HARKONNEN

07. Desejo proibido

Como todos os dias, Aýlla despertou antes que o sol negro nascesse, vestiu a roupa de treino e prendeu os cabelos longos. Calçou os sapatos no mesmo instante que ouviu a porta do quarto de Feyd-Rautha se abrir, o som da pedra se arrastando ecoando pelo corredor vazio. Esperou alguns minutos para sair, querendo evitar o sobrinho do barão. Seria a primeira vez que ele participaria do treinamento, e ela falhava em tentar entender o motivo do súbito interesse. Ele já havia deixado claro que, se dependesse dele, ela já estaria morta.

A Ginaz sequer pensou em fugir nos dois meses que passaram. Mantinha a cabeça ocupada e o corpo cansado quase o tempo todo e, quando não conseguia dormir pela insônia, ela voltava ao centro de treinamento. Sua porta se abriu assim que ela se aproximou, e nem a escuridão da antecâmara era suficiente para ocultar a pele reluzente do Harkonnen. Ele estava apoiado em uma das paredes, os braços cruzados sobre o peito, encarando os próprios pés. Parecia perdido em sua própria mente quando levantou os olhos para a duquesa.

"O treino não vai começar por pelo menos três horas" ela constatou, confusa, diminuindo o ritmo dos passos.

"Eu sei, mas sempre ouço você sair nesse horário" ele disse, indiferente, ao se colocar ao lado dela para caminharem juntos. A mais jovem não respondeu. Andaram em silêncio até que o corredor extenso se dividisse, e ela seguiu em direção à cozinha. "O centro de treinamento é para cá" ele apontou, parando no lugar.

"Eu preciso de café da manhã" Aýlla respondeu.

"A sala de jantar também é por aqui" o rapaz já impaciente replicou.

"Eu não como aquilo nunca mais" fez cara de nojo, voltando a caminhar. Dois segundos depois, os passos duros de Feyd voltaram a soar.

Era estranho ter ele em sua sombra tão cedo, mas a Ginaz fez o possível para não demonstrar seu incômodo. Desceu os três lances de escada e entrou no corredor estreito reservado apenas para a criadagem. Uma parte dela queria olhar para trás e ver a expressão do troglodita mimado que a seguia. A porta da cozinha era de madeira, e rangeu quando se abriu.

"Bom dia" ela disse para a senhora que organizava os pratos que seriam levados para os nobres que visitavam a fortaleza. Já acostumada com a voz da duquesa, a mulher sorriu largamente antes de levantar o rosto, mas a voz ficou presa na garganta assim que viu o Harkonnen.

"Milorde, peço desculpas" disse se curvando numa reverência exagerada. Aýlla levantou uma sobrancelha antes de olhar para o rapaz, que encarava a criada com superioridade.

Com um suspiro pesado, ela atravessou o espaço até a despensa, onde um banquete de frutas frescas, suculentas e doces, aguardava. Com gestos decididos, selecionou um cacho de uvas vermelhas, cujas peles brilhavam à luz artificial, e as colocou sobre o balcão de mármore. Vasculhou um saco de linho no armário e retirou duas fatias de pão rústico. Em seguida, serviu um suco esverdeado de uma ânfora de cerâmica em taças de prata cintilantes. Ao terminar, notou Feyd olhando com desdém para a caixa de frutas. Ignorando sua expressão, Aýlla usou uma faca para esmagar três uvas sobre o pão, mordendo-o satisfeita. Só então dirigiu seu olhar ao rapaz, que contemplava sua taça intacta. "Não vai experimentar?" perguntou, detestando ter que falar algo para interromper o silêncio estranho.

"Como sei que você não envenenou isso?" ele questionou com um tom grave, e ela soltou uma risada abafada. Tomou a taça dele e bebeu um gole. "Isso não significa nada, você é uma Bene Gesserit," ele argumentou, observando a garganta dela se mover ao engolir.

"Apenas beba logo" ela ordenou, estendendo o braço em sua direção. Com hesitação, Feyd segurou a taça, girando-a em suas mãos antes de beber exatamente onde a boca dela havia tocado. A Ginaz, antes relaxada, retesou a coluna, mastigando outro pedaço de pão sem desviar os olhos do movimento. Percebendo seu desconforto, Feyd-Rautha exibiu um sorriso malicioso, ainda com a taça entre os lábios.