim, e de repente me senti tão atraída para aquele lugar. Então desobedecendo a ordem de papai, me aproveitei da ausência rara de Meg e invoquei as minhas asas, elas ficaram transparentes.

  Foi muito estranho e desorientador, voar sem ver as plumas, mas ainda assim, com um feitiço de invisibilidade, me ocultei e voei para além dos limites...

  Do alto eu vi, sobre o topo de uma montanha branca como a neve, um palácio brilhante como se fosse de vidro ou diamante... Era hipnotizante de tão magnífico.

A Princesa do Submundo.Onde histórias criam vida. Descubra agora