Capítulo 6

66 11 75
                                    

Estou nervosa. Isso não é comum vindo de mim. Posso ficar ansiosa, irritada ou colérica, mas nervosa nunca. Não fico nervosa porque sempre tenho confiança em tudo que faço e sempre faço tudo muito bem. Menos isso: ir em encontros, me apaixonar e viver um romance. Eu não vivo romances porque essa não sou eu, eu não sou a menina delicada e bonita que busca o amor. Sou brilhante. Eu darei palestras um dia, ganharei prêmios, métodos médicos terão meu nome. Eu sou imparável, sou corajosa e uma força da natureza. Eu sou melhor que qualquer uma na minha idade. E sou sozinha.

Um time de um.

Então, sim, eu estava tremendo, com o coração batendo forte e angustiada de sair com Dante.

Eu provavelmente não sou o tipo de garota namorável.

E não é como se eu quisesse ser.

Bem... agora eu queria ser. Quero ser uma garota bonita, charmosa e namorável. Não, a que rouba coisas da loja para não precisar pedir dinheiro para o pai. Não, a que bebe sem parar. Não, a que tem quase a família inteira morta. E com toda a certeza não a garota que só pensa em cortar e abrir o corpo das pessoas.

Não a Thalia caótica, apenas a Thalia humana.

Eu estava maquiada, provavelmente um pouco mais do que normalmente estou. Com um batom da mesma cor do meu vestido vermelho fogo. E meu cabelo está liso e solto.

Tirei quarenta fotos para enviar para Heloíse, porque estava em dúvida se eu estava adequada. Eu geralmente não tenho dúvidas.

Mas eu também não ficava nervosa, então estava experimentando muitos sentimentos novos para me importar com minha mudança repentina de personalidade.

Toc-toc. — Dou um salto pelo susto.

— Papai? — Digo ofegante. — O que está fazendo aqui?

Ele entrou no meu quarto, está vestido em um terno arrumado e sapatos caros demais para qualquer ocasião.

— Também é minha casa, Thalia, é isso que estou fazendo aqui. Vim me arrumar para ir jantar com o prefeito. Quer ir junto? Na verdade, já estou de saída, só vim te dar tchau.

— Está sem roupas limpas no hospital? — Ironizei.

— Hahahá, Lia. — Revira os olhos.

Um silêncio constrangedor se instaura.

— Não vou poder ir pai, vou sair.

Meu pai faz uma careta triste e me dá um beijo.

— Tudo bem, bom encontro!

Me arrepio. Como ele sabe? Será que Dante contou para ele?

— Você está nervosa, imaginei que essa seria a única situação para ver minha filha, tão bonita, tremendo.

Eu nem sempre tive uma boa relação com meus pais. Não porque eles eram ruins, muito menos porque não eram compreensivos. Eu só me distanciei. Fiquei com raiva do dinheiro, tive nojo do jeito de pensar deles e, depois, cresci, e vi que eu deveria pensar igual a eles.

No sucesso.

No entanto, atualmente, a presença do meu pai sempre traz uma mistura de sentimentos. Por um lado, é reconfortante tê-lo por perto, saber que ele se preocupa comigo. Mas por outro, ele me largou sozinha para lidar com seu próprio luto enquanto lido com o meu.

Nós não somos fisicamente tão parecidos. Meu pai é escocês, muito branco, com pele muito clara e uma estrutura facial angular, com maçãs do rosto pronunciadas e um queixo forte. Seu cabelo é loiro-avermelhado e seus olhos são azuis, tão intensos que parecem brilhar com luz própria. Por outro lado, eu sou negra, de raça mista, com olhos castanhos mel e cabelo cacheado volumoso. Meu nariz é arrebitado e redondo, contrastando com o nariz reto do meu pai. Mas compartilhamos as mesmas maçãs do rosto.

Autópsia de ThaliaOnde histórias criam vida. Descubra agora