𝗔 𝗖𝗮𝗿𝘁𝗮 𝗱𝗲 𝗚𝗮𝗻 𝗙𝗮𝗹𝗹 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗘𝗹𝗶𝘀𝗮𝗯𝗲𝘁𝘁𝗲.

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Prezada Elisabette,

Estou ciente das desavenças que tem enfrentado com Urouge e compreendo a magnitude da mágoa que carrega em relação a esse homem, assim como o peso do fardo que vem carregando desde aquele fatídico dia em que tudo mudou para todos nós, especialmente para você, que na época era apenas uma criança.

Confesso que, por um período considerável, não tive notícias suas após a derrota de Enel. Durante meses, acreditei que não tivesse sobrevivido e, consequentemente, senti-me aliviado ao descobrir que estava no mar azul, junto aos Chapéus de Palha, aparentemente bem e melhor do que nunca. Por intermédio dos pombos correios, Urouge enviou-me alguns jornais com informações sobre você e suas atividades desde sua partida. Surpreende-me constatar que, apesar de todas as adversidades enfrentadas, você permanece sendo aquela menina agitada e travessa que nunca me permitiu se aproximar. Tal fato sempre me entristeceu, sobretudo por ser seu avô e pai de sua mãe. É lamentável que você tenha me visto como uma ameaça e tenha agido de maneira tão arisca nas ocasiões em que tentei me aproximar de você. Dói-me o coração ao lembrar das vezes em que me vi obrigado a lutar contra você.

No entanto, Elisabette, quero que saiba que não a culpo, jamais o faria. Você apenas agiu de acordo com o que acreditava ser correto, influenciada pelas circunstâncias e pelas doutrinas impostas. Percebo que você não teve a oportunidade de enxergar a verdade ou de viver uma vida normal, livre de obrigações e doutrinas. Tudo que você aprendeu foi o que Enel lhe disse ser verdadeiro, sem ninguém para contestar ou orientar de maneira diferente. Portanto, reitero que não a culpo por absolutamente nada. Você estava sozinha em seu caminho, e não consigo deixar de lamentar o fato de ter permitido que Freyja a deixasse viver o inferno que viveu, ou que Enel a tenha criado da maneira como o fez, alimentando sua mente com falsas promessas, crenças distorcidas e tornando-a totalmente submissa e à mercê dele.

Desconheço seus pensamentos mais profundos, suas percepções sobre si mesma ou sobre os pecados de seus pais, bem como suas emoções ao presenciar a derrota de Enel pelas mãos do garoto com o chapéu de palha. No entanto, acredito que você tenha sido forte o suficiente para enfrentar tal situação e permanecer firme, como tem feito até o momento em que esta carta chegou às suas mãos.

Compreendo que você possa estar confusa e assustada, e não a culparei caso sinta raiva por ter sido privada dessas informações por tanto tempo, ou por eu nunca ter agido em relação à minha filha e seu pai. Acredite, querida, estou disposto a entender e perdoar qualquer revolta que possa surgir em seu coração. Perdoarei sua raiva, sua frustração e tudo mais que esteja sentindo. Jamais se sinta culpada pelos pecados de seus pais; não permita que suas ações definam quem você é ou no que acredita. Seja livre para viver sua vida e para abraçar suas próprias convicções.

Saiba, Elisabette, que se um dia desejar retornar ao lugar que lhe pertence, ao berço do qual foi privada, à paz que lhe foi negada, você será sempre bem-vinda em Skypiea. Não permita que seus medos ou erros passados a assombrem. Jamais acredite que deva carregar o fardo dos pecados de seu pai, pois nunca é justo culpar os filhos pelos erros dos pais.

Com todo o carinho e compreensão,

Gan Fall.

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