03. A queda da Casa

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Era o final de 10.191, e o dia do aniversário de vinte anos de Aylla, quando a notíca da extinção da família Atreides em Arrakis chegou. Depois de passar quase dois anos viajando por todo o cosmos destruindo nave atrás de nave Ginaz repleta de traficantes de escravos, passou a ser chamada de Sombra Prateada, pelos trajes fluidos e cheios de lâminas que cobriam seu rosto. Algumas vezes seu pai enviara Mestres para convencê-la a voltar para casa, mas nenhum retornou com vida.

A herdeira finalmente havia dizimado cada uma das espaçonaves que exibiam a insígnia de sua família para cometer atrocidades. Pelo caminho, conseguiu libertar centenas de mulheres e crianças, fornecendo meios de voltarem para suas casas, ou fugir para bem longe. Também encontrou homens que serviam à Casa Harkonnen, e fez questão de não poupar nenhum.

Havia chegado no último dos registros de seu pai, o que significava que logo teria de tomar outro rumo. Era um satélite que orbitava um planeta já banido do sistema, perto de Caladan. Entrar na zona de pouso não fora tão difícil quanto permanecer escondida. Aquele lugar funcionava como um tipo de mercado do crime, onde o pior das piores espécies frequentava. Trajava o manto negro de sempre, seu rosto coberto pelo véu feito de pequenas correntes prateadas e o capuz muito maior que seu tamanho. Procurava por homens vestindo o brasão de Ginaz, e seguiu o primeiro que encontrou. Andava pelas tendas fedorentas com passos completamente silenciosos, em contraste com as negociações feitas aos berros.

Passava por uma barraca que vendia peles de animais sagrados para muitas culturas, quando sobreouviu um senhor idoso dizer: "A Casa Atreides caiu". Aylla estagnou no lugar, digerindo o que aquilo significava.

"Ouvi dizer que o Barão Harkonnen conduziu um ataque com o suporte do Imperador" uma mulher com a cabeça raspada respondeu, parecendo escolher entre as peles recém limpas. O idoso riu.

"É claro que sim, o Imperador nunca vai permitir que uma Casa fique mais influente que ele" o velho parecia entender dos assuntos políticos, mais que o normal para esse tipo de comerciante. Voltando a respirar, a Mestre Ginaz retomou seus passos, só então percebendo que perdera de vista o homem gorducho que estava perseguindo.

Xingando-se em pensamento, seguiu para a construção monstruosa que se extendia debaixo do chão, com um abismo mortal no centro. Atravessou salões lotados, jaulas e arenas de luta. Cruzou corredores sem fim conforme descia cada vez mais, sabendo que nos últimos andares aconteciam as transações mais caras. No vigésimo sexto andar abaixo do solo, já não tinha mais tanta gente, e os caminhos se tornaram mais estreitos, menos iluminados. Sentiu alguém se aproximar, e se escondeu nas sombras das colunas de pedra cinzenta.

Um grupo de três homens carecas passou por ela em absoluto silêncio, fazendo-a engolir em seco. Esperou dois minutos antes de seguir na mesma direção, entrando num novo labirinto de corredores. Seus instintos se revelaram corretos quando alcançou uma porta de ferro enferrujado, onde os traficantes de Harkonnen se encontravam com o líder das operações por Ginaz.

"Não há o que ser discutido, não é porque o planeta decaiu que deixaremos os negócios de lado" um homem barbudo disse antes de levar a mão à espada na cintura. Ao lado dele, o gorducho que Aylla estava seguindo uma hora antes. Ela tentou assimilar as palavras.

"O único motivo que levou o Barão a aceitar isso, foi a promessa de que Ginaz ficaria de fora dos problemas com Atreides" o careca respondeu com um sorriso demoníaco nos lábios.

"E o Duque não interveio" o barbudo respondeu, levantando o queixo.

"Seu Duque está morto, então a partir de agora nós assumimos" disse, e o servo de Ginaz imediatamente sufocou sob o efeito de algum veneno inserido nos copos dispostos na mesa. Os outros dois soldados que o acompanhavam nada fizeram, revelando que haviam traído seu superior. "Nada mudou, continuem fazendo seu trabalho sob o honroso nome de Ginaz" debochou antes de jogar um saco de moedas de ouro na mesa. Era hora de agir.

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