Você me encantou demais

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O dia estava sendo mais corrido do que eu imaginei. Os jogadores, de um em um, vinham até a minha sala para que eu pudesse fazer os atendimentos pré-jogo. Aurora estava cuidando do time reserva e também estava tão ocupada quanto eu.

Mas não era nada difícil, nada com que eu já não estivesse acostumada a fazer, afinal, aquele era o meu trabalho. Atendi cada um dos jogadores e dei o meu melhor em cada atendimento. 

Mas ainda faltava um. Joaquín Piquerez com certeza deu alguma desculpa para ser o último a ser atendido. O vejo abrir a porta e um brilho aparecer em seu olhar quando ele fecha a porta e me encara.

– Já estava quase fazendo um motim contra os jogadores. Ficaram tempo demais com a minha doutora nessa sala. – ele diz em um tom de brincadeira quando se senta à minha frente.

– Deixa de graça. - reviro os olhos, mas sem esconder um sorriso. - Estou atendendo o time sozinha, se você soubesse o trabalho que eu estou tendo. – suspiro e abro a ficha dele no notebook. – Mas vamos começar, você ainda tem mais coisas a fazer. Alguma queixa nos últimos dias? – o encaro.

– A minha única queixa é que a minha médica favorita já atendeu todo o time, menos eu. – pisca em minha direção.

– Estou falando sério, Joaco. – o encaro com a cabeça um pouco de lado.

– Desculpa. – ele segura um riso. – Estou bem, sem queixas de dores.

– Está sentindo algum incômodo? – pergunto e ele nega com a cabeça. – Ótimo. – sorrio. – Vou verificar algumas coisas em você, pode se sentar ali na maca, por favor. – aponto para o local.

Pego meu estetoscópio, o medidor de pressão e mais alguns itens que eu iria usar durante o exame. Joaco solta algumas piadinhas durante todo o atendimento e eu apenas ria. 

– Sabe, ouvi dizer que você estava tendo um caso com um dos jogadores. É verdade? – Joaco me pergunta, completamente cínico, enquanto eu checava seus reflexos.

– Pois é, e eu ainda havia dito para ele não misturar as coisas aqui no CT, acredita? – o encaro com uma faceta irônica.

– Vai ver ele só está animado com tudo o que está acontecendo. – ele deu de ombros e eu voltei para a minha mesa.

– Está em ótima forma, Piquerez. – faço algumas anotações na sua ficha. – Pode participar do jogo sem nenhuma preocupação. 

– Que bom, tenho que dar minha vida nesse jogo. – ele se levanta da maca e vem até a minha mesa. – Tem uma pessoa que eu quero impressionar.

– Desde que você não precise de atendimentos médicos, já está de bom tamanho. – sorrio em sua direção e o entrego o papel. – Entregue isso ao seu preparador físico quando chegar na academia, tem todos os seus dados aqui.

– Obrigado, linda. – ele pega o papel da minha mão e deixa um beijo rápido nos meus lábios.

– Joaquín... – o repreendo, ele apenas sorri.

– Desculpe, não consegui conter. – diz antes de abrir a porta. – Te vejo amanhã?

– Estarei aqui. – sorrio.

– Beijo, preciso fazer o último treino do dia. Nos vemos depois. – um sorriso toma conta de seus lábios quando ele sai da sala.

Enquanto eu ficava sorrindo igual a uma boba na sala, precisei terminar de atualizar todos as fichas no sistema antes de ir embora. Alessandra havia me mandado uma mensagem mais cedo, dizendo que já estava em casa.

Finalizo tudo e deixo a minha mesa organizada para o dia seguinte. Desligo o computador e finalmente consigo ir embora. Eu precisava tomar um banho e, depois, deitar na minha cama e procrastinar pelas próximas horas.

Pego minha bolsa, a chave do carro e sigo até o estacionamento. O sol já começava a se pôr no horizonte e eu já imaginava o tamanho do trânsito que eu iria pegar até chegar em casa.


Joaquín Piquerez

Depois de sair do consultório, seguia rapidamente em direção à academia. Era o último treino do dia antes de, finalmente, poder descansar em casa. A quarta-feira prometia ser uma batalha épica contra o Corinthians, e eu precisava estar em perfeitas condições. Ao chegar, entreguei uma cópia do meu relatório ao preparador físico, que analisou com um olhar crítico tudo o que estava escrito naquele papel.

– Joaquín, precisamos garantir que você esteja afiado para o jogo. Faça o aquecimento na esteira com Veiga e Gustavo. – instruiu ele, indicando os dois em um canto afastado da sala.

– E aí, cara. Como foi lá com a Mariana? – Veiga pergunta quando eu me junto a ele e Gustavo na esteira.

– Tudo certo, o pai vai jogar. – coloco uma toalha de rosto enrolada no meu pescoço e começo a correr logo em seguida.

– Sabe, vocês dois estavam bem próximos lá na sala. Tem alguma coisa rolando entre vocês? – Gustavo, curiosamente, pergunta.

– Nada demais. Apenas fui levar o almoço que a Alessandra me pediu para ela. – tento desconversar, ainda sem encará-lo.

– Não me enrola, Joaco. Se vocês não se beijaram, você está começando a se interessar por batons nude. – ele ri. – Eu percebi um pouco do batom dela na sua boca quando você saiu.

– Você tá vendo coisa onde não tem, cara. – rio, um pouco envergonhado.

– Assume logo cara, isso não vai sair daqui. – Gustavo me garante.

– Gustavo é de confiança, Pique. Conta logo pra ele. – Veiga diz, tranquilo.

– Você já sabia de tudo? – ele pergunta indignado.

– Claro. Minha namorada é melhor amiga da mina dele, era mais que certo eu saber. – Veiga dá de ombros.

– Você é um falso, sabia? – seguro uma risada enquanto Gómez me encara.

Suspiro, enquanto tento controlar a minha respiração durante a corrida. Gustavo era realmente uma pessoa confiável, mas eu ainda tinha esperanças de guardar isso apenas entre eu, Mariana, Veiga e Alessandra. 

– Tudo bem, estamos sim. Não é nada sério ainda, estamos apenas nos conhecendo um pouco melhor. Preciso que você guarde esse segredo, pois eu prometi para ela que isso seria nosso segredo. – o encaro.

– Sabia! Pode ficar tranquilo, cara. – Gustavo me acalma. – Não sou fofoqueiro.

– Valeu, irmão. – agradeço.

– Vocês fazem um belo casal, Mariana é gente boa demais. Se você magoar ela, vai se ver comigo. – aponta para mim, em um tom de ameaça e eu reviro os olhos. – Espero que dê tudo certo entre vocês dois.

– Ele fica todo boiola quando tá perto dela. Cheio de beijinho e carícias. – Veiga começa a me zoar.

– Falou o cara sem emoções quando está com a Alessandra. – o encaro.

– Não estou negando. Estou com pose de quem tá amando, cara. – diz com um sorriso no rosto.

– Mais algumas semanas e estaremos fazendo programas de casal juntos. – Gustavo ri. – Lorena vai amar saber de vocês dois.

– Mas que mania de fofoca, hein. – franzo o cenho.

– Ela é a minha mulher cara, fofoca é a alma do nosso relacionamento. – ele diz antes de tomar um gole de água.

No fundo, eu sabia que Lorena era tão confiável quanto ele. Não era à toa que eu sempre me dei muito bem com eles dois. Gustavo e Veiga eram meus melhores amigos aqui e nada mais justo que compartilhar essas coisas com eles.

O treino não chegou a ser tão intenso, já que passamos a maior parte do dia em campo, treinando jogadas e passes. Fomos liberados uma hora depois, mas já sabendo que o dia seguinte seria foco total para o jogo.


Ojitos Lindos | Joaquín PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora