09. Linha de frente

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O planeta inteiro estava tomado por bárbaros, saqueadores e piratas. Cidadãos inocentes se rendiam e sofriam as consequências da queda de Atreides. Feyd-Rautha liderou a tropa da Casa Harkonnen e os soldados remanescentes que serviam os antigos governantes de Caladan. Não fora um trabalho difícil. A nave-mãe havia se estabilizado na órbita do planeta azul, e os guerreiros usaram as milhares de naves de guerra para atacar. Mapas foram estudados, planos foram traçados e ordens foram dadas.

Aýlla lutou ao lado de Feyd, brutalizando os homens que haviam dominado a fortaleza. As lâminas cortavam numa velocidade inpressionante, corpos se amontoando por onde quer que a dupla passasse. Levou menos de duas horas para libertar a capital, e com mais duas horas todos os sobreviventes haviam fugido. Havia sido quase covardia atacar daquela maneira, num início de manhã ensolarado e silencioso da cidade banhada por ondas gentis.

Aýlla estava encharcada pelo sangue dos inimigos, os olhos furiosos ainda em êxtase pela batalha. Manteve-se ao lado de Feyd-Rautha o tempo todo enquanto recebiam atualizações do estado em que o planeta se encontrava. Ele não lhe dirigiu qualquer palavra desde a reunião na sala de comando, quando determinou que atacariam a antiga Casa Atreides de dentro do castelo para fora. Era o jeito Harkonnen de lutar, supôs Aýlla. O sol brilhava forte no meio do céu quando a nave do conde Hasimir Fenring chegou. Ele se instalou, apresentou-se aos generais locais e trouxe um exército consigo. Sua esposa, Margot Fenring, era muitos anos mais jovem, parecendo pouco mais velha que a própria Ginaz. Era, também, uma poderosa Bene Gesserit.

Tudo aconteceu tão rápido que a Mestre ainda sentia o coração pulsar nos ouvidos quando terminou de esfregar as manchas vermelhas de sua roupa. Havia sido colocada num quarto com vista para o oceano, para que pudesse se recompor, e deveria esperar até ser chamada para unir-se aos outros na sala do trono. Pendurou os couros de batalha pelo cômodo e jogou-se na cama pequena apenas com as roupas de baixo. Quando fechava os olhos, via cenas da luta, e não pôde evitar pensar sobre como ela e o Harkonnen entraram em perfeita sincronia. Sorriam um para o outro quando os golpes se encontravam numa mesma vítima, e corriam lado a lado pelos corredores amplos da fortaleza. Era como se sempre tivessem feito aquilo juntos.

Aýlla sabia que estava perdendo o foco, que estava à vontade demais na presença do rapaz, por mais insolente que ele fosse. Tinha certeza que, em outras circunstâncias, teriam sido bons amigos. Talvez mais que isso. Eram parecidos, afinal. Sem tentar, pegou no sono. Acordou assustada algumas horas mais tarde, estranhando o fato de ninguém tê-la procurado. A porta trancada a impedia de verificar o corredor. Murmurando xingamentos, vestiu-se e foi até a janela imensa. Calculou, decidindo que não seria uma queda mortal, e pulou.

Rolou no gramado alto, estranhando não ver qualquer sinal de guardas. Usou todos os sentidos aguçados de Bene Gesserit para detectar qualquer presença. Ninguém. Relaxando os ombros e respirando fundo, olhou para o sol se pondo no mar, os penhascos verdes vivos e a praia calma. Era quase como se fosse uma menina outra vez, conhecendo mundos ao lado de seu pai. Lembrou-se de quando sua mãe desviou do controle da Reverenda Madre para ir até Caladan, visitar Jessica Atreides. Foi a única vez que ela saiu do planeta Ginaz desde que a filha nasceu. Parecia ter sido em outra vida.

A fortaleza era uma presença imponente que contrastava com a natureza calma da paisagem. Caminhou pesadamente até o pátio, imediatamente encontrando o grupo de soldados que havia passado os últimos meses treinando. Eles a respeitavam, mesmo que fosse quase uma prisioneira.

"O que está acontecendo?" perguntou impaciente.

"Alguma reunião diplomática, os Fenring estão sendo nomeados guardiões de Caladan" um deles respondeu enquanto afiava a lâmina de sua espada. Aýlla olhou em direção às portas duplas como se pudesse enxergar através da pedra. Sem dizer mais nada, cruzou o jardim e desceu as escadas que levavam ao pátio de pouso. Caminhou confiante e sem retribuir os olhares curiosos dos soldados espalhados pelo hangar. Foi até a nave mais próxima da saída, ligou os motores e decolou. Manteve a altitude baixa enquanto sobrevoava as águas escuras, o céu banhado pela luz alaranjada do pôr do sol. A falsa sensação de liberdade durou apenas alguns minutos.

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⏰ Última atualização: Apr 20 ⏰

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